"Nunca presenciei um fato tão horrível", diz conselheira tutelar do caso de menino espancado

Por Santa Portal em 06/10/2022 às 06:00

Reprodução/Arquivo Pessoal
Reprodução/Arquivo Pessoal

A conselheira tutelar Valdelice Alves foi a responsável por atender a ocorrência envolvendo o menino de 4 anos espancado por sua própria mãe e pelo padrasto, em São Vicente. Em entrevista exclusiva, a profissional relembrou a luta da criança para sobreviver.

“Na verdade, o primeiro impacto que eu tive, quando cheguei no hospital foi ver a criança passando por mim envolta em uma manta térmica. Segundo a médica, a criança estava com hipotermia. Naquele momento, ele estava sem reações. Então foi um corre-corre com a equipe médica, foi muito difícil porque naquele momento a criança estava desacordada e os médicos estavam lutando para reanimá-lo. Depois da equipe médica, conseguimos ouvir o choro dele. Ouvir o choro dele para mim foi como se ele tivesse voltado a viver, tivesse nascido de novo. Foi muito difícil, isso mexe muito comigo ainda”, contou Valdelice, em entrevista ao Santa Portal.

“É uma criança muito indefesa. Ele estava muito machucado. É muito difícil ver uma situação dessas. Em seis anos de atuação como conselheira eu nunca presenciei um fato tão horrível como esse”, afirmou a conselheira tutelar.

Valdelice contou sobre o emocionante reencontro entre pai e filho no hospital. “Quando o pai chegou no hospital e entrou na sala onde estava o menino, as primeiras palavras dele foram: ‘papai, me leva pra casa’, ‘papai, fica aqui do meu lado, deita aqui na cama comigo’. Observamos o vínculo que ele tinha com esse pai. Ali mesmo aplicamos um termo de responsabilidade para esse pai. Depois foi feita a transferência da criança para a Santa Casa de Santos”, disse.

O menino agredido tem quatro irmãos, sendo que dois deles também estavam na casa no momento do crime e foram encontrados com hematomas, piolhos e sarna. Todos eles, neste momento, estão sob guarda do Conselho Tutelar.

“Fizemos o Boletim de Ocorrência e decidimos levar essas crianças para o acolhimento, como medida protetiva. Duas delas foram encontradas com hematomas. Uma já foi desacolhida porque é filha do pai da vítima e está com ele. As outras duas estão na assistência social para que sejam feitas as avaliações e todas as questões pertinentes ao caso, para que os direitos dessas crianças sejam garantidos”, explicou Valdelice.

O Ministério Público já foi acionado e, até o momento, não se manifestou a respeito. A investigação segue sob segredo de Justiça. O que se sabe até o momento é que os familiares começaram a ser ouvidos pela polícia e que, possivelmente, a ocorrência de lesão corporal se transforme em uma tentativa de homicídio.

O menino segue internado em um quarto na Santa Casa de Santos, se recuperando dos ferimentos causados pelo espancamento, que o deixou com oito costelas e um dos braços fraturados.

Padrasto foi morto

O homem acusado de espancar o enteado de apenas 4 anos, causando fratura em oito costelas e em um dos braços do menino, foi assassinado. Ex-presidiário, que cumpria pena por roubo em regime aberto, Julian do Nascimento, de 32 anos, foi morto com tiros no olho direito, nas mãos e no tórax.

O corpo de Julian foi achado às margens do km 285+300 metros da Rodovia Padre Manuel da Nóbrega, no Parque das Bandeiras, Área Continental de São Vicente, na noite da última quinta-feira (29), mesma data em que criança deu entrada no hospital em estado grave. A violência contra o garoto aconteceu na residência do acusado, na Favela México 70, Vila Margarida.

Desde então, é ignorado o paradeiro de Júlia Cristina Pereira, de 24 anos, mãe do menino e suspeita de participação na violência contra o próprio filho. Em relação ao assassinato de Julian, inicialmente, desconfiava-se que o corpo encontrado às margens da rodovia fosse dele em uma razão da tatuagem de uma coroa no pescoço com a inscrição “Jair e Neide”. Os nomes são dos pais do padrasto agressor.

Para se ter certeza absoluta quanto à identidade da vítima, foram coletadas as suas impressões digitais e o Sistema de Legitimação à Distância (Lead) confirmou que o corpo é mesmo de Julian. Esta informação foi prestada ao Santa Portal nesta quarta-feira (5) pelo delegado Marco Antônio do Couto Perez, titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), da Seccional de Praia Grande.


Foto: Reprodução

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