20/12/2025

Qualidade das praias brasileiras cai ao pior nível já registrado e só 30% são próprias para banho

Por Aléxia Sousa, João Pedro Pitombo, Marcelo Toledo, João Pedro Feza, Vitor Antonio, Catarina Scortecci, Carlos Villela, Artur Búrigo e José Matheus Santos/Folhapress em 20/12/2025 às 16:20

Divulgação/Prefeitura de São Vicente
Divulgação/Prefeitura de São Vicente

Ao todo, 253 praias estiveram próprias para banho em todas as medições realizadas de novembro de 2024 até outubro de 2025, o equivalente a 30,2% do total. Outras 288 praias foram consideradas regulares, 143 ruins e 136 péssimas.

O percentual de praias boas é o menor da série histórica iniciada em 2016, que contempla nove dos últimos dez anos -a exceção é 2020, quando não houve medições em meio à pandemia.

Em 2016, quando os dados de balneabilidade começaram a ser compilados pela Folha, 370 praias foram classificadas como boas, ou seja, tiveram apenas classificações próprias durante o ano.

Em São Paulo, o total de praias próprias para banho o ano todo caiu de 62 para 47, cenário que a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) atribui ao volume de chuvas no decorrer deste ano.

Já as praias ruins subiram de 33 para 43 no período de novembro de 2024 a outubro deste ano, enquanto as praias regulares passaram de 64 para 70. As péssimas se mantiveram em 16 por ano.

Na Baixada Santista, segundo a Cetesb, os meses de janeiro, fevereiro e abril -quando houve picos de praias tidas como impróprias- registraram média mensal de 200 milímetros de chuva.

“É bastante para um mês. Em 2024, a gente teve durante dez meses, exceto janeiro e dezembro, menos chuvas que a média mensal. Quase o ano inteiro”, disse a gerente do setor de águas litorâneas da Cetesb, Cláudia Lamparelli.

Entenda a classificação dos níveis de balneabilidade

  • Bom praia é própria para banho em 100% das medições
  • Regular imprópria para banho em até 25%das medições
  • Ruim imprópria entre 25% e 50% das medições
  • Péssimo imprópria em mais de 50% das medições

O cenário em algumas praias paulistas é crônico, como Perequê, em Guarujá, péssima em todas as medições da série histórica.

O biólogo, pesquisador e pescador Jorge Luís dos Santos, 55, mora no bairro desde que nasceu e diz que o maior desafio para balneabilidade é o combate aos resíduos que chegam à praia pelo rio do Peixe e outros corpos d’água menores.

“Temos uma dificuldade histórica de ordenamento urbano. Isso inclui crescimento desordenado e falta de saneamento básico adequado”, afirma.

No Rio de Janeiro, a balneabilidade segue em nível crítico, com 66 praias próprias para banho ao ano inteiro e 200 regulares, ruins ou péssimas. Em relação ao ano anterior, 47 trechos apresentaram piora.

Na capital, a praia de Botafogo permanece como um dos principais símbolos desse cenário. Os dois pontos monitorados tiveram 67,1% das amostras consideradas impróprias, mantendo o trecho como a pior praia da zona sul, apesar de liberações pontuais para banho em 2025.

Mesmo assim, em dias de calor, parte dos frequentadores ainda entra no mar. “A gente sabe que não é uma água boa, mas com esse calor fica impossível ficar só olhando”, afirma Márcia Fernandes, 38, moradora do morro da Babilônia, comunidade vizinha à praia. “E aqui o mar é calmo, dá para as crianças brincarem”, disse, sentada dentro d’água com a filha e sobrinhas pequenas.

Outros preferem manter distância. “É desanimador, dá uma sensação de abandono. Eu me recuso a entrar, mesmo quando dizem que está liberada”, afirmou Carlos Eduardo Nogueira, 52, que caminhava pela areia.

O contraste se acentua em dezembro, com a inauguração da árvore de Natal flutuante na enseada, que atrai moradores e turistas. “Dá um choque saber que essa água toda, num lugar tão lindo, não é própria para banho”, disse o turista Juan Martínez, 41, argentino. “É estranho criar uma atração onde o problema básico ainda não foi resolvido.”

Já estados no Nordeste como Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte, registraram um aumento do número de praias consideradas boas.

Dentre as 88 praias da Bahia onde houve medição, 23 foram consideradas boas. O número é quase o dobro do registrado no ano passado. Em 2025, entraram no rol das praias próprias em todas as medições locais como Ipitanga e Guarajuba, no litoral norte do estado, as praias de Salinas da Margarida, na Baía de Todos os Santos, e praias como Coroa e Barra de Tairu, na ilha de Itaparica.

Não houve medições de balneabilidade nas praias do Sul e Extremo-sul, deixando fora do monitoramento destinos turísticos badalados como Porto Seguro, Morro de São Paulo, Ilhéus e Itacaré. Dentre as demais praias, não houve medição entre os meses de junho e outubro por problemas contratuais.

Salvador segue concentrando a maior proporção de praias impróprias do estado. Apenas três foram consideradas boas no período: Ponta de Nossa Senhora, na ilha dos Frades, e os dois pontos de monitoramento da praia do Flamengo, na saída da cidade ao norte. Outras 9 praias foram consideradas regulares, 11 ruins e 14 péssimas.

A Embasa, empresa de água e saneamento da Bahia, destacou o percentual de 88,5% de cobertura de esgotamento da capital baiana e argumentou que balneabilidade das praias também tem relação com a água suja e o lixo que chegam pela rede de drenagem pluvial, de responsabilidade das prefeituras.

A classificação das praias sobre a balneabilidade segue a resolução 274 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que as qualifica como próprias e impróprias baseada nas densidades de bactérias fecais, medidos em amostras coletadas ao longo de cinco semanas seguidas.

Conforme a Cetesb, a legislação estabelece três indicadores para avaliar a poluição fecal: coliformes termotolerantes (antes chamados de coliformes fecais), Escherichia coli e enterococos.

Foram apurados dados das praias de 14 estados no período de 12 meses entre novembro de 2024 e outubro de 2025. As praias do Amapá, Piauí e Pará ficaram de fora porque não medem a qualidade da água.

Para a avaliação anual, foi adotado o método da Cetesb, que classifica as praias a partir dos testes semanais. Nos dois extremos estão as boas, próprias em todas as medições, e as péssimas, impróprias em mais da metade das medições.

Nadar em áreas impróprias pode causar problemas de saúde, sobretudo doenças gastrointestinais ou de pele, como micoses. Outros focos de contaminação, como a presença de lixo e óleo no mar, não são considerados nesta análise.

O lançamento de água sem tratamento ao mar também afeta o ecossistema local, podendo contaminar organismos como ostras, sururus e mariscos, que fazem parte do cardápio de comunidades praieiras. O aumento da turbidez da água pode ser um problema para organismos sensíveis, como os corais.

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