'Mufasa' faz avanço estético, mas irrita como prelúdio de 'O Rei Leão'
Por Folha Press em 18/12/2024 às 10:20
A Disney aprendeu a importância das cores nos cinco anos que separam o live-action “O Rei Leão” de sua continuação, o novo “Mufasa”. A sequência repete o visual hiper-realista do primeiro capítulo, é verdade, mas avança com uma estética mais extravagante que a sobriedade anterior.
Para isso, “Mufasa: O Rei Leão”, que estreia nesta quinta-feira, só precisa de um desvio mínimo da trama para abandonar o tal realismo, se é que esse termo faz sentido para produções feitas com computação gráfica. Já no começo, uma cena musical do jovem Mufasa com seus pais faz brotar flores e borboletas fosforescentes da terra seca, colorindo um ambiente arruinado pela escassez de chuvas.
Noutro momento, ainda no início, o leão protagonista acorda submerso no vazio de um riacho, e o filme aproveita para inundar a tela com tons de roxo.
Esse arroubo colorido ilustra a cena em que os pais de Mufasa contam a ele sobre uma lendária terra fértil que buscam encontrar. É ali que se desenrola uma aventura do protagonista, já adulto, com Taka, seu irmão adotivo.
Cenas que explodem em cores ajudam “Mufasa” a achar propósito no que parecia uma tarefa difícil. O filme anterior, de 2019, dirigido por Jon Favreau, se limitou a imitar a animação clássica de 1994, sem ir além de leões digitais. Os personagens até eram bonitos, mas seus olhos sem vida mostravam o vazio do projeto.
O novo longa apela para o espetáculo. Substituto de Favreau, o diretor Barry Jenkins troca os planos aéreos do original, mais contemplativos, pelos chamados “travellings”, em que a câmera se desloca em movimento rápidos, como rodopios.
O filme ainda abusa dos planos fechados, e destaca as reações faciais dos seus personagens, mais caricatas se comparadas às faces engessadas, chamadas por alguns de realistas, do longa antecessor.
O resultado beira o instável, até porque ver um leão sorrindo é uma cena para lá de insólita. Mas essas resoluções ajudam o filme a estabelecer os personagens e a vender as cenas musicais, já que a câmera passeia como um dançarino.
Mas a história mesmo não convence, e parece desinteressada em ser qualquer outra coisa além de somente um prelúdio de “O Rei Leão”.
A começar pela forma como é narrada a jornada de Mufasa, com o mandril Rakifi relembrando eventos antigos a Kiara, a futura neta do grande leão.
O problema é que aos poucos essa ideia se perde no bate e volta entre o passado e o presente. Timão e Pumba, personagens queridos do público, voltam na sequência para comentar a narração de Rafiki, em uma intermediação que só atrapalha o suspense da história principal. Os momentos mais tensos também ficam pelo caminho -a certa altura, o longa corta uma cena de fuga e não explica como ela se resolveu.
Além disso, lá pela metade, “Mufasa” se rende a explicações sobre a origem de elementos da mitologia, que depois só se mostram uma proposta ridícula. A ideia inclui detalhes tão estapafúrdios como a cicatriz de Scar, vilão emblemático da animação original, e a criação da Pedra do Rei -morada final de Mufasa. São cenas expositivas e desnecessárias.
A sensação é a de que Barry Jenkins, do vencedor do Oscar “Moonlight”, luta contra o maquinário da Disney. Tudo que o diretor e as equipes do filme propõem ao prelúdio se perde na rotina de presentes aos fãs.
Quando Mufasa enfim assume seu lugar como um rei leão, fica difícil dizer que havia algo valioso naquela história.
Mufasa: O Rei Leão
Avaliação Regular
Quando Estreia nos cinemas nesta quinta-feira (19)
Classificação Livre
Produção Estados Unidos, 2024
Direção Barry Jenkins