Policial suspeito de elo com PCC movimenta R$ 13 milhões com imóveis em Praia Grande

Por Rogério Pagnan/Folhapress e Rodrigo Cirilo/Santa Portal em 18/12/2024 às 10:13

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Rogério de Almeida Felício, agente civil de São Paulo considerado foragido pela Operação Tacitus, é suspeito de movimentar R$ 13 milhões em sete anos, principalmente por meio da compra e venda de empreendimentos imobiliários em Praia Grande. A dupla formada por Rogerinho, como é conhecido, e pelo investigador Eduardo Lopes Monteiro, preso na manhã desta terça-feira (17), teria movimentado  R$ 25 milhões no período.

Segundo levantamento da Polícia Federal e do Ministério Público, Felício é sócio majoritário da Magnata Construtora e Incorporadora, empresa que administra uma série de condomínios na cidade. Entre os projetos, destacam-se seis empreendimentos batizados de “Condomínios Magnata”, com 37 unidades prontas e cinco em construção. As propriedades são avaliadas entre R$ 240 mil e R$ 420 mil cada. Além disso, a empresa mantém duas casas avaliadas em R$ 500 mil na mesma região.

O agente Felício, que fazia ocasionalmente a segurança do cantor Gusttavo Lima, recebe um salário líquido de R$ 7.337,17 como funcionário público, mas afirma que sua evolução patrimonial é fruto de negócios legítimos. Em nota, sua defesa destacou que as movimentações financeiras da construtora foram analisadas pelo Ministério Público em investigações anteriores, arquivadas em 2021 e 2023, e que não há incompatibilidades nos valores registrados. (Leia abaixo).

Entretanto, as acusações contra o policial surgiram no contexto da delação premiada do empresário Antônio Vinícius Gritzbach, que o apontou como envolvido em esquemas de corrupção ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital). Apesar das alegações de legalidade dos negócios feitas pela defesa de Felício, a Operação Tacitus segue apurando possíveis irregularidades e ligações com o crime organizado.

Em nota ao Santa Portal, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo informou que a Corregedoria da Polícia Civil investiga todos os policiais citados na delação, incluindo os agentes presos. Felício está lotado no Deinter 6 e segue foragido. O órgão apura e acompanha os desdobramentos da operação. “A Polícia Civil é uma instituição legalista e não compactua com desvio de conduta, punindo com rigor todos os casos constatados”, disse. A reportagem também tentou contato com a assessoria do artista, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.

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Investigação de corrupção

Em acordo de delação premiada com o Ministério Público, Gritzbach apontou uma série de policiais supostamente envolvidos em esquemas de corrupção, entre eles Monteiro e Felício, além do delegado Fábio Baena, chefe de ambos durante a passagem deles pelo DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa).

Baena e sua equipe foram os responsáveis pela investigação do assassinato, em 2021, de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, chefe do PCC. Gritzbach era o principal suspeito de ser o mandante do crime. Os policiais teriam exigido dinheiro para livrá-lo das acusações, segundo a versão apresentada pelo delator.

A reportagem não identificou uma evolução patrimonial considerável do delegado Baena. Pelos registros em cartório no estado de São Paulo, os bens do delegado não chegam a R$ 1 milhão. Já os R$ 13 milhões de Felício representam 40 vezes o patrimônio de R$ 319 mil registrado em 2019.

Policial afirma que negócio é legal

A defesa de Felício, liderada pelo advogado José de Oliveira Júnior, afirma que, em 2017, foi aberta uma investigação contra o agente pelo Ministério Público, arquivada em 2021. Neste mesmo ano, outra investigação foi iniciada pela Promotoria, também arquivada em 2023.

“Vale dizer que Rogério, bem como a Construtora Magnata, tiveram suas movimentações financeiras analisadas desde o ano de 2011, sem qualquer incompatibilidade financeira”, diz trecho da nota.

A defesa também esclareceu que a movimentação de R$ 13 milhões nos últimos anos se deu por meio de permutas, incorporações e financiamentos bancários relacionados aos imóveis negociados pela construtora.

Ainda segundo a defesa, as acusações feitas por Gritzbach contra o agente são infundadas e visam descredibilizar o trabalho de Felício e sua equipe, que apontaram o empresário como mandante da morte de Santa Fausta. “Reiteramos que a evolução patrimonial do policial civil Rogério de Almeida Felício é totalmente compatível com suas atividades profissionais, estando devidamente documentada e em conformidade com a legislação vigente

Investigador preso 

O investigador Eduardo Lopes Monteiro, preso na operação Tacitus, movimentou cerca de R$ 12 milhões, conforme o levantamento, o que equivalem a a 15 vezes o patrimônio declarado em 2017. Como funcionário público, Monteiro recebe um salário bruto de R$ 11.985 (R$ 5.504,70 líquidos).

O investigador mora em uma casa de três pavimentos em um condomínio de Bragança Paulista, no interior do estado, uma propriedade estimada por corretores ouvidos pela reportagem em R$ 2 milhões.

Em outubro do ano passado, ele vendeu outro imóvel no mesmo condomínio, por R$ 4 milhões. A reportagem não publica o nome do condomínio para não colocar eventualmente em risco a família do policial, que ainda mora no local.

A reportagem considera em seu levantamento o valor da casa de Monteiro estimado por corretores, e não o valor registrado em cartório de R$ 439 mil, que ainda aparece como um lote sem construção.

Da mesma forma, a reportagem considera o valor de R$ 1,8 milhão para o prédio adquirido por ele na avenida Antônio Pires Pimentel, uma das principais de Bragança. Hoje funciona no local a concessionária de veículos Baronesa Motors, mas na escritura ele foi registrado como um terreno comprado por R$ 450 mil.

A Baronesa Mortors, que vinha comercializando veículos de luxo como Porsche até novembro, também estava em nome do investigador até março de 2023. Naquele mês, a empresa passou para sua mulher e para um sócio, Edmundo Alves Pereira Gaeta, ambos com 50% da companhia, estimada em R$ 500 mil.

Das 15 matrículas adquiridas ou comercializadas pelo investigador, duas delas estão em nome da empresa MD Construção e Incorporação, registrada em nome de Monteiro e da mulher dele, uma médica da cidade.

O investigador deixou a sociedade da MD em março do ano passado, deixando a empresa apenas para a mulher. O patrimônio dele ainda inclui carros e sala comercial.

A defesa

A defesa de Monteiro, liderada pelo advogado Daniel Bialski, diz que “paralelamente à elogiada carreira policial”, o investigador foi sócio da Baronesa Motors e da MD Construções LTDA. “Não exercendo qualquer cargo de administração. Hoje já não mais integra o quadro societário de ambas empresas”, diz.

Sobre os carros anunciados na loja, tratava-se de veículos deixados em consignação por terceiros, clientes. “Já em relação a MD Construções LTDA, o maior aporte para obtenção dos imóveis é fruto do ofício de sua esposa e de vendas pretéritas. Aliás, tudo está regular e devidamente declarado em seu imposto de renda”, afirma a defesa do investigador.

Operação Tacitus

A Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) deflagraram, na manhã desta terça-feira (17), a Operação Tacitus, com o objetivo de desarticular organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e a crimes contra a administração pública (corrupção ativa e passiva).

Nesta terça, 130 policiais federais, com apoio da Corregedoria da Polícia Civil, deram cumprimento a oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Bragança, Igaratá e Ubatuba.

A investigação partiu de análise de provas que foram obtidas em diversas investigações policiais que envolveram movimentações financeiras, colaboração premiada e depoimentos. Tais elementos revelaram o modo complexo que os investigados se estruturaram para exigir propina e lavar dinheiro para suprir os interesses da organização criminosa.

Os investigados, de acordo com suas condutas, vão responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais, cujas penas somadas podem alcançar 30 anos de reclusão.

A denominação da operação vem do termo em latim que significa silencioso ou não dito. É uma alusão à forma de atuar da organização criminosa.

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