21/08/2023

Lula prepara gesto de apreço a petista em ministério na mira do centrão

Por Catia Sebara e Thiago Resende/Folhapress em 21/08/2023 às 11:00

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Lula (PT) prepara um gesto público de apreço ao ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social) em semana decisiva para os rumos da reforma ministerial, aguardada pelo centrão. O PP mira a pasta de Dias.


Lula prepara uma viagem ao Piauí, estado do ministro, para participar do lançamento do plano Brasil Sem Fome, em 31 de agosto, logo após o presidente retornar de uma viagem pela África, iniciada neste domingo (20).


Isso tem sido entendido por auxiliares de Lula como um ato de desagravo e demonstração de que Wellington Dias será mantido no cargo na reforma ministerial negociada pelo Palácio do Planalto e o centrão. O Ministério do Desenvolvimento Social cuida do Bolsa Família e é uma pasta cara ao PT.


O ministro vinha sendo alvo de fogo amigo e também de líderes do Congresso, que querem ocupar a pasta para dar vazão a emendas parlamentares para compra de equipamentos e realização de obras de centros de assistência social pelo país.


O compromisso público ao lado de Dias foi interpretado por aliados do governo como um recado ao centrão de que Lula não pretende tirar o PT do comando da área social e mexer no Bolsa Família, principal vitrine do presidente entre o público mais pobre.


Dias é adversário político do senador Ciro Nogueira (PI), que preside o PP. Portanto o ato de lançamento do plano do ministro no Piauí também é visto como um sinal a Nogueira de que dificilmente o centrão ocupará essa pasta.


O projeto do Brasil Sem Fome foi apresentado a Lula e ao ministro Rui Costa (Casa Civil) em encontro no Palácio do Planalto na última quinta-feira (17), pouco depois de o PP avisar ao presidente que insiste em ocupar o ministério.


O objetivo do plano é aumentar a sinergia entre políticas públicas e programas sociais com o foco em erradicar a pobreza no país. Após a reunião, o ministro divulgou um vídeo, disse que o presidente aprovou a proposta e o pediu para seguir trabalhando.


“E o presidente deu uma orientação para mim. Ele sabe que já estamos trabalhando e agora ele quer que possamos nos dedicar e trabalhar ainda mais. E é isso que vamos fazer”, afirmou o ministro na semana passada.


Integrantes do Planalto, do PT e do ministério confirmaram que, na mesma conversa, Lula disse a Dias que irá assinar o decreto de criação do Brasil Sem Fome em evento no Piauí.


O estado foi palco, há cerca de 20 anos, do lançamento do programa Fome Zero, que antecedeu o Bolsa Família. À época, Dias era governador do estado.


O ministro foi um dos coordenadores da campanha presidencial do ano passado e é um dos petistas mais próximos a Lula. No entanto, nos últimos meses, Lula reclamou a auxiliares próximos no Palácio do Planalto de que o ministro precisa estar mais focado e turbinar as agendas positivas.


Como o ministério detém uma das principais vitrines do governo, Lula esperava que a pasta fosse um celeiro de anúncios para impulsionar a imagem do presidente, o que não vinha acontecendo -na avaliação do chefe do Executivo.


Por isso, o nome do titular da pasta chegou a ser colocado na mesa por articuladores da reforma ministerial. Mas o PT reagiu para blindar a área social.


O próprio ministro, então, respondeu à pressão e começou a liberar dinheiro para obras e projetos em redutos eleitorais de membros influentes do Congresso e aliados do governo. A verba saiu da cota que Lula herdou após o fim das emendas de relator -esses recursos despertam grande interesse do centrão.


O principal enrosco na reforma ministerial é o futuro do PP. O partido quer um ministério com elevado orçamento e com capilaridade para dar fluxo a emendas parlamentares.


O centrão até chegou a apresentar a ideia de Lula transferir o Bolsa Família para outra pasta, como Casa Civil, e assumir o Desenvolvimento Social sem o programa de transferência de renda.


Contudo isso não foi aceito pelo PT nem por técnicos da área de assistência social. O argumento é que o programa precisa estar sob gestão de quem comanda as outras políticas da área social.


Esse inclusive é o pilar no Brasil Sem Fome, a ser lançado por Lula e Dias.


O projeto não deve gerar novas despesas públicas, e sim alinhar o que já existe no governo federal, estados e municípios -como Bolsa Família, programa de aquisição de alimentos de pequenos agricultores etc- para aumentar a eficiência das medidas de combate à fome. O presidente quer tirar novamente o país do Mapa da Fome

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Outro argumento apresentado a integrantes do centrão e do Palácio do Planalto é que o PP recebeu a sinalização de que poderá ocupar a Caixa, banco que paga o Bolsa Família e é visto por membros da ala política do governo como uma peça de valor semelhante a um ministério robusto.


Interlocutores de Lula dizem que não foi possível concluir o desenho da reforma antes de o presidente embarcar para a África e que, quando ele regressar ao Brasil, pretendem resolver o impasse.

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