Corte de Benzema traz de volta maldição da Bola de Ouro na Copa

Por Diego Garcia e Thiago Arantes / Folha Press em 20/11/2022 às 17:16

Divulgação/France Football
Divulgação/France Football

Chegar à Copa como melhor jogador do mundo e conquistar o título. As duas coisas parecem ter uma relação direta, mas a história do futebol diz o contrário. Jamais um jogador que conquistou a Bola de Ouro imediatamente antes do Mundial ficou com o título. A Copa do Qatar nem começou, mas a maldição já foi confirmada mais uma vez na noite de sábado (19), com o corte de Karim Benzema pela seleção francesa. O atacante do Real Madrid é mais um nome em uma lista que tem alguns dos maiores jogadores de todos os tempos. Di Stéfano, Cruyff, Ronaldo, Ronaldinho, Messi, Cristiano Ronaldo -ninguém escapa da maldição da Bola de Ouro.

O prêmio é dado pela revista France Football desde 1956 e, até 1994, incluía apenas jogadores europeus. O primeiro premiado em um ano pré-Copa, em 1957, foi Alfredo Di Stéfano, argentino naturalizado espanhol que era ídolo do Real Madrid. Mesmo com Don Alfredo no time, a Espanha não se classificou para a Copa de 1958, que acabou vencida pelo Brasil e projetou Pelé, que mais tarde se tornaria o “Rei do Futebol”. Na Copa de 1962, quem chegou como dono da Bola de Ouro foi Omar Sívori, da Juventus. No Mundial, ele passou em branco, e a Itália caiu ainda na fase de grupos, em uma chave com Alemanha Ocidental, Suíça e o anfitrião Chile, surpresa daquele torneio.

Quatro anos mais tarde, o português Eusébio era quem chegava à Inglaterra como detentor do prestigiado prêmio. O Pantera Negra foi o artilheiro do Mundial com 9 gols e levou Portugal ao terceiro lugar, mas o título de 1966 ficou com os anfitriões, em final dramática e polêmica contra a Alemanha, em Wembley.Para a Copa de 1970, as estrelas premiadas eram os italianos. Gianni Rivera, do Milan, havia conquistado a Bola de Ouro de 1969; e Gigi Riva, do Cagliari, fora o segundo colocado. Os dois estavam em campo quando a Itália caiu diante do Brasil de Pelé, Tostão, Rivellino e Jairzinho, por 4 a 1, na histórica final no Estádio Azteca.

Outro que chegou ao Mundial como ganhador do prêmio e acabou vice-campeão foi Johan Cruyff. Vencedor em 1973, ele viu sua Holanda perder de virada para a Alemanha na decisão. Curiosamente, Cruyff voltaria a ganhar o prêmio em 1974, já depois da Copa, mesmo sem o título.

A Bola de Ouro de 1977 premiou o dinamarquês Allan Simonsen, vice-campeão europeu com o Borussia Mönchengladbach. A seleção dinamarquesa só disputaria seu primeiro Mundial oito anos depois, em 1986 (com o atacante na reserva). Em 1978, Simonsen viu pela TV o primeiro título da Argentina de Mario Kempes, com o troféu ao lado da France Football na estante.Chegamos a 1982, e novamente o dono do prêmio da temporada anterior sofreu. Karl-Heinz Rummenigge havia sido o melhor jogador europeu de 1981 e chegou ao Mundial como grande esperança da Alemanha. O atacante do Bayern de Munique entrou no sacrifício na semifinal contra a França, marcou um golaço e levou a Mannschaft à final. Só que a Itália de Paolo Rossi venceu por 3 a 1.

A Copa de 1986 foi de Diego Armando Maradona e da Argentina. Mas, em um mundo em que apenas os europeus competiam pela Bola de Ouro, o dono do prêmio quando o Mundial começou era Michel Platini. A França fez boa campanha e eliminou o Brasil nos pênaltis, mas acabou em terceiro lugar.Em 1990, o grande jogador europeu era o holandês Marco Van Basten. Autor de gol antológico na final da Eurocopa de 1988, ele chegava ao Mundial da Itália com dois prêmios da France Football consecutivos. Mas, na Copa, o artilheiro do Milan sumiu. A Holanda caiu nas quartas de final contra a futura campeã Alemanha. Van Basten passou em branco, e encerrou a carreira sem jamais ter feito um gol em Copas.

A maldição da Bola de Ouro atingiu o seu ápice nas duas Copas seguintes, envolvendo protagonistas não apenas do torneio, como das finais. Em 1994, Roberto Baggio chegou aos Estados Unidos com o status de melhor do mundo, conquistado um ano antes. Depois de carregar a Itália até a final, com gols decisivos em todos os jogos do mata-mata, ele jogou a decisão no sacrifício e errou o pênalti decisivo que deu o tetracampeonato mundial ao Brasil.

Com a abertura do prêmio para não-europeus em 1995, o Brasil teve seu primeiro Bola de Ouro em 1997: Ronaldo. O atacante da Internazionale chegou ao Mundial de 1998 no topo do mundo e foi um dos responsáveis por levar a seleção brasileira até a decisão, contra a anfitriã França. No dia da final, uma crise convulsiva horas antes da partida mudou o roteiro daquela Copa. Com um Ronaldo apático, o time comandado por Zagallo foi derrotado por 3 a 0. A redenção de Ronaldo em Mundiais viria com o título em 2002. Nas quartas de final, a seleção brasileira venceu sua partida mais complicada naquela Copa: superou a Inglaterra por 2 a 1, de virada. A estrela dos ingleses era Michael Owen; o dono da Bola de Ouro de 2001.

Em 2006, pela segunda vez, o Brasil chegava à Copa com um jogador como melhor do mundo. Ronaldinho havia conquistado o mundo do futebol no Barcelona, mas não brilhou na Alemanha. A seleção brasileira, cheia de estrelas, acabou eliminada nas quartas de final pela França, e o título ficou com a Itália.

Então, veio a Era Messi-Ronaldo. Entre 2008 e 2017, uma década, o argentino e o português revezaram-se no alto do pódio da premiação, com cinco bolas de ouro para cada um. Nas três Copas deste período, a maldição se manteve.
Messi, premiado em 2009, viu a Argentina cair nas quartas de final em 2010, goleada por 4 a 0 diante da Alemanha.

Cristiano Ronaldo, que ficou com os troféus de 2013 e 2017, teve ainda pior sorte – Portugal não passou da fase de grupos em 2014 e caiu nas oitavas em 2018, eliminado pelo Uruguai.A Copa do Qatar, pela mudança nos calendários do Mundial e da Bola de Ouro, é a primeira em que o vencedor mais recente recebeu o prêmio no mesmo ano do torneio. De volta à seleção francesa e campeão da Champions League pelo Real Madrid, Karim Benzema era forte candidato a romper o encanto e finalmente ganhar o título sendo o melhor do mundo. Mas a lesão na coxa, no treinamento de sábado, mudou o rumo da história. Caso a Copa-2022 fosse disputada em junho e julho, como nas edições anteriores, o premiado mais recente teria sido Messi, que levou a Bola de Ouro em 2021. A mudança de datas salvou o argentino e colocou o peso sobre Benzema. Com a lesão do francês, a maldição continua. Pelo menos até 2026.

França tem que definir novo convocado até segunda

E a atual campeã França ainda fica em situação delicada antes mesmo de entrar em campo no Mundial do Qatar. A equipe já havia perdido Ngolo Kanté, Paul Pogba, Presnel Kimpembé, Mike Maignan e Chrisopher Nkunku por lesão.
Agora, fica a expectativa sobre um eventual substituto para Benzema. O titular deve ser Olivier Giroud, que fez parte da equipe em 2018 e foi campeão mesmo sem fazer um único gol.

O técnico Didier Deschamps também pode convocar outros atacantes. Wissam Ben Yedder, do Monaco, e Martin Terrier, do Rennes, surgem como opções principais, ou até Hugo Ekitiké, do PSG.

O treinador tem até a próxima segunda-feira (21) para definir quem será chamado. O único requisito é que o jogador esteja em uma pré-lista de enviados pela Federação Francesa à Fifa.

Mas, de qualquer maneira, o corte de Benzema caiu como um balde de água fria entre os franceses no Qatar. A atual campeã ainda lamentava os demais desfalques antes que o astro se machucasse.

A lesão ocorreu em treino realizado no estádio do Al Sadd, no centro de Doha. Nos 15 minutos abertos à imprensa, Benzema estava sorridente e correndo com os companheiros. Benzema se machucou durante a parte da atividade que foi fechada para os jornalistas.

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