03/10/2017

Aniversário do "Julgamento do Século": O.J Simpson foi inocentado em caso polêmico há 22 anos

Por Noelle Neves/Colaboradora em 03/10/2017 às 18:38

ESTADOS UNIDOS – Dois corpos esfaqueados são encontrados na porta de uma casa. O principal suspeito é o ex-marido de uma das vítimas. Não parece ser uma história nova, mas sim um mero crime passional. Mas e se o ex-marido fosse uma celebridade? E se o julgamento fosse televisionado em três canais de televisão ao vivo para mais de 20 milhões de pessoas e a audiência ultrapassasse a chegada do homem na Lua, o show do Elvis Presley no Havaí e interrompesse o discurso presidencial de Bill Clinton?

Esse foi o caso do povo do Estado da Califórnia – Ministério Público Americano – contra Orenthal James Simpson, o O.J Simpson. O “Julgamento do Século”, como ficou conhecido, teve como réu um dos maiores atletas de todos os tempos do futebol americano. O atleta foi acusado de assassinar à facadas a sua ex-mulher, Nicole Simpson, e o suposto namorado, Ronald Goldman, em junho de 1994. Veja mais na reportagem especial produzida pelo #Santaportal.

OJ, assim que soube que era o acusado do duplo assassinato, fugiu em seu famoso Ford Broco Branco, que resultou em uma perseguição policial que foi televisionada em dois canais ao vivo. Durante 372 dias – da fuga até o final do julgamento -, a imprensa transformou o caso em um espetáculo, em que advogados, réu, familiares das vítimas, promotores, jurados, juiz e policiais viraram personagens de uma novela e cada dia de julgamento, era como se fosse um novo capítulo.

O veredito “inocente” veio no dia 3 de outubro de 1995, mas o caso voltou a ser discutido em 2016 com a estreia da série American Crime Story: The People v. O.J Simpson e o lançamento documentário premiado da ESPN, O.J: Made in America .

Imprensa
A defesa trabalhou duas teses: a luva que supostamente foi colhida na cena do crime não entrava na mão de O.J Simpson, o que comprovaria que não foi ele o assassino. Mas essa era uma tese fraca. A tese mais forte era que em face do investigador ser racista, o atleta só estaria sendo acusado por ser negro. O foco do julgamento passaria a ser se houve ou não racismo.

Um dos advogados de O.J, Robert Shapiro, deu entrevista para o jornal The New Yorker , onde apresentou um dos pontos principais dessa tese: a questão racial. A partir desse momento, a imprensa que estava apenas cobrindo os fatos, se posicionou.

A revista Newsweek foi acusada de escurecer imagens do ex-atleta e de dar manchetes que induziam à culpa. No Brasil, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria intitulada ‘O Símbolo negro quis ser branco’, onde era criticava um jogador ser rico e privilegiado estar usando a questão racial para ser julgado como vítima da sociedade. O jornal O Globo mantém até hoje em seu acervo os exemplares que falam sobre o caso.

Outro momento que a imprensa interferiu foi na divulgação das fitas com discursos racistas do detetive Mark Furhman, a principal testemunha de acusação. “O Estado Unidos viveu durante muito tempo um problema de racismo. O policial responsável pela investigação das mortes ficou conhecido por agressões contra afro-americanos no início dos anos 80. A defesa usou isso para conseguiu comprovar que foi uma perseguição racial, não uma colheita de provas imparcial para a demonstração de um crime”, comentou a advogada Luiza Costa.

Segundo o professor universitário e jornalista, Luiz Carlos Bezerra, o caso pode ser considerado um dos precursores da mídia espetaculosa e declaratória, embora também investigativa e causadora de discussões e reflexões. Mas acredita que é importante ouvir todos os envolvidos: “A questão é que a mídia acaba se deixando usar, em boa parte conscientemente, pela manipulação dos interessados e aceita isso. É usada como forma de conseguir insanamente novas informações ou olhares para manter em destaque um caso que traz audiência. Isso não ajuda em nada a sociedade, pois só reforça o viés do entretenimento, da superficialidade, da falta de seriedade”, disse.

Saiba mais sobre o caso
Em 17 de junho de 1994, o jogador de futebol americano O.J Simpson, conhecido como The Juice, foi acusado de assassinar a facadas a ex-mulher, Nicole Simpson, e o suposto namorado, Ronald Goldman no dia 12 de junho do mesmo ano, entre 22h e 23h.

No dia que deveria se entregar, deixou uma carta para a família e amigos e fugiu com o amigo Al Cowlings. Os dois passaram horas fugindo da polícia em Los Angeles. A perseguição foi transmitida nos principais canais americanos e dividiu as atenções com a abertura da Copa do Mundo FIFA e o quinto jogo das finais da NBA.

Mais tarde, O.J voltou para sua residência e depois de passar uma hora conversando com o detetive que investigava o caso, se entregou.

O julgamento começou no dia 26 de setembro e durou 10 meses. O júri era formado por 9 negros, 2 brancos e 1 hispânico. “Como a maioria dos jurados eram negros, entendeu-se que O.J só estava sendo acusado por ser negro, visto que não haviam provas suficientes para sustentar a acusação “, explicou a advogada.

O veredito “inocente” foi anunciado em 3 de outubro de 1995 . “Ele não tinha um álibi, foi encontrado sangue na luva que supostamente foi usada no crime, tanto dele quanto das vítimas. Ele foi absolvido, porque além da teoria de perseguição racial, a defesa pegou a luva e mostrou em plenário do júri que a mão não entrava”, finalizou o advogado Vitor Costa.

Prisão e liberdade
Posteriormente, já em 2007, foi preso em Las Vegas e acusado de diversos crimes, como assalto a mão armada, formação de quadrilha e sequestro. Também no dia 3 de outubro, desta vez em 2008, foi considerado culpado de todas as acusações. Foi conenado a 33 anos de prisão: 15 por sequestro, 6 por porte de arma e 12 por roubo. Em 2017, Simpson ganhou liberdade condicional e oficialmente solto na segunda-feira (1º).

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