Uso de cerol gera acidentes fatais na Baixada Santista e pode levar a prisão

Por Beatriz Pires em 01/10/2025 às 06:00

Imagem ilustrativa/Unsplash
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A legislação brasileira determina que pessoas flagradas portando ou vendendo linhas com cerol podem pagar multas a partir de R$ 1.851,00. Em um caso recente, um homem perdeu a vida em um acidente com o material — o primeiro em três anos. O cerol é uma mistura de cola de sapateiro e vidro triturado, usada para cortar a linha de outras pipas unicamente por questões esportivas.

Nos últimos quatro anos, a Baixada Santista registrou quatro acidentes graves envolvendo esse tipo de fio. No mês passado, um motociclista de 44 anos em Santos sofreu uma morte trágica ao ter o pescoço decepado enquanto pilotava. Os serviços de emergência foram acionados e tentaram a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) após a confirmação da parada cardíaca. Apesar dos esforços e da transferência para uma unidade de saúde, a vítima não resistiu. O caso foi registrado como homicídio culposo, ou seja, sem intenção de matar.

“O estado de São Paulo proíbe totalmente fabricar, vender, portar ou usar cerol e linha chilena. Além disso, muitos municípios da Baixada Santista têm suas próprias leis que reforçam a proibição”, explica a advogada Karoline Oliveira.

A primeira ocorrência dessa série recente foi registrada em dezembro de 2021, quando Raphael Macedo Almirante, turista de 27 anos, rompeu os tendões do tornozelo esquerdo após colidir com uma linha de pipa tratada com cerol enquanto caminhava na orla de Praia Grande. Ele precisou passar por cirurgia para reparar o dano e foi internado no Hospital Irmã Dulce após o incidente, que ocorreu durante as comemorações de fim de ano com a família.

“As vítimas podem exigir danos materiais, como tratamentos, despesas e indenização por danos morais e estéticos. O processo é fundamentado na responsabilidade civil e deve ser instruído com boletim de ocorrência, laudos médicos e provas do acidente”, acrescenta Karoline.

Em janeiro de 2022, apenas um mês após o caso anterior, um motociclista de 46 anos, em Santos, sofreu um corte profundo na garganta e precisou de internação imediata na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A gravidade do caso mobilizou uma campanha pública por doações de sangue.

Outro acidente grave ocorreu em Bertioga, também em 2022, quando um paraglider motorizado, que transportava duas pessoas, caiu de aproximadamente 15 metros após suas cordas serem cortadas por uma linha de pipa revestida com cerol. O piloto morreu e a passageira ficou com fraturas graves nas pernas.

“O PL 339/2024, em análise no Senado, prevê criminalizar o uso, comércio e fabricação de cerol, com pena de 1 a 3 anos de prisão e multa, além da cassação da licença de estabelecimentos reincidentes”, afirma a advogada.

Atualmente, uma pessoa flagrada transportando ou vendendo linhas ou pipas com cerol deve pagar multa de 50 UFESPs, valor equivalente a R$ 1.851,00 (considerando o valor vigente da UFESP em 2025, de R$ 37,02). Para comércios, a penalidade é de 5.000 UFESPs, cerca de R$ 185.100,00. Em casos envolvendo menores de idade, a responsabilidade recai sobre os pais ou responsáveis legais.

Nos casos de ferimentos graves, os acusados podem responder por lesão corporal, homicídio culposo ou até por expor a vida de terceiros a perigo.

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