Nova agressão expõe falha no combate a violência escolar em PG

Por Beatriz Pires em 31/08/2025 às 06:00

Reprodução/Google Maps
Reprodução/Google Maps

Casos de violência escolar têm se tornado frequentes em Praia Grande e preocupam pais e responsáveis. Na última sexta-feira (22), um garoto autista de nove anos foi agredido ao tentar defender o irmão de outra violência. Dois dias antes, outro menino da mesma idade teve um lápis cravado na cabeça por um colega de sala, o que chocou moradores da região. A situação aconteceu na Escola Municipal Mahatma Gandhi, no bairro Jardim Melvi.

A mãe da criança relatou que o filho estava desenhando quando o colega rasgou sua folha. Para se defender, ele empurrou o menino, que acabou se ferindo, e reagiu com socos. Ambos receberam advertência e foram liberados. No horário da saída, ocorreu a agressão mais grave, e uma ambulância foi acionada. O lápis foi removido, mas a vítima segue em observação e, caso necessário, poderá passar por cirurgia.

O psicólogo infanto-juvenil Márcio Ribeiro comenta que se trata de um problema estrutural, relacionado à falta de comunicação entre escola, família e comunidade. Segundo ele, sem mecanismos de proteção, os casos tendem a se repetir. O especialista ressalta ainda que a banalização da violência agrava o cenário: “O agressor se alimenta e a vítima se cala”.

A escola justificou o comportamento do menino pelo fato de sua mãe praticar artes marciais. Ribeiro, no entanto, afirma que o ambiente familiar é determinante.

“Crianças que crescem em lares violentos tendem a reproduzir a agressividade. Já aquelas sem apoio e diálogo em casa ficam mais vulneráveis a se tornarem vítimas”, explicou.

Esse não foi um evento isolado. Em menos de dois anos, Praia Grande registrou seis casos de violência escolar. O mais grave envolveu Carlos Teixeira, 13 anos, que morreu em abril de 2024 após agressões na Escola Estadual Júlio Pardo Couto. Em um episódio, o adolescente teria fraturado a coluna; em outro, foi levado ao banheiro e espancado. Levado ao hospital pelo pai, recebeu atendimento, mas voltou a sentir fortes dores. Após três paradas cardiorrespiratórias, não resistiu.

“Uma tragédia assim gera um trauma coletivo. Alunos sentem medo, professores se sentem impotentes e os pais perdem a confiança na escola como espaço seguro”, ressalta Ribeiro.

Após o caso, novas denúncias surgiram na mesma escola. Uma mãe afirmou que o filho, de 14 anos, teria sido agredido duas vezes, mas que a coordenação não interveio. A Secretaria Municipal de Educação negou as acusações, alegando não ter sido notificada.

Ainda em abril, a fachada da Escola Estadual Sylvia de Mello foi palco de uma briga entre duas adolescentes. O momento, registrado em vídeo, mostra outros jovens incentivando a violência. Tanto a Secretaria Estadual de Educação quanto a Prefeitura destacaram a rápida reação: separaram as alunas, acionaram os responsáveis e os serviços de emergência. Um dos estudantes teve ferimentos leves e recebeu atendimento médico. O caso foi registrado como ameaça e lesão corporal.

“Crianças com autismo ou dificuldades de socialização costumam ser vistas como ‘diferentes’. Isso aumenta o risco de exclusão e violência. Por isso, a escola precisa trabalhar empatia e inclusão de forma constante”, reforçou o psicólogo.

Outro incidente envolveu um menino de 12 anos, em fase final de diagnóstico para transtorno do espectro autista (TEA). Ele foi agredido fora da escola por um colega, sofreu um corte na pálpebra e precisou levar pontos. A família classificou o caso como o auge de um bullying recorrente. A Secretaria Municipal de Educação reconheceu a agressão, mas destacou que ocorreu fora do ambiente escolar. A pasta afirmou ainda que já desenvolve iniciativas antibullying e prometeu intensificar a vigilância.

Já em abril de 2025, outro garoto de 12 anos foi agredido após troca de insultos com um colega. O caso está sendo investigado, e as famílias recebem apoio por meio do programa Conviva e acompanhamento psicológico.

“Essas iniciativas funcionam, mas precisam ser contínuas. Palestras isoladas não bastam. Quando a escola associa acompanhamento psicológico e mediação de conflitos, cria-se uma verdadeira cultura de paz. É preciso treinar professores para identificar sinais cedo, criar canais seguros de denúncia e agir com rapidez. Também é essencial aproximar famílias e promover atividades que gerem empatia entre os alunos”, concluiu Ribeiro.

Posicionamento da Prefeitura

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação afirmou que todas as escolas da rede municipal incluem no Projeto Político Pedagógico (PPP) a temática da Cultura da Paz, trabalhada com alunos e responsáveis. As ações incluem palestras e rodas de conversa para estimular empatia e respeito ao próximo.

A pasta também destacou que, com a nova administração, foi criado em 2025 um projeto antibullying, já em prática nas escolas. A iniciativa promove palestras e campanhas educativas voltadas à conscientização dos estudantes.

As unidades de ensino contam ainda com o apoio de pedagogos comunitários, que atuam com projetos de Justiça Restaurativa, e de psicólogos escolares que oferecem orientação a alunos e professores. Segundo a Secretaria, já é possível observar melhora no comportamento dos estudantes e redução de ocorrências.

A nota reforça, por fim, a importância da parceria com os responsáveis e cita medidas de segurança, como botão do pânico, câmeras de monitoramento e rondas da Guarda Civil Municipal.

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