"Ato de socorro", diz filha que chamou a polícia após surto de empresário morto em Praia Grande
Por Santa Portal em 04/08/2025 às 15:00
A comerciante Ana Carolina Sales, filha de Roseval Sales de Oliveira, de 72 anos – morto após um confronto com a Polícia Militar na noite de domingo (3), no bairro Canto do Forte, em Praia Grande, no litoral de São Paulo – afirma que acionou a corporação como um “ato de socorro”. O tradicional empresário da cidade, com quase cinco décadas de atuação na Avenida Costa e Silva, vivia há anos com problemas relacionados ao alcoolismo e ao uso de medicamentos controlados.
De acordo com a filha, ele se recusava a buscar tratamento. “Ele nunca aceitou ajuda. A gente cresceu vendo essas crises, mas, como filha, não podia obrigá-lo. Foi tarde para nós na questão de poder intermediar algo, mas sempre houve essa luta contra a bebida”, conta Ana. “Sóbrio, era um pai excelente. O problema era a mistura de álcool, remédio e depressão. Ele se descontrolava”.
A filha explicou que o pai nunca fez mal a terceiros, apenas à família e a si próprio. Apesar dos problemas, Ana destacou que ele sempre foi conhecido pelo bom humor e, mesmo após a separação, há 15 anos, ela e mais três irmãs decidiram viver com ele, trabalhando nos comércios da família. Contando os outros casamentos, Roseval tinha sete filhos.
“Estamos juntas, sempre fomos unidas, até porque sempre foi desse jeito que ele nos ensinou, mesmo com toda a loucura que a gente viveu. Ele sempre lutou para que fôssemos honestas e priorizássemos a família e a união. Então, agora estamos nos apoiando, ajudando umas às outras, e vamos honrá-lo o tempo todo aqui”.
O dia do surto
Na manhã de domingo, Roseval começou a beber, segundo relato da filha. No primeiro comércio da família, discutiu com uma das irmãs. Depois, seguiu para outro local. Em estado alterado, chegou a ir até a casa de uma filha, no bairro Tude Bastos, e, não encontrando ninguém, atirou contra a parede do imóvel.
“Minha irmã estava com os filhos na sorveteria. Vi isso acontecer junto com meu cunhado, que é o dono da casa. Quando vimos aquilo, ligamos para a polícia. Foi por cansaço, não para causar uma fatalidade, mas como um ato de socorro”, afirmou Ana.
Depois do episódio no Tude Bastos, Roseval foi de carro, um Nissan Frontier azul, até o condomínio de luxo onde morava, na Avenida Maurício José Cardoso, no Canto do Forte. Em contato com a portaria, os policiais confirmaram a chegada do comerciante ao edifício e viram o veículo, devidamente trancado, sendo visível em seu interior um revólver calibre .38 no assoalho, na garagem. O porteiro ainda afirmou que o idoso estava alterado e teria batido o veículo na garagem do prédio.
Na sequência, os policiais subiram até o apartamento de Roseval, no 19º andar. Após insistência, o idoso abriu parcialmente a porta, sendo-lhe ordenado que mostrasse as mãos, o que não foi obedecido. Em seguida, tentou fechar a porta, sendo impedido por um policial com o uso de um escudo balístico.
Nesse momento, o Roseval, empunhando um revólver calibre .38 de cano longo, efetuou disparos contra a equipe, que, diante da agressão, revidou. Em seguida, o idoso fechou a porta. Os agentes, então, acionaram o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) para dar continuidade à ocorrência.
Cerca de 1h30 depois, já com a presença do Gate no local, os agentes entraram no apartamento e encontraram Roseval baleado no chão, já morto. “Ele foi e atirou já talvez esperando o pior que acontecesse com ele. Tenho certeza de que ele estava muito fora de si”, afirmou a filha.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, foram apreendidas armas de fogo e facas no imóvel. A perícia foi acionada e o caso foi registrado como morte decorrente de intervenção policial, ameaça, posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, legítima defesa e tentativa de homicídio, na Central de Polícia Judiciária (CPJ) da cidade.
A filha disse que o pai tinha o hábito de manter armas por precaução. “Desde que a gente era criança, por ser comerciante, ele dizia que precisava se proteger. Já teve ameaça, tentativa de assalto, sequestro… Era outra época. Mas ultimamente a gente não sabia que ele tinha comprado outras armas”.