Policiais da Rota vão a júri popular por morte de roupeiro durante a Operação Verão em Santos

Por Santa Portal em 25/09/2025 às 15:00

Reprodução/Redes sociais e Divulgação/PM (imagem ilustrativa)
Reprodução/Redes sociais e Divulgação/PM (imagem ilustrativa)

Dois policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Diogo Souza Maia e Glauco Costa, vão a júri popular pela morte do roupeiro Allan de Moraes Santos, 36, em fevereiro do ano passado, durante a Operação Verão em Santos, no litoral de São Paulo.

A decisão foi tomada pelo juiz Alexandre Betini, da Vara do Júri da comarca de Santos, nesta segunda-feira (22). Segundo a denúncia aceita pelo juiz, os réus dispararam contra a vítima com recurso que dificultou sua defesa.

Durante o processo, a defesa alegou legítima defesa e argumentou que Allan teria efeuado disparos contra os policiais. No entanto, os laudos periciais e depoimentos de testemunhas não confirmaram a versão de confronto. Os documentos apontaram que armas atribuídas à vítima teriam sido localizadas apenas após algum tempo, o que levantou suspeitas de alteração do local pelos réus.

Allan trabalhava no Jabaquara Futebol Clube e acompanhava uma partida no dia do crime. Ele era casado e pai de um filho, que já foi policial militar e saiu da corporação após a morte do pai. Segundo a esposa, Allan não tinha envolvimento recente com atividades criminosas e estava indo para casa quando foi atingido. Os dois tinham um relacionamento de 15 anos, dos quais Allan permaneceu preso por 10.

Allan é sobrinho de um líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Fernando Gonçalves dos Santos, conhecido como Azul ou Colorido, que foi liberado do presídio federal de Mossoró (RN) no mês passado.

Versão dos policiais

Durante o interrogatório, o PM Diogo negou ter cometido o crime. Segundo ele, atuava como comandante do pelotão da Rota sob supervisão de um tenente, que teria informado sobre uma denúncia de transporte de arma de fogo por Allan. De acordo com Diogo, o veículo da vítima passaria por volta das 17h na Avenida Martins Fontes, no Valongo.

Ainda segundo o acusado, a primeira viatura, comandada pelo tenente, tentou abordar Allan, que teria freado bruscamente. Ele afirmou que, diante de uma suposta ameaça, efetuou quatro disparos com um fuzil, enquanto seu colega Glauco disparava com uma pistola. Após os tiros, Diogo disse ter retirado a pistola do veículo da vítima e passado a um terceiro policial da equipe. Ele relatou que uma vistoria superficial apontou estilhaços no assoalho e que Glauco teria encontrado um fuzil no porta-malas do veículo.

Glauco Costa também negou participação no homicídio. Em seu depoimento, disse que o tenente informou a passagem do suspeito com armamento na Avenida Martins Fontes e afirmou ter ouvido disparos de fuzil e pistola e revidado, sem saber se atingiu Allan. Ele relatou que Diogo desarmou a vítima e arremessou a arma. Em vistoria posterior, teria encontradoo fuzil no porta-malas, sem ter visto diretamente a arma durante o suposto confronto.

No entanto, segundo a decisão do juiz, outros depoimentos colhidos no processo apresentaram versão diferente da apresentada pelos réus.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo disse que a ocorrência foi investigada por meio de Inquérito Policial Militar, e todo o conjunto probatório — incluindo as imagens das câmeras corporais dos agentes envolvidos — foi encaminhado à Justiça. A Corporação aguarda a manifestação do Poder Judiciário para adotar as providências cabíveis quanto à vida funcional dos policiais, que permanecem afastados das atividades operacionais durante o processo.

O Santa Portal não localizou as defesas dos policiais militares. O espaço segue aberto para manifestações.

PM apagou vídeo da ocorrência

Um policial militar da Rota confessou, durante uma ação da Operação Verão, ter apagado imagens registradas por uma testemunha após a morte de Allan. A revelação foi gravada por uma Câmera Operacional Portátil (COP) de outro agente que estava em uma das equipes de apoio.

Nas imagens obtidas pelo Santa Portal, um policial, que estava em uma equipe de apoio, afirma para o outro: “Ele fez um vídeo, já apaguei”. Quando questionado por um terceiro sobre quem fez o vídeo, o PM responde: “O frentista, já apaguei”. Os policiais estavam próximo a um posto de gasolina, ajudando a desviar o trânsito do local da ação.

Essas e outras imagens de câmeras de monitoramento foram usadas pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para denunciar os dois policiais por homicídio qualificado. Os promotores alegam que as circunstâncias indicam a alteração da cena dos fatos, simulando um confronto e plantando um fuzil no veículo da vítima.

O chefe do Ministério Público de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Castro, decidiu manter arquivados 11 inquéritos que investigavam a conduta de policiais militares durante as operações Escudo e Verão. No entanto, esta era uma das cinco ações penais que aguardavam análises da Justiça sobre o julgamento ou não.

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