Pelé se revelou ao mundo aos 17 anos, na Copa de 1958

Por RUY CASTRO/Folhapress em 30/12/2022 às 09:36

(Foto: Reprodução/Instagram)
(Foto: Reprodução/Instagram)

De repente, aconteceu Pelé. Foi assim de repente.

Mais exatamente no dia 26 de fevereiro de 1958, num América x Santos, no Maracanã, pelo Torneio Rio-São Paulo, competição que ninguém levava muito a sério -talvez porque se fizessem substituições durante as partidas, coisa impensável em jogos oficiais. O América tinha o goleiro Pompéia, o “Fantasma Voador”; Canário, futuro ponta do Real Madrid; e Romeiro, que depois faria carreira no Palmeiras. Mas o ataque do Santos era Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe.

Deu Santos, 5 a 3, com quatro gols de Pelé. Ao apito final, Nelson Rodrigues foi para a redação da Manchete Esportiva e escreveu uma crônica em que, seis meses antes da revista francesa France Football, chamou Pelé de Rei.

Aquele Rio-São Paulo, sim, seria para valer, porque a então CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) avisou que faria dele laboratório para a escolha dos jogadores que iriam à Copa do Mundo na Suécia, em junho. Pelé, aos 17 anos, não era um segredo em São Paulo. Aliás, até já atuara uma vez pela seleção no Maracanã, contra a Argentina, em 1957. Mas só a partir do Torneio Rio-São Paulo é que se revelaria ao Brasil inteiro.

Geraldo Borges, repórter de campo da principal emissora de esportes do Rio, a Continental, comandada por Waldir Amaral, o chamava de “Pelê” -ecoando, quem sabe, o nome mais familiar de Telê, do Fluminense. Ou seja, até para os radialistas mais cascudos, Pelé era uma novidade. Um mês depois, ao fim do torneio vencido pelo Vasco de Bellini, Orlando e Vavá-, ninguém no Brasil se atrevia a desconhecer Pelé.

Assim como, hoje, ninguém desconhece o que ele representou para a seleção em 1958. Jogou as quatro últimas partidas, marcou seis gols (alguns, de placa) e só não foi o maior jogador do time porque nele havia Didi, sem falar em Garrincha. Mas um episódio acontecido pouco antes da Copa é que reflete a sua importância e desmoraliza uma história que vive sendo repetida.

Às vésperas do embarque para a Europa, a seleção brasileira fez um jogo-treino contra o Corinthians no Pacaembu. Venceu por 5 a 0, mas perdeu Pelé, tirado de campo pelo duro zagueiro corintiano Ary Clemente e virtualmente fora da Copa porque parecia não haver tempo para a sua recuperação. Se fosse verdade que aquela seleção dava preferência a jogadores brancos sobre os negros, ali estava a oportunidade para se trocar Pelé por Almir, do Vasco, que fora cortado e também era craque. Mas a CBD preferiu apostar em Pelé e rezar para que ele tivesse condições de jogo em algum momento da Copa.

O que só aconteceu na terceira partida, contra a então URSS. E, a partir dali, tudo seria história.

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