De Coutinho a Zico: Relembre os 10 maiores parceiros do Rei Pelé em campo

Por Folha Press em 29/12/2022 às 19:01

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O maior jogador de todos os tempos não seria tão grande sem seus principais companheiros. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, morreu nesta quinta-feira (29) aos 82 anos de uma vida inteira dedicada ao futebol. Abaixo, a reportagem lista dez grandes parceiros que o Rei do Futebol consagrou em campo.

1 – COUTINHO

Coutinho era um centroavante de técnica genial, dribles curtos e secos, passes precisos e frieza sobre-humana dentro da área. Foi o mais perfeito companheiro de Pelé, com quem criou as famosas tabelinhas e atuou regularmente entre 1958 e 1966. Os dois eram um verdadeiro pesadelo para a defesa adversária e tinham tantas semelhanças, físicas e técnicas, que até os locutores se atrapalhavam -por isso Coutinho usava esparadrapos em um dos pulsos, para tentar evitar a confusão.

Coutinho chegou ao Santos ainda mais jovem do que Pelé, com apenas 14 anos, após fugir da casa dos pais. Ele já havia sido convidado pelo Flamengo, São Paulo e Corinthians, mas o pai o havia proibido que ser jogador. Titular do Santos com apenas 16 anos, virou uma espécie de príncipe na corte de Pelé. “A gente se falava pelo olhar”, recordava Coutinho, que faleceu em 2019.

Coutinho também foi uma espécie de “anti-Pelé”: não comemorava os gols que fazia (412 na carreira) e preferia dar uma assistência em vez de fazer o gol por si próprio; também fugia de entrevistas e engordava facilmente. Com os dois no ataque, o Santos foi campeão paulista seis vezes (1960/61/62/64/65 e 67), brasileiro cinco vezes (1961/62/63/64 e 65) e bicampeão mundial e da Libertadores (1962/63).

“Quando atuamos pela primeira vez, ele antecipava tudo o que eu pensava. Era como se já tivéssemos jogado juntos antes”, disse Pelé, sobre o parceiro Coutinho

2 – GARRINCHA

Se o talento e o preparo físico de Pelé o transformavam na eficiência máxima em um jogador de futebol, Garrincha era praticamente o contrário, o grande embaixador do “futebol moleque”, em que um drible humilhante tinha a mesma importância de um gol. O profissionalismo e o romantismo, um Rei e um Anjo, uma combinação que nunca perdeu um jogo sequer na seleção brasileira: foram 35 vitórias e cinco empates.

No Botafogo e na seleção, Garrincha viveu o auge entre 1958 e 62, justamente os anos que deram o bicampeonato mundial ao Brasil. Ele era sete anos mais velho que o Rei, mas ambos estrearam em Copas do Mundo juntos, no mesmo jogo, o terceiro da Copa de 58.

A dupla foi escalada a pedido dos demais jogadores após ficar duas partidas na reserva (Pelé por lesão; Garrincha por opção).

Em campo, o Mané deu razão aos companheiros: castigou a União Soviética com uma infinidade de dribles nos “maiores três minutos da história do futebol”, segundo relato da imprensa na época, e o Brasil venceu por 2 a 0.

Era o início da hegemonia da dupla na seleção brasileira, que na Copa de 1962, quando Pelé se lesionou no segundo jogo, teve justamente em Garrincha a salvação rumo ao bicampeonato.

Os dois se completaram até no descer das cortinas, em 1966, no último jogo juntos. Garrincha já não era mais o mesmo, mas a escrita foi mantida: vitória por 2 a 0 sobre a Bulgária com dois gols de falta. Adivinhe de quem? Um de Pelé, outro de Garrincha. O Mané se aposentou seis anos depois, já muito atrapalhado pelas contusões e pelo alcoolismo que em 1983 o levaria à morte prematura, aos 49 anos.

“Nunca joguei contra ou ao lado de alguém melhor que Garrincha. No campo, éramos companheiros. Fora do campo, éramos irmãos”, disse Pelé, em publicação recente nas redes sociais.

3 – VAVÁ

Vavá, o “Peito de Aço”, teve a honra de ser exemplo para Pelé. Os dois foram contemporâneos, inclusive rivais em Santos e Palmeiras, mas recentemente o Rei o tratou como ídolo. O centroavante foi bicampeão mundial com a seleção brasileira e fazendo o trabalho sujo no ataque: derrubava zagueiros, era derrubado por eles e assim abria espaços para Pelé e cia. Inteligente e oportunista, o centroavante fez 15 gols em 25 jogos pelo Brasil.

Ele começou como meia armador no Sport e no Vasco virou um centroavante trombador e artilheiro. Jogou por seis anos no futebol carioca nos Anos 1950, para encanto e deleite do então adolescente (e vascaíno) Pelé. Vavá ainda jogou no Atlético de Madri (Espanha), no Palmeiras e no futebol mexicano antes de se aposentar na Portuguesa-RJ em 1969.

Vavá disputou as Copas de 1958 e 62 e somou nove gols, número superado apenas por Pelé e Ronaldo na seleção brasileira. O centroavante ainda ganhou duas Copas do Rei na Espanha e foi campeão paulista com o Palmeiras em 1963 -no auge do Santos de Pelé. O ex-jogador faleceu no começo de 2002, aos 67 anos, vítima de um infarto.

“Vavá não era homem de se intimidar com cara feia ou defesas violentas. Eu costumava brincar dizendo que ele assustava os zagueiros porque tinha cara de buldogue. Fomos grandes companheiros de seleção, mesmo sem jogar juntos no mesmo clube”, disse Pelé, em coluna sobre o parceiro das Copas de 1958 e 1962.

4 – PAGÃO

O primeiro grande parceiro de Pelé no Santos acabou ofuscado na história pelo ataque que o sucedeu. Franzino e muito técnico, Pagão armava jogadas e dava lançamentos com rara inteligência. Era insubstituível na segunda metade dos Anos 1950, mas se machucava com muita facilidade e acabou destronado por Coutinho.

Paulo César de Araújo, o Pagão, chegou ao Santos em 1955 como um talento local, nascido na própria cidade e com passagens por Jabaquara e Portuguesa Santista. Identificou-se rapidamente com o clube e formou um dos maiores ataques do futebol brasileiro: Pagão, Pelé e Pepe. Foi hexacampeão paulista, bi brasileiro e também mundial em 1962, mas acabou saindo para o São Paulo no ano seguinte.

O centroavante jogou no Tricolor por três anos e ainda tentou voltar ao Santos em 1965, mas já sem as condições físicas ideias. Chegou a participar de alguns treinamentos, mas não jogou. Ele se aposentou na Portuguesa Santista, dois anos depois, foi homenageado em um amistoso organizado nos anos 1980 pelo compositor Chico Buarque, seu grande fã, e faleceu aos 56 anos em 1991.

5 – TONINHO GUERREIRO

O Santos de Pelé teve um só camisa 10, mas vários camisa 9. Depois de Pagão e Coutinho, quem herdou o posto foi Antônio Ferreira, o Toninho Guerreiro. Um centroavante forte, raçudo, oportunista dentro da área e com excelente visão de gol que fez o Santos se tornar ainda mais eficaz.

As tabelinhas e lances geniais já não eram os mesmos sem Coutinho em campo, mas Toninho compensava com o posicionamento fantástico. Parecia antever as jogadas de Pelé, quase sempre aparecendo na hora certa e no lugar certo para aproveitar alguma sobra das disputas do Rei com os zagueiros. Foi o último grande parceiro de Pelé no Santos.

Toninho se revezou com Coutinho durante o bicampeonato paulista de 1964/65, foi artilheiro do Paulistão de 1966 e decisivo para o tricampeonato de 1967/68/69. Já em 1970, trocou o Peixe pelo rival São Paulo e foi o artilheiro do Estadual que tirou o Tricolor de um jejum de 13 anos. Ele ainda teve passagem curta pelo Flamengo, aposentou-se no Noroeste-SP em 1975 e faleceu vítima de um derrame cerebral em 1990, aos 47 anos.

6 – TOSTÃO

Diziam que eles não poderiam jogar juntos, que tinham o mesmo estilo e bateriam cabeça na Copa de 1970 por atuarem na mesma faixa do campo. Besteira. Tostão enfrentou a campanha contra sua escalação, adaptou-se àquela seleção brasileira e se consagrou no México jogando como pivô que articulou toda a movimentação do ataque.

Camisa 10 de inteligência comparável a Pelé, o ídolo do Cruzeiro fez com o Rei algumas das mais lindas jogadas da primeira Copa do Mundo transmitida ao vivo via satélite. Os dois foram pilares da seleção dos sonhos, que ainda tinha Gerson, Jairzinho e Rivellino e trouxe o tricampeonato.

Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, já brilhava no Cruzeiro aos 16 anos e se tornou o maior artilheiro da história do clube, com 248 gols. Foi ao Vasco da Gama dois anos após o Tri, mas teve de abandonar o futebol de forma prematura, ainda aos 27 anos, por causa de um deslocamento de retina. Formou-se em medicina após a aposentadoria e até hoje escreve no jornal Folha de S. Paulo.

“Tostão era um excelente jogador, assim com um estilo parecido com o Maradona, até um pouco mais técnico, os dois estão no mesmo nível”, disse Pelé.

7 – PEPE

O maior artilheiro humano da história do Santos, “afinal Pelé não conta, é de outro mundo”, como o próprio Pepe gosta de se apresentar -como se fosse preciso. Em 15 anos no clube, entre 1954 e 69, o Canhão da Vila ganhou mais títulos do que o Rei (27) e marcou nada menos do que 405 gols, todos precisamente registrados à mão em seus vários cadernos.

O ponta-esquerda era temido pelo poderoso chute com a perna esquerda, que os italianos do Milan puderam conhecer em primeira mão no bicampeonato mundial em 1963. A sua história e a do Santos caminham juntas desde que ele nasceu, na mesma rua em que o clube havia sido fundado décadas antes, no centro da cidade litorânea.

No futebol, ele começou em times infantis e juvenis na vizinha São Vicente, mas profissionalmente só jogou no Santos e entrou para a história como o último nome do ataque mágico: Mengálvio, Dorval, Coutinho, Pelé e ele, Pepe.

José Macia, o Pepe, levantou 93 títulos no futebol, incluindo os tempos de treinador. Ele foi campeão estadual no Santos e no Fortaleza, venceu o Brasileirão de 1986 com o São Paulo e também uma Série B com o Athletico, treinou no Japão, no Qatar e em um punhado de clubes brasileiros até pendurar também a prancheta em 2006.

“Ele era perfeito. Nunca existiu um jogador igual. Ele dominava todos os fundamentos. Ele é de outro planeta, disse Pepe, em elogio ao amigo Pelé.

8 – MENGÁLVIO

Mengálvio era um jogador de grande habilidade, criativo, dinâmico e inteligente, um companheiro ideal para Pelé. Seu fôlego privilegiado o permitia defender e atacar com a mesma intensidade, sendo fundamental para que o quinteto de ataque funcionasse sem deixar a defesa descoberta.

Catarinense de Laguna, Mengálvio se destacou no Aimoré de São Leopoldo-RS, que em 1959 foi vice-campeão gaúcho. A campanha o levou à seleção brasileira já aos 18 anos, e quando ele voltou do Pan-Americano de 1960 já estava acertado com o Santos, que precisava de um sucessor para Jair Rosa Pinto.

Em 19 de abril daquele ano, Mengálvio saiu do banco em um jogo contra a Portuguesa, no Pacaembu, para formar pela primeira vez o ataque dos sonhos com Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.

Mengálvio fez 27 gols em 369 jogos com o Santos e ganhou 21 títulos pelo clube nos Anos 1960, incluindo seis estaduais, cinco Brasileiros, duas Libertadores e o bicampeonato mundial.

Pela seleção, venceu a Copa do Mundo de 1962 como reserva de Didi e não chegou a entrar em campo. Também chegou a ser emprestado ao Grêmio e ao Millonarios (COL) antes de pendurar as chuteiras em 1969.

Aposentado do futebol, ele ainda trabalhou como supervisor de uma rede de cinemas e também em uma cooperativa de ex-atletas.

9 – JAIRZINHO

Jairzinho teve a dura missão de substituir o ídolo Garrincha com a camisa 7 do Botafogo, mas assumiu o posto com tamanha qualidade que foi chamado para fazer o mesmo na seleção brasileira. Jogou com Pelé pela primeira vez na Copa de 1966, mas o show viria no Mundial seguinte, em 1970, no México.

A exemplo do que aconteceu com Tostão, Jairzinho também era alvo dos críticos que não viam espaço para tantos craques “da mesma posição” juntos em campo. Em vez de ser o último atacante, o camisa 7 foi deslocado para a ponta direita, encontrou seu lugar entre as feras e foi o artilheiro do Brasil naquela Copa (sete gols em seis jogos).

Consagrado como o Furacão da Copa, Jairzinho ainda ficou mais quatro anos no Botafogo antes de ir ao Olympique de Marselha (FRA) em 1974.

Ele ganhou a Libertadores com o Cruzeiro dois anos depois, aí rodou por outros clubes, passou pelo futebol boliviano e encerrou a carreira no próprio Botafogo, em 1981, aos 37 anos.

No entanto, mesmo aposentado seguiu contribuindo para o futebol brasileiro: ele foi olheiro do São Cristóvão-RJ e um dos grandes responsáveis por levar Ronaldo Fenômeno ao Cruzeiro.

10- ZICO

Dois dos maiores jogadores da história do futebol atuaram juntos em um amistoso no Maracanã. No dia 6 de abril de 1979, aos 39 anos de idade, Pelé recebeu a camisa 10 do Flamengo, deixou a 9 com Zico e atraiu quase 140 mil pessoas para ver os dois juntos em jogo beneficente contra o Atlético-MG.

Com Zico, Pelé fez duas tabelas que lembraram os tempos de Santos e Coutinho. O Atlético-MG saiu na frente, mas Zico empatou em cobrança de pênalti. O Rei do Futebol acabou substituído no intervalo, e no segundo tempo o Galinho resolveu tudo: fez mais dois gols, e o Rubro-Negro goleou por 5 a 1.

Zico jogou demais, demais, demais. Foi um dos melhores que vi, junto com Eusébio e Cruyff. Tem muitos outros nomes, mas acho que esses três são os principais que vêm depois de mim.”Pelé

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