Em tempos de telas, livro segue essencial na formação de leitores críticos
Por Laeticia Bourgeois em 29/10/2025 às 19:22
Enquanto as telas ganham cada vez mais espaço no cotidiano, o livro luta para manter seu papel de protagonista na formação de leitores e pensadores. No Dia Nacional do Livro, celebrado em 29 de outubro, a data chama atenção para o poder transformador da leitura – um hábito que estimula o cérebro, enriquece a imaginação e ajuda a formar cidadãos mais críticos.
A leitura é considerada essencial para o desenvolvimento humano em qualquer fase da vida. Ler estimula o cérebro, enriquece a linguagem e a criatividade, ajuda no bem-estar mental e expande a compreensão do mundo e das relações interpessoais. Esses benefícios aparecem desde a infância até a terceira idade, influenciando diretamente as habilidades cognitivas e a qualidade de vida.
A leitura como base da formação
Na infância, o contato com os livros é um dos pilares do desenvolvimento intelectual e emocional. O hábito de ler amplia o vocabulário, desperta a criatividade e aprimora o pensamento crítico – habilidades fundamentais para o aprendizado e desempenho escolar. A leitura melhora a interpretação de textos, a capacidade de resolver problemas e a habilidade de conectar ideias em diferentes áreas do conhecimento.
Entretanto, não basta obrigar a ler. Em uma sociedade dominada pelas telas e pela velocidade da imagem em movimento, o livro pode parecer uma “mídia” menos atrativa. Por isso, o papel do professor é de extrema importância. É essencial que os professores consigam convencer os jovens a ler. Para isso, é preciso ser, também, um apaixonado pela leitura. Dar uma boa aula sobre Machado de Assis, lendo e pontuando trechos de suas obras, funciona bem mais do que simplesmente obrigar a ler o livro”, afirma o professor e escritor André Rittes.
Um país que lê pouco
Apesar de todos os benefícios da leitura, o Brasil nunca se leu tão pouco. Segundo dados do Instituto Pró-Livro, a média de leitura no país em 2024 foi de apenas dois livros por pessoa ao ano. Em comparação, os argentinos leem, em média, seis livros por ano. “Mesmo para os padrões da América do Sul, nossos índices são vergonhosos”, lamenta Rittes.
Além de ler pouco, o brasileiro costuma escolher leituras superficiais. As listas de mais vendidos são dominadas por títulos de autoajuda e livros de “fórmulas rápidas de sucesso”, o que revela um desinteresse por obras literárias mais profundas e questionadoras.
Uma nova visão de mundo
Mais do que um hábito, a leitura molda a forma como enxergamos o mundo. “Quem lê dificilmente aceita qualquer informação, se contenta com explicações simplistas ou visões generalistas. Ler torna as pessoas mais críticas, mais questionadoras, mais inconformadas – faz com que enxerguem o mundo por um telescópio; quem não lê, muitas vezes, vê apenas por uma pequena lupa”, observa o professor.
Essa capacidade de pensar de maneira crítica é uma das grandes vantagens da leitura – e também um dos maiores desafios em um país onde as telas tomam cada vez mais espaço. A era digital trouxe facilidades, mas também aumentou a dispersão. “Ganhamos tempo com as tecnologias, mas gastamos esse tempo nas redes. Culpar as redes sociais é fácil; o problema é a escolha individual. Eu, pessoalmente, não troco um livro por um celular”, afirma Rittes.
Papel ou tela: o importante é ler
As novas tecnologias, no entanto, também podem ser aliadas da leitura. Muitos leitores alternam entre o livro físico e o digital, aproveitando o melhor de cada formato. “Leio muito em e-reader – é prático, confortável, e tem dicionário embutido. Mas ainda prefiro o papel. É uma outra experiência”, diz Rittes. “São experiências complementares.”
Mais do que escolher o suporte, o essencial é cultivar o hábito. “Ler é como escovar os dentes – depois que você se acostuma, não consegue ficar sem”, compara o profissional.
Educação e o futuro da leitura
Promover a leitura no Brasil passa, sem dúvidas, por investir em educação de qualidade. O incentivo à leitura não é uma questão isolada, mas parte de uma estrutura maior. “O problema de estimular ou promover a leitura é só uma das facetas de um país que não investe o suficiente em educação”, ressalta e conclui o professor.