3,1 milhões em favelas vivem em vias onde só é possível passar de bicicleta, moto ou a pé
Por Yuri Eiras/Folhapress em 05/12/2025 às 10:42
Cerca de 3,1 milhões de moradores de favelas e comunidades urbanas do Brasil viviam em trechos de ruas em que apenas motocicletas, bicicletas ou pedestres conseguiam passar, em 2022, segundo dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (5).
O número representa 19,2% dessa população no Brasil.
Já fora das favelas, 1,3 milhão de pessoas viviam em trechos de vias com capacidade máxima para motos, bicicletas e pedestres. O dado representa 1,4% do total das pessoas que moram fora de favelas.
Entre as 20 maiores favelas e comunidades do Brasil, a Rocinha, no Rio de Janeiro, é aquela onde estava a maior proporção de moradores em trechos onde só passam motos e bicicletas. Dos 69.327 habitantes em 2022, 56.805 deles, ou 81,9%, vivem em vias desse tipo.
Na Rocinha, as ruas principais, com passagem de ônibus, tem imóveis comerciais. As vias transversais abrigam residências, em sua maioria.
Rio das Pedras, também no Rio, tinha 71,5% dos seus 55.555 moradores vivendo em vias mais estreitas, e Paraisópolis, em São Paulo, tinha 59,2% dos 57.617 habitantes em ruas do tipo.
Sol Nascente, em Brasília, e Cidade Olímpica, em São Luís, têm a menor quantidade de moradores em vias estreitas, apenas 0,3% de suas populações.
O Censo 2022 do IBGE aponta ainda que 62% dos moradores de favelas viviam em ruas onde era possível a passagem de caminhão, ônibus e veículos de transporte e carga. Fora das favelas, 93,4% dos brasileiros viviam em ruas mais largas.
Ruas com possibilidade de passagem para carros de passeio ou van eram a realidade de 18,8% dos habitantes de favelas em 2022, e de 5,3% da população fora da favela.
“Geralmente as vias na favela têm capacidade de para veículos de menor porte, e as diferenças [entre presença de vias largas dentro e fora das favelas] são maiores nas duas grandes metrópoles do Brasil. A proporção de capacidade vai diminuindo conforme vai chegando perto de favelas. Na Mangueira, no Rio, só 10% da população tem acesso a vias com capacidade para caminhão”, afirma Filipe Borsani, chefe do setor de pesquisas territoriais do IBGE.
Para os analistas do IBGE, a largura das vias influencia na oferta de serviços públicos como coleta de lixo e transporte. O instituto também pesquisou sobre a quantidade de pontos de ônibus em ruas de favelas. Segundo o Censo de 2022, 94,8% dos habitantes de favelas viviam em trechos de vias sem ponto de ônibus ou van. Em números absolutos eram 15,3 milhões de pessoas.
Fora das favelas, 12,1% dos moradores viviam em trechos com algum ponto de ônibus ou van.
Amapá (0,9%), Goiás (1,6%), Alagoas (2,1%) e Roraima (2,3%) foram estados onde menos de 2,5% dos moradores de suas favelas viviam perto de pontos de ônibus. No Tocantins, no Acre e no Maranhão, o percentual de habitantes de favelas que moravam perto de ponto de ônibus foi maior do que os moradores fora das favelas.
Nas comunidades Vila São Pedro, em São Bernardo do Campo, Colônia Terra Nova, em Manaus, Zumbi dos Palmares, em Manaus, e Chafik-Macacu, em Mauá, ao menos 10 em cada 100 moradores viviam perto de ponto de ônibus.
“O IBGE entende favelas como locais com predominância de domicílios com algum grau de insegurança jurídica de posse, edificações autoproduzidas e localizadas em áreas com restrição à ocupação. No Brasil há 6,5 milhões de domicílios em favelas, 7,2% dos domicílios do país são em favelas”, afirma Leticia Giannella, gerente de favelas e comunidades urbanas do instituto.
O IBGE também pesquisou indicadores como arborização, iluminação pública e pavimentação. Pela pesquisa, 35,4% dos moradores de favelas viviam em trechos de vias arborizadas em 2022; fora das favelas a proporção era de 69%. Entre as 20 maiores favelas do país, duas delas, Rocinha, no Rio, e Pernambués, em Salvador, tinham menos de 20% das pessoas vivendo em vias com calçadas.
A pavimentação também influencia na acessibilidade: mais de 95% dos moradores de favelas viviam em trechos de vias sem rampa para cadeirantes.
A iluminação pública foi o indicador com maior equivalência de presença dentro e fora das favelas. Dentro delas, 9 em cada 10 moradores (91,1%) viviam em trechos com presença de iluminação pública. Fora das favelas, 98,5% viviam com iluminação.
“Para a iluminação usamos o critério mínimo, que é a presença de infraestrutura. Ela está ali, mas muitas vezes o pesquisador passava durante o dia e não dava para saber se a iluminação funcionava ou não”, disse Borsani.