Atração da Tarrafa Literária, Mariana Carrara fala sobre a escrita como expressão

Por Beatriz Pires em 02/11/2024 às 07:00

Reprodução/ Instagram
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A programação da 16ª edição da Tarrafa Literária tem sequência neste sábado (2), com um aulão, três mesas de debate e uma sessão de autógrafos. Com entrada gratuita, o evento será todo concentrado no Teatro Guarany, em Santos.

Entre os destaques do dia está a mesa A escrita mostra quem somos, que acontece às 15h, com Mariana Carrara e José Falero, com mediação de Simone Batista.

Mariana Carrara, que também é defensora pública, tem sete livros publicados e despontou no cenário literário com a obra Se Deus me chamar não vou (Editora nós, 2019), que ficou entre os dez indicados ao Prêmio Jabuti 2020, na categoria “Romance Literário”.

Na sequência, Mariana foi novamente finalista do Jabuti, em 2022, com o romance É sempre a hora da nossa morte amém (Editora Nós, 2021). No ano passado, venceu o Prêmio São Paulo de Literatura com o livro Não fossem as sílabas do sábado (Todavia, junho/2022). Sua obra mais recente é A árvore mais sozinha do mundo (Todavia, agosto/2024).

Companheiro de mesa de Mariana Carrara, José Carlos da Silva Junior nasceu em Porto Alegre. Adotou o pseudônimo José Falero em homenagem à mãe, de quem herdou a veia artística, mas não o sobrenome. Estreou na literatura em 2019 com o livro de contos Vila Sapo (Todavia, 2022). Publicou o romance Os supridores (Todavia, 2020), vencedor do Troféu Alcides Maia na categoria Narrativa Longa e do Prêmio AGES Livro do Ano, além de ter sido finalista do Prêmio Jabuti na categoria Romance Literário e do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Melhor Romance de Estreia.

Neste mês, José Falero lançará o segundo romance pela editoria Todavia.

Confira abaixo uma entrevista de Mariana Carrara para o Santa Portal.

Há quanto tempo você trabalha como escritora?

Desde menininha, bem novinha, sempre adorei escrever. Então, eu fazia contos, crônicas. Sempre escrevi vários romances na adolescência também. E aí comecei a publicar com 20 anos. Publiquei meu primeiro romance, tudo em tiragens bem pequenininhas, tenho três livros da minha juventude, dos 20 aos 30 e poucos. 

Existem barreiras que as mulheres ainda enfrentam no mercado editorial?

Faz cinco anos que estou confortável no mercado editorial. E acredito que, pelo movimento de mulheres, as editoras abriram muito. O que acho que ainda existe é o contrário, algumas pessoas acham que tudo que está sendo produzido e publicado por mulheres é na base da condescendência. Enfim, acho que a resistência do leitor homem ainda é grande. A gente vê nos eventos todos os clubes literários e as palestras, são as mulheres que estão lendo a gente. Ainda falta um pouco do público de leitores homens, se interessarem de fato por nossa literatura como literatura universal. 

Nós, quando falamos de maternidade solo, de luto, de amizade entre mulheres, estamos falando de temas humanos. Então, acho que essa literatura é feita por mulheres, que tem sido cada vez mais procurada, num movimento de estímulo, de política. E uma vez que você começou a se interessar e a buscar livros escritos por mulheres, você começa a despertar um interesse mais espontâneo nisso, a perceber que há muitos temas que não foram explorados nos últimos séculos e que a gente está fazendo de um jeito que é interessante.

Qual é a importância da literatura feminina para a formação cultural e social dos leitores?

Não chamaria de literatura feminina, preferimos não falar assim, não é um termo que a gente usa, porque é como se a nossa literatura fosse um nicho e não fosse universal como é a literatura masculina, digamos assim. É uma literatura produzida por mulheres e de temas que deveriam interessar a todos. 

Acredito que é muito importante para a formação de todos os leitores ter acesso e interesse por literatura diversa do que nós vínhamos lendo nos últimos séculos, diria. E é importante tanto por prazer mesmo, porque a literatura tem que ser, acima de tudo, um prazer, mas para acesso a realidades diversas, não só de mulheres, mas de outros tipos de escritores.

Acho que é muito importante que a gente faça isso de forma empática, vamos trazer um cenário diferente, uma personagem diferente, nunca é demais treinar e vivenciar de forma empática, como nós fizemos por muitos anos com os livros dos homens, com alguns temas que eles trazem majoritariamente.

Suas obras são conhecidas pela escrita sensível e profunda, abordando temas complexos da vida cotidiana. Gostaria de saber de onde veio a inspiração para criar seus personagens?

Acho que são temas que rondam a minha cabeça, o medo da morte, solidão, envelhecimento, maternidade e principalmente a amizade, o vínculo de amizade entre mulheres, são temas que já me rondam e eles vão encontrando histórias, não sei rastrear de onde a inspiração vem, mas acho que esses temas vão fervilhando os pensamentos até uma hora que faz sentido, que a história surge.

Ou então, por exemplo, o meu último romance que realmente veio de uma coisa muito específica, que foi a matéria de jornal sobre a epidemia de suicídios no Rio Grande do Sul. Isso me levou a uma vasta pesquisa mesmo sobre a produção de tabaco no sul do Brasil e os agrotóxicos, enfim, a contaminação, a dívida, que eles acabam contraindo, um tema muito diferente dos meus outros livros, foi um romance que foi escrito com muita pesquisa que estimulava ideias e detalhes sobre as personagens. 

Qual é o impacto que você espera causar nos leitores com o seu trabalho?

Não escrevo pensando nisso, no leitor, é uma escrita espontânea, uma necessidade de trabalhar a linguagem em cima daquela história que está surgindo. Como qualquer autor, entendo que essa visão de mundo vai chegar de forma sensível aos leitores, na forma da ficção. Acredito que qualquer boa literatura acaba fazendo isso, principalmente se ela não pretende fazer isso, ela não calcula os seus passos na emoção do leitor e sim faz a arte mesmo que ela pretende fazer, o resto é uma consequência. 

Acho que quando você aborda uma amizade muito importante e que a personagem não cuidou, é uma mensagem. O leitor vai sentindo isso também sobre a própria vida, sobre as amigas que estão em volta, mesmo que não haja identificação com a personagem, existe identificação com o humano delas. Existem pessoas que me escrevem ou me falam mesmo em clube de leitura que reataram relações que estavam rompidas após algum dos meus livros. E isso não é um objetivo, lógico, não teria como articular uma história visando esse tipo de emoção, de reunião, mas é isso que a ficção acaba fazendo.

Um de seus livros mais populares se chama Se Deus me chamar não vou. como foi a recepção do público e o que essa experiência trouxe para a sua vida como escritora?

Foi com o Se Deus me chamar não vou, em 2019, que entrei de verdade para o mercado literário, porque o livro ganhou muitos leitores. É muito acessível, por ser narrado por uma menina de 11 anos. Tem um público muito amplo, de várias idades e contextos também. Então, consegui mesmo acessar um público também jovem. Foi um livro muito interessante na minha carreira, para abrir portas mesmo. A partir daí já tive a experiência de ser escritora com o público. As pessoas te dão retornos muito múltiplos, porque o leitor faz com o livro uma outra obra. Então, o livro bate em cada leitor de um jeito diferente. 

Programação do sábado

13h – Aulão Lítera

15h – Mesa: A escrita mostra quem somos com Mariana Carrara e José Falero e
mediação de Simone Batista

17h – Mesa: Por onde anda José Luiz Peixoto com José Luís Peixoto e mediação
de Manuel da Costa Pinto

19h – Mesa: Ficções perigosamente reais com Morgana Kretzmann e Pablo
Casella e mediação de Matthew Shirts

20h35 – Sessão de autógrafos e encerramento

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