03/04/2020

Temporal que matou 45 pessoas e deixou rastro de destruição na Baixada Santista completa um mês

Por Rodrigo Martins/#Santaportal em 03/04/2020 às 07:35

BAIXADA SANTISTA – O temporal que atingiu e castigou várias cidades da Baixada Santista completa um mês nesta sexta-feira (3). Os reflexos das fortes chuvas foram sentidos em todas as cidades da região, principalmente em Guarujá, Santos e São Vicente. Somando esses três municípios, o temporal causou 45 mortes, além de deixar um rastro de destruição nas comunidades locais.

Pessoas que demoraram seis horas para chegar em casa depois do trabalho; gente que ficou ilhada na entrada da Cidade; alagamentos por todos os lados. Esses foram alguns dos reflexos das chuvas que caíram forte e de forma ininterrupta da noite do dia 2 até a madrugada do dia 3 na Baixada Santista, transformando a região em um verdadeiro caos.

O impacto foi sentido logo no começo da manhã do dia 3, com as notícias das primeiras mortes oficialmente confirmadas.

A Barreira do João Guarda e o Morro do Macaco Molhado, em Guarujá, foram as comunidades mais atingidas. O cenário era de total devastação: barracos vieram abaixo, móveis e eletrodomésticos foram destruídos, além de muita lama, o que aumentou a dificuldade para que os bombeiros retirassem os escombros na procura por sobreviventes. Moradores dessas duas localidades e de outras comunidades da Baixada Santista ajudaram as equipes de resgate, colocando em risco suas próprias vidas.

Uma das histórias mais impressionantes dessa tragédia foi protagonizada pelos cabos Rogério de Moraes Santos (primeira foto abaixo) e Marciel de Souza Batalha (segunda foto abaixo), que morreram em uma tentativa de resgate no Morro do Macaco Molhado. Após ajudarem muitas pessoas a se salvarem, conforme relatos de moradores da região, os dois bombeiros foram surpreendidos por um segundo desabamento de terra. Eles tentavam encontrar uma mãe com o bebê. Tatiana Lopes de Lima Gomes, de 25 anos, e o seu filho Arthur Rafael de Lima, de apenas 10 meses, também foram vitimados pela tragédia.

noticia2020424816806.jpg
Divulgação/Corpo de Bombeiros

noticia2020424825478.jpg
Reprodução

O resgate do corpo do cabo Batalha, que estava desaparecido após o temporal, aconteceu na noite do dia 9 e foi cercado de muita emoção por parte dos seus colegas de corporação. Além disso, moradores da comunidade do Morro do Macaco Molhado aplaudiram a passagem do corpo do oficial. 

Outra morte que gerou grande comoção foi a de um idoso, que faleceu após o chão de um cômodo ceder em uma clínica de repouso na Vila Valença, em São Vicente . Moisés Elias Neto tinha 86 anos.

Em meio a tanta dor pela quantidade de pessoas mortas e desaparecidas, a tragédia tinha outra face também: a das pessoas que perderam tudo e ficaram desabrigadas. Centenas de moradias foram interditadas em áreas de risco pela Defesa Civil.

Em Guarujá, por exemplo, o número de desabrigados chegou a 200 após a chuva, que foram acolhidos na Escola Municipal Professora Dirce Valério Gracia.

Conforme os dias passavam, os trabalhos da equipe de resgate ficavam cada vez mais difíceis. Após um cruzamento de dados, ficou constatado que restava apenas uma pessoa a ser localizada: Evangleic Rodrigues de Oliveira, de 45 anos. Ela foi encontrada no dia 17 de março, após duas semanas de buscas. Até drones foram utilizados para ajudar os bombeiros a encontrarem a última vítima fatal da tragédia.

Evangleic foi localizada no Morro da Barreira do João Guarda. Ela tinha três filhos dela, além de uma cunhada e um cunhado que também morreram no deslizamento. Ela morava em uma das casas atingidas pelo temporal. Jhonnatan Robert Rodrigues Oliveira dos Santos, de 21 anos, Jhennyfer Gleice Rodrigues Oliveira dos Santos, de 19, e Alice Rodrigues Oliveira dos Santos, de apenas 9 anos, são os filhos de Evangleic que morreram na tragédia. Segundo os bombeiros, o corpo de um deles foi encontrado soterrado a menos de 25 metros da residência da família.

Os corpos de Laudemir Cilas Tibúrcio, de 60 anos, e Maria Elizabeth dos Santos Tibúrcio, de 55, cunhados da mulher desaparecida, também foram encontrados.

Na contagem final, Guarujá teve 34 mortos (23 no Morro da Barreira do João Guarda; 9 no Morro do Macaco Molhado, 1 na Rodovia Guarujá-Bertioga e 1 no Morro do Engenho). Santos teve oito óbitos e São Vicente três mortes.


Saiba o que está sendo feito um mês após a tragédia
Guarujá
A Prefeitura de Guarujá informa que a Defesa Civil do Município vem realizando vistorias diárias, além de orientação a população. Em função dos deslizamentos causados pelas tempestades no começo do mês, foram interditadas 830 moradias nos morros atingidos e cerca de 87 demolições. As interdições seguem critérios técnicos para determinar se as casas possuem condições de serem habitadas ou interditadas. Essas medidas levam em conta a instabilidade do terreno, trincas e rachaduras, distância entre a moradia e a encosta, escorregamentos antigos e dano estrutural.

De acordo com a Prefeitura, as famílias que perderam as suas casas foram cadastradas no Programa de Locação Social. Destas, 286 já recebem o benefício, incluindo as pessoas que ficaram abrigadas na Escola Municipal Dirce Valério. O local já não possui desabrigados e a unidade já foi entregue para Secretaria de Educação.

No dia 25, uma nova lista com mais 33 nomes dos beneficiários foi publicada no Diário Oficial, que se junta a outras quatro listas, que totalizam 253 nomes, já publicados anteriormente. Desde o dia 23, o cadastramento e atendimento às famílias são realizados via WhatsApp, por tempo indeterminado, seguindo as orientações metropolitanas, que visam evitar aglomerações em meio à pandemia do novo coronavírus (Codiv-19). O atendimento é das 8h às 14h. Os números para contato são (13) 3308-6919 ou 3308-6913.

Cerca de 800 pessoas estão cadastradas na lista de triagem do programa de locação social municipal. Seus dados estão sendo analisados minuciosamente pelos técnicos da Sehab. Nos próximos dias sairão novos decretos complementares até que todas as famílias atingidas, e que se enquadrem nos termos da lei que concede o benefício, sejam atendidas. O benefício municipal de locação social oferece R$ 3.700,00 ao longo de 12 meses, sendo uma primeira parcela de R$ 1.500,00, seguida por 11 parcelas consecutivas de R$ 200,00 por família.

A partir do dia 27, moradores de Guarujá também começaram a receber do Governo do Estado de São Paulo o Auxílio Moradia Emergencial (A.M.E.), que oferece o aporte inicial de R$ 1.000,00, seguido por mais 12 parcelas de R$ 300,00. A lista com os primeiros 61 nomes foi anunciada no site da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), conforme decreto no Diário Oficial do Estado. Todos foram comunicados pela CDHU das respectivas datas de pagamento do benefício, via mensagem SMS, no telefone celular.

A Prefeitura já formalizou pedido de recursos ao Governo do Estado e União, que juntos somam R$ 115 milhões para obras reparadoras nos morros da cidade, após estragos causados pelas tempestades no início do mês. O Estado liberou R$ 50 milhões para as cidades atingidas pelas chuvas na Baixada Santista. Desses, R$ 25 milhões foram destinados para Guarujá (município mais atingido pelo desastre), que serão investidos em obras de contenção de encosta, drenagem, construção de muro de arrimo, solo grampeado, entre outras correlatas. Técnicos da Prefeitura estão produzindo projeto executivo que definirá as técnicas mais adequadas às intervenções.

A partir da aprovação do Palácio dos Bandeirantes, a Prefeitura de Guarujá terá prazo de 180 dias para executar o projeto.

Em razão do estado de calamidade já decretado e reconhecido sumariamente pelo Governo Federal, as obras poderão ser feitas com dispensa de licitação, conforme os preceitos da Lei 8.666/93.

Pedido de mais R$ 90 milhões foi formalizado ao Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento Regional, para obras de restabelecimento da normalidade e reconstrução da estrutura. Uma das principais necessidades de Guarujá é a construção de muros de arrimo para todos os morros da cidade, que sofreram com os deslizamentos.

A exemplo das obras estaduais, será necessário aguardar o aval da União às propostas apresentadas. A partir disso, virão os projetos básico e executivo, que apontarão a solução mais apropriada para a execução, que terá prazo fixado de 180 dias para conclusão.

Santos
Com seis frentes de trabalho no Morro São Bento, começaram no dia 20 as obras emergenciais nos morros para resolver problemas decorrentes das fortes chuvas que atingiram a cidade a partir de 2 de março – em três dias, choveu em Santos mais do que a média prevista para março, provocando a decretação do estado de emergência (no dia 3).

“Estão sendo retirados os materiais decorrentes dos deslizamentos para as obras de contenção de encostas”, explicou o engenheiro da Prefeitura de Santos, Nilson Barreiro.

Os trabalhos estão concentrados em trecho de encosta no encontro das ruas Santa Valéria com Santa Marta; na Avenida São Cristóvão, proximidades do número 262, e na Rua São Roque.

Também na Avenida Santo Antônio do Valongo, em frente ao número 352; em frente à Avenida Santo Antônio do Valongo, nas imediações da escadaria São Domingos e na Avenida Santo Antônio do Valongo, junto à Avenida São João. Os serviços têm a supervisão da pasta de Infraestrutura e Edificações e deverão ser concluídos no prazo de seis meses.

Recursos
As ações são baseadas em mapeamento da Defesa Civil e de equipes multidisciplinares da Prefeitura, com prioridade para urgências consideradas ‘nível zero’, ou seja, que necessitavam começar o mais rápido possível. Contam com recursos de R$ 14.882.963,18 do Governo do Estado. As intervenções precisam ser concluídas em até seis meses, contados a partir de 3 de março. Fazem parte de um pedido que o município de Santos oficializou, no último dia 15, de auxílio financeiro aos governos estadual e federal para a realização de obras emergenciais nos morros São Bento, Santa Maria, Cachoeira, Fontana, Pacheco, Marapé, Penha, Jabaquara e em equipamentos públicos afetados pelas chuvas.

Auxílio-Aluguel
Começou a ser pago no último dia 27 o auxílio-moradia emergencial, que vai contemplar 398 famílias desabrigadas pelas chuvas que provocaram deslizamentos nos morros da cidade no início do mês. O valor mensal é de R$ 600, sendo R$ 300 provenientes do município e mais R$ 300 do Estado.

A ajuda financeira possibilita opção de moradia àqueles que ainda se encontram abrigados nos alojamentos da Prefeitura. O montante será pago mensalmente pelo período de um ano (tempo do convênio firmado). Junto com o primeiro pagamento, cada família receberá ainda R$ 1 mil referende à reparação de danos estabelecida pelo governo estadual.

Os saques serão disponibilizados gradualmente pelas agências do Banco do Brasil por causa das precauções contra o contágio pelo novo coronavírus.

O auxílio-moradia é concedido a munícipes cujas casas no morro foram consideradas inabitáveis pelos técnicos da Defesa Civil. Os núcleos familiares foram inseridos em um cadastro socioeconômico da Cohab Santista, encaminhado ao Estado por meio da CDHU.

São Vicente
No dia 26 de março, em videoconferência realizada com os dirigentes da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, foi alterado o nível do Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC) do município, passando do nível de alerta (nível em que começam a ocorrer os escorregamentos e é realizada a remoção da população de áreas atingidas) para o nível de atenção, tendo ainda contínuo monitoramento das áreas sujeitas a movimentos gravitacionais de massa. Após a tragédia, a Proteção e Defesa Civil estiveram monitorando as áreas de risco, inclusive impedindo que moradores retornassem às áreas atingidas e tomando as medidas necessidades para a contenção.

Com o objetivo de minimizar o risco dos locais, a Prefeitura de São Vicente apresentou projetos de restabelecimento e reconstrução dar áreas onde aconteceram os escorregamentos. Agora, aguarda o posicionamento do Ministério do Desenvolvimento Regional. Recebendo autorização, as obras poderão ser realizadas.

noticia2020425816140.jpg
Arquivo Pessoal/Jivaldo dos Santos Jr 

 

noticia2020425834749.jpg
Carlos Lopez/Santa Cecília TV

noticia20204333547.jpg
Divulgação/Corpo de Bombeiros

loading...

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.