Sérvio executado em Santos era procurado da Interpol por diversos homicídios na Europa

Por Rodrigo Martins em 11/01/2024 às 14:35

Márcio Piriquito/Santa Cecília TV
Márcio Piriquito/Santa Cecília TV

A Polícia Civil realizou uma entrevista coletiva, no final da manhã desta quinta-feira (11), no Palácio da Polícia, para falar sobre a identificação do estrangeiro vítima de um homicídio, na frente da mulher e do filho de quatro anos, na última sexta (5), em Santos. As autoridades confirmaram que Dejan Kovac, que seria esloveno, na verdade era o sérvio Darko Geisler, apontado como um criminoso acusado de diversos homicídios no leste europeu e cujo nome consta na lista de ‘Difusão Vermelha’, da Interpol.

Segundo informações obtidas pela Polícia Civil, Geisler usava nome falso e vivia clandestinamente no Brasil há nove anos.

“Inicialmente (o crime) gerou uma série de dúvidas em todos nós. Um cidadão esloveno morto, com um filho numa bicicleta e a mulher logo atrás, é um crime chocante, frio. O homicídio parece típico de uma execução, mas qual seria o motivo de um crime com tanta frieza e barbárie? Por isso, desde o começo mantivemos contato com o Dr. Lara porque percebemos que havia alguma coisa errada. Os investigadores do 3º DP, sob o comando do Dr. Lara, passaram a tentar coletar informações acerca de quem se tratava esse cidadão, que seria esloveno, e aí começa todo o desenvolvimento do resultado das investigações. Essa foi a primeira parte da investigação e muito importante, pois sabendo disso a linha de investigação sobre o real motivo do crime se amplia”, afirmou o delegado Seccional de Santos, Rubens Eduardo Barazal Teixeira.

Responsável pela investigação, o delegado do 3º DP de Santos, Luiz Ricardo Lara, destacou quais foram os primeiros passos do trabalho da Polícia Civil nesse crime.

“Logo após o crime, a Polícia Civil passou a trabalhar em duas frentes de investigação: a identificação da vítima – muito embora os familiares tivessem apresentado o passaporte esloveno dele – é muito importante em crimes contra a vida essa identificação da vítima para que se possa nortear a investigação. A primeira vertente é nessa linha. A segunda linha é realizada de forma ininterrupta, para que consigamos imagens que arrecadem indícios que tragam significativas informações sobre a identificação da autoria. Essas imagens são muitas e a Polícia Civil continua realizando diligências ininterruptas nesse sentido. Essas imagens estão sob análise. Portanto, quanto a autoria do crime ainda há um lastro da Polícia Judiciária que vem sendo praticado para chegarmos ao responsável pelo homicídio”, pontuou.

Em seguida, Lara explicou os caminhos percorridos pela Defesa Civil para conseguir realizar a identificação da vítima, em processo que contou com a colaboração de autoridades do leste europeu.

“Em um primeiro momento foram recolhidas provas testemunhais, com a sua esposa e amigos, pessoas com quem ele se relacionava. Chamou a atenção, logo na análise visual, que no passaporte dele não havia carimbo de ingresso no território nacional. Quando o estrangeiro ingressa em solo brasileiro sem constar carimbo da Polícia Federal, isso chama a atenção. De pronto entramos em contato com o Consulado da Eslovênia, que nos informou que naquela data de nascimento posta naquele passaporte não remetia sobre nenhuma pessoa de nacionalidade da Eslovênia. Eles informaram também que, pela numeração do passaporte, aquele documento havia sido declarado como extraviado no ano de 2017 e, portanto, cancelado. Sendo ele pertencente a outro cidadão de nacionalidade eslovena, que não aquele que constava ali como Dejan Kovac. A Polícia Civil realizou pesquisas em fontes no que diz respeito a fotografia da vítima de homicídio. Fazendo essa busca identificamos um evento acontecido em Montenegro, país separatista da antiga Iugoslávia, que remetia a uma pessoa suspeita de homicídios múltiplos, porte de arma e porte de explosivos. A característica física daquele investigado pela polícia de Montenegro era muito similar com a nossa vítima de homicídio na Rua São José”, disse.

Com as novas informações obtidas, em pouco tempo a Polícia Civil conseguiu estabelecer a verdadeira identidade do homem morto no Embaré.

“Com essas informações da Eslovênia, entramos em contato com a diretoria de Cooperação Internacional do Ministério da Justiça, que por sua vez fez contato com a polícia de Montenegro. Eles informaram sobre uma impressão digital daquele investigado como sendo de um matador de aluguel, suspeito de múltiplos homicídios em Montenegro. O laboratório do Departamento de Inteligência da Polícia Civil, ao receber esse material, fez a comparação com as individuais datiloscópicas da vítima de homicídio e emitiu um laudo, uma análise técnica da impressão digital desse matador em Montenegro com as digitais da vítima de homicídio aqui em Santos. E esse laudo deu positivo. Ou seja, podemos afirmar com absoluta certeza que se trata da mesma pessoa”, assegurou o responsável pelo caso.

O delegado do 3º DP de Santos ressaltou também a importância dessa informação, que mudou os rumos das investigações sobre o crime. Nesse momento, a Polícia Civil não descarta nenhuma hipótese, inclusive a possibilidade de que Darko Geisler tenha sido morto como retaliação por crimes cometidos no leste europeu.

“A investigação está no início. Acho que é uma questão muito importante, pois vai nos remeter a real motivação do crime. Mas somente durante o curso do inquérito policial que vamos poder dizer se há relação com o passado criminoso dele ou se há participação de organizações criminosas que atuam no leste europeu, até por motivo de vingança, por ele ser um matador de aluguel naquela região”, comentou Lara.

Esposa disse não saber do passado do sérvio

O delegado Lara também falou sobre o depoimento da mulher de Geisler. Segundo ele, a esposa da vítima não trouxe informações que ajudassem a estabelecer possíveis suspeitos da autoria do crime. Ela também negou ter conhecimento do passado do sérvio.

“O depoimento dela foi bastante sucinto. Ela disse que não tinha conhecimento do passado dele. O casal se conheceu em 2015 ou 2016, na cidade de São Paulo. Desde então, eles passaram a nutrir esse relacionamento. Vieram para a Baixada Santista no ano de 2017 e dessa relação surgiu um filho, que está com quase quatro anos. Ela reforçou que não sabia de nenhuma atividade antes do laço que os unia. Ela disse que ele era um bom pai, um bom marido, uma pessoa simples e pacata, com hábitos e costumes bem simples”, disse.


Foto: Márcio Piriquito/Santa Cecília TV

De acordo com Lara, Geisler supostamente se mantinha no Brasil com a renda de um comércio mantido pela família dele na Sérvia.

No entanto, um outro fato relacionado com a família do sérvio chamou a atenção da Polícia Civil.

“Ele tinha um filho brasileiro, de quatro anos, do relacionamento com a sua esposa. Porém, o menino não foi registrado com o nome do pai, apenas com o nome da mãe. Isso também foi decisivo para que realizássemos a identificação da vítima de homicídio”, apontou Lara.

O delegado Seccional de Santos informou ainda que, possivelmente, a mulher de Geisler deve ser novamente ouvida pela Polícia Civil.

“As declarações da esposa devem ser tratadas com ressalva, em virtude também dela se encontrar envolvida com ele. A investigação é dinâmica, isso não quer dizer que porque ela falou algo em um primeiro momento, isso está definido. Ela pode ser ouvida em outro momento mais oportuno. Com certeza ela vai ser chamada mais adiante para tentarmos esclarecer outros fatos. Tudo foi rápido, a investigação é dinâmica e ainda temos muitas dúvidas que pretendemos esclarecer ao longo das investigações”, completou Barazal.


Foto: Márcio Piriquito/Santa Cecília TV

Procurado na Sérvia

A Reportagem apurou que o sérvio Darko Geisler Nedeljkovic, de 43 anos, possuía um mandado de prisão em aberto na Sérvia pelo assassinato de Baranin Andrija Mrdak. Esse crime ocorreu no dia 25 de dezembro de 2014, em frente à porta do presídio de Spuz. Ele foi cometido a tiros diante de várias pessoas e, desde então, Darko era considerado foragido.

A foto de Darko publicada em um dos mais renomados portais jornalísticos da Sérvia é bastante parecida com a que o suposto esloveno Dejan Kovac aparece com a mulher brasileira na rede social dela. As fotografias sugerem que sejam do mesmo homem, obviamente tiradas em épocas diferentes com intervalo de pelo menos uma década. A mais antiga ilustra a reportagem daquele país. Na mais recente, a vítima da execução no Brasil está de barba.

Sérvia e Eslovênia, junto com Croácia, Bósnia e Herzegovina, Macedônia, Kosovo e Montenegro, são países independentes que surgiram na década de 1990, após a dissolução da República Socialista Federativa da Iugoslávia. Como o falso croata preso na Zona Noroeste horas antes da execução no Embaré portava documento de estrangeiro com prenome Darko, o mesmo do sérvio procurado, a Polícia Civil investiga eventual vínculo entre os crimes.

Segundo as autoridades sérvias, Darko Geisper Nedeljkovic seria ligado ao clã Škaljari, uma das máfias locais.

Autoridades policiais brasileiras e de outros países já identificaram a conexão da máfia dos Bálcãs, que atua naquela região da extinta Iugoslávia, com o Primeiro Comando da Capital (PCC). O vínculo é comercial e se destina ao envio de drogas à Europa, sendo o Porto de Santos o principal canal de exportação.

Em 2021, o IrpiMedia (Projeto de Jornalismo Investigativo da Itália, na sigla em inglês) revelou um esquema do Ministério do Interior da Macedônia para a emissão de passaportes falsos para narcotraficantes e outros mafiosos procurados internacionalmente.

Falso croata foi preso

O esloveno é sérvio e o croata, brasileiro. Parece confuso, mas a brutal execução de um estrangeiro na Rua São José, no Embaré, em Santos, na noite da última sexta, pode ter ligação com a prisão em flagrante, por tráfico de drogas, de Fábio Costa Neri. A captura ocorreu no mesmo dia, pela manhã, em outro bairro da cidade. A autoria do homicídio continua ignorada, mas agora se sabe que a sua vítima usava nome falso e era procurada por assassinato.


Foto: Divulgação

O acusado de tráfico é brasileiro, embora portasse Cédula de Identidade de Estrangeiro com a sua foto, mas em nome de Darko Malic, de “nacionalidade croata”. No documento falso consta como órgão emissor a Coordenação-Geral de Polícia de Imigração, da Diretoria Executiva da Polícia Federal. A documentação fake ainda informa que ela foi expedida em 6 de fevereiro de 2019, sendo 19 de junho de 2017 a data de entrada no País do suposto estrangeiro.

Uma justificativa simplista para Fábio utilizar um documento de identidade falso está no fato de ele ser procurado da Justiça e precisar ocultar essa condição. Condenado a dois anos, sete meses e cinco dias de reclusão por porte de entorpecente (para consumo próprio) e uso de documento falso (CNH), em processo que tramitou pela 2ª Vara Criminal de Cubatão, ele teve a ordem de captura expedida por fugir do estabelecimento onde cumpria a pena em regime semiaberto, conforme consta do seu mandado de prisão.


Foto: Divulgação

Por ocasião da captura de Fábio, policiais civis do 5º DP de Santos, com o apoio de equipes de outras unidades, foram até uma casa do Caminho da Capela, no Castelo (Zona Noroeste), para cumprir mandado de busca e apreensão. A ordem judicial foi solicitada devido a levantamentos de que haveria drogas no endereço. Os agentes não foram atendidos e precisaram arrombar a porta para entrar. O falso croata dormia e optou pelo direito constitucional de se manter em silêncio.

Além da identidade falsa, foram apreendidos 71 “cartões de visita” em nome de Darko Malic, a quantia de R$ 194,00, tablet, celular, balança de precisão, celular e dois tabletes de haxixe com peso total de 190 gramas. Em razão do entorpecente, Fábio foi autuado em flagrante por tráfico. Ele se recusou a informar a senha de desbloqueio do smartphone, mas a Justiça autorizou a quebra do sigilo dos equipamentos eletrônicos, que passam por perícia. A depender dos dados descobertos, a investiga

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