08/02/2021

Sem desfiles, escolas de Samba de Santos enfrentam crise financeira

Por Rodrigo Martins em 08/02/2021 às 17:08

CARNAVAL – Com o Carnaval 2021 cancelado, em virtude da pandemia do novo coronavírus, as escolas de samba de Santos vivem um ano atípico. Sem o desfile que acontece sempre no mês de fevereiro na Passarela do Samba Dráuzio da Cruz, as agremiações estão procurando alternativas para se sustentarem sem o carnaval.

“Estamos fazendo lives, vendas e a nossa escola está contando com doações da sua própria diretoria. Não temos como fazer nenhum evento presencial por causa da pandemia. Com isso, a diretoria está arcando com todas as responsabilidades, segurando as pontas para que possamos atravessar esse ano sem desfile”, disse Edson Ferreira, o Edinho, presidente da Real Mocidade Santista.

O presidente da Liga das Escolas de Samba de Santos, Benedito de Andrade Fernandes, o Ditinho, também falou ao #Santaportal sobre a preocupação da manutenção das escolas, bem como da comunidade do samba, em um ano sem carnaval.

“No meu ponto de vista o impacto econômico está sendo muito grande para as escolas de samba, principalmente para os profissionais que vivem do carnaval. Vejo com muita preocupação a ausência do carnaval neste ano, apesar de estarmos vivendo um momento atípico com essa pandemia. Digo isso devido a toda crise econômica que vive o nosso País e acaba atingindo o nosso Município”, comentou.

Ditinho lembrou que, em anos anteriores, as agremiações já tinham sofrido com perdas de receitas. Sendo assim, o cancelamento é um golpe ainda mais duro para os cofres das escolas santistas, que não dispõe de orçamentos milionários como acontece nos Carnavais de São Paulo e do Rio de Janeiro.

“Se paramos para analisar, Santos é uma das poucas Cidades que manteve o carnaval mesmo com a crise econômica que atingiu o Mundo e logicamente atingiu o nosso País e nossos Municípios. Desde desse acontecimento, o (ex-prefeito) Paulo Alexandre Barbosa, para manter o carnaval 2017, teve que fazer um corte de 55% no cachê das escolas de samba e no ano de 2018 houve mais um corte de 50%. Se paráramos para analisar viemos de um cachê no carnaval de 2016 de R$ 181.000,00 para um cachê de R$ 45.000,00 no carnaval de 2018. Mesmo assim, a Liga, com a preocupação de uma paralisação em nosso evento, chamou a responsabilidade para si, para não deixamos nosso maior evento ser paralisado. Mostramos toda nossa força e realizamos a cada ano um evento muito maior e mais organizado. Diante deste fator, todas as agremiações foram atingidas financeiramente com o cancelamento do carnaval, porque antes de decidimos por isso as agremiações já vinham se preparando para o carnaval 2021”, explicou o mandatário da Liga.

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Foto: Reprodução/Santa Cecília TV

Segundo Ditinho, a crise financeira também atingiu a Liga, que não dispõe de grandes meios para socorrer economicamente as escolas. “Devido a todos os acontecimentos com protocolos de segurança que temos que seguir, até a Liga está de mãos atadas para poder realizar algum evento para adquirir fundos para ajudar as agremiações, pois somos uma instituição sem receita e dependemos de parceiros e eventos para angariar fundos. As escolas de samba e a Liga realizam até algumas lives no começo da pandemia, em busca de receitas, mas isso não é o suficiente para manter as responsabilidades financeiras em dia. Os custos para dar andamento no projeto do carnaval são muito altos e algumas escolas tiveram que manter seus projetos em andamento até o mês de outubro, pois foi a partir deste mês que enxergamos que não haveria possibilidade de realizar o evento em 2021. Com essa decisão, vimos que algumas escolas tiveram um prejuízo muito grande com o cancelamento do evento”, afirmou.

Na União Imperial, a ajuda de associados da Verde e Rosa tem sido fundamental, inclusive para a manutenção do barracão da escola no Marapé. “Apesar da pandemia, nós continuamos fazendo ações sociais e estamos nos virando com ajuda de abnegados da escola, para suprir as contas de água, luz, dentre outras coisas. O nosso barracão sempre recebeu muitos eventos e isso era fundamental para manter a nossa quadra. O barracão é essencial para a gente, pois guardamos alegorias, instrumentos e até carros alegóricos aqui. Felizmente, contamos com a ajuda de 30 pessoas que são ligadas a União dando R$ 200 por mês para manter o barracão e nos ajudar a manter as contas em dia”, contou Luiz Alberto Martins, o Pelé, presidente da escola.

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Santos informou que, desde de março do ano passado, a Secult vem prestando assistência para toda comunidade artística da Cidade, mantido diálogo constante com os movimentos culturais. Graças a isso, desenvolveu diversas ações de apoio aos profissionais da Cultura nestes últimos meses.

A Secult acrescenta ainda que manteve os recursos dos termos de fomento com entidades culturais, apoiou a realização dos festivais locais e criou editais para estimular produção artística em Santos. “Somente nos dois editais da Lei Aldir Blanc, publicados no final do ano, foram destinados R$ 2,262 milhões a 74 espaços culturais e 235 projetos da Cidade”, completa a nota.

“Algumas agremiações chegaram a receber verbas através da Lei Aldir Blanc, do governo federal, porém não foi o suficiente para amenizar o prejuízo que as escolas tiveram com o cancelamento do carnaval”, argumentou Ditinho.

Edinho, por sua vez, ainda mantém a esperança de que a Prefeitura possa ajudar as escolas a se manterem nesse ano. “Estamos em reunião com o secretário (Rafael Leal), ainda não tem nada (sobre ajuda financeira). Devemos ter uma reunião nos próximos dias, mas ainda não retomamos as negociações para saber como a Prefeitura vai poder ajudar as escolas. Seria importante, pois estamos desde março do ano passado parados e sem conseguir gerar recursos em cima disso”, concluiu.

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Foto: Arquivo/#Santaportal

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