Sem panela de amigos, Messi se despede da Copa do Mundo em voo solo

Por Alex Sabino/Folhapress em 18/11/2022 às 21:09

A primeira lembrança de Javier Mascherano era do “menor de todos”. Para Pablo Zabaleta, ele era “tão calado que não se notava sua presença”. A reação de Sergio Agüero ao conhecê-lo foi “quem raios é esse moleque?”.

Anos depois, os três fariam parte do que ficou conhecido de “mesa chica” de Lionel Messi na seleção. Grupo do qual também faziam parte Gonzalo Higuaín, Sergio Romero, Ezequiel Lavezzi e Marcos Rojo. Era a turma dos amigos do camisa 10.

Em sua despedida em Copas do Mundo, ele vai em voo solo. Nenhum de seus velhos companheiros está mais na seleção.

“Os garotos dessa nova equipe são maravilhosos. Temos um grupo bárbaro”, elogiou mesmo assim o capitão.

Muitas vezes, a expressão “os amigos de Messi” foi usada como crítica. Tratava-se do grupo que tinha de estar sempre em campo para o melhor jogador da equipe não estar descontente. Como se o craque comandasse uma panela.
“Isso é ridículo. Vocês realmente acham que alguém joga na seleção da Argentina por ser amigo de Messi?”, disse Javier Mascherano antes do fiasco da Copa de 2018.

Foi com eles que Messi passou por mais momentos difíceis do que bons com a camisa alviceleste. Foi massacrado na Rússia pela sua aparente apatia. Ironizado em 2010 por ter se despedido do Mundial sem fazer nenhum gol. Acusado de não ser argentino na eliminação na Copa América de 2011 e “fracassado” por causa das derrotas nas finais do torneio continental de 2015 e 2016.

Mas ele vê no elenco que está em Doha preparando-se para o Mundial deste ano semelhança com outra equipe.
“Pelo que sinto, vejo nosso grupo parecido com aquele de 2014, com todo o processo até chegarmos à decisão.

Parece-me muito parecido por esse lado de um grupo que foi construído, criou uma força de conjunto e mental. Creio que isso é importante”, definiu.

Ele se refere ao time que perdeu para a Alemanha a final na Copa no Brasil. Até a montagem do elenco atual, Messi definiu aquele período, sob o comando de Alejandro Sabella, como seu tempo mais feliz na seleção.

Mas com seu grupo de amigos, mesa chica, qualquer que seja o nome, ele não conseguiu ser campeão com a seleção. Com o elenco atual, venceu a Copa América de 2021. E a Argentina desembarcou no Qatar como uma das favoritas ao título, apoiada em uma invencibilidade que dura desde 2019.

Sob o comando de Scaloni, ex-lateral que estava em campo quando Lionel fez sua estreia pela seleção, em 2005, em um amistoso contra a Hungria, o camisa 10 teve de encontrar novos parceiros. Todos mais jovens que o idolatram.
“Quando o encontrei pela primeira vez e ele veio falar comigo, não acreditei. Era incrível que eu estava ao lado de Leo”, disse o zagueiro Lisandro Martínez.

Ao lado de outro Martínez, Lautaro, Messi encontrou entrosamento ofensivo. Em Rodrigo De Paul, achou alguém capaz de brigar para recuperar as bolas e ajudá-lo com chegadas ao ataque. Enzo Fernández pode ter o papel de mais jovem e protegido que foi dele um dia.

De menino que pouco era notado quando não estava com a bola nos pés, ele passou a ser, aos 35 amos, o veterano que se diverte com as provocações do goleiro Emiliano Martínez aos adversários.

E este Messi, com a camisa da seleção, é vencedor. O que é melhor do que simplesmente ter um grupo de amigos para jogar truco ou videogame.

“Sempre somos os melhores, os candidatos, mas nem sempre foi assim. Um Mundial é muito difícil. Há que muitíssimas coisas darem certo para ser campeão, e várias seleções querem o mesmo que nós. Se não estamos bem, já há muitas que estarão melhores.”

Ao lado de Ángel Di María, De Paul, Nicolás Otamendi, Leandro Paredes, Lisandro Martínez e Juan Foyth, Messi foi um dos que não entram em campo no treino da Argentina nesta sexta-feira (18). Apenas fez exercícios na academia.

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