Santos registra alta de 130% na contratação de idosos nos últimos quatro anos
Por Beatriz Pires em 28/08/2025 às 05:00
A participação de idosos no mercado de trabalho em Santos teve um crescimento de 130% nos últimos quatro anos. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e do Ministério do Trabalho e Emprego, que analisaram a presença de aposentados com mais de 60 anos entre 2020 e 2024. Até 2020, 132 cargos eram ocupados por pessoas da terceira idade. Esse número mais que dobrou em 2024, chegando a 304.
De acordo com o economista Luciano Simões, a maior parte dos aposentados continua trabalhando por necessidade, já que muitos ainda sustentam a família e a aposentadoria se torna insuficiente diante do aumento do custo de vida. Por outro lado, o trabalho também se relaciona à dignidade e necessidade de se manter ativo, considerando que a qualidade de vida da população tem aumentado.
É o caso de Ivandelso Guedes, que, mesmo aposentado, segue trabalhando. Aos 64 anos, Guedes atua em uma empresa de revenda comercial do Mercado Livre e conta que não pretende parar tão cedo.
“O que me leva a trabalhar é tudo: financeiro, me manter ativo… é isso que me move. Eu gosto muito do trabalho. Enquanto tiver força, quero continuar trabalhando”, explica Guedes.
Guedes iniciou sua vida profissional cedo, aos 13 anos, sempre na área da mecânica. Ele relaciona a necessidade do trabalho à sua saúde mental e afirma que busca estar sempre em movimento. Segundo ele, a tecnologia não é um empecilho, já que procura se adaptar constantemente.
“O setor de serviços é o maior gerador de empregos na região, com participação de 62,6% — o equivalente a 251.665 empregos formais. É também o que mais absorve idosos, especialmente em áreas ligadas a trabalhos leves”, destaca o economista Rodolfo Amaral. “Comércio, turismo, saúde e finanças. Além disso, existe um ponto interessante sobre a dinâmica geracional: a percepção de que a geração mais jovem, abaixo dos 30 anos, apresenta alta rotatividade, o que leva algumas empresas a preferirem a estabilidade e o compromisso dos profissionais mais experientes”, complementa Luciano.
De acordo com Simões, a Reforma da Previdência teve impacto direto na permanência de idosos no mercado de trabalho, elevando o tempo necessário para alcançar a aposentadoria. Hoje, a idade mínima é de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens.
No aspecto econômico, a alta inflação e a baixa rentabilidade de investimentos tornam necessário complementar o benefício. Amaral aponta que a remuneração média de 62% dos aposentados e pensionistas não ultrapassa dois salários mínimos — valor insuficiente para cobrir despesas básicas, como planos de saúde e medicamentos.
O aumento da participação de idosos no mercado de trabalho também reforça o envelhecimento populacional. Amaral explica que esse cenário eleva o custo da Previdência Social, que já apresenta déficit superior a R$ 400 bilhões ao ano. Além disso, reflete no perfil de consumo, pois, com a aposentadoria, a remuneração tende a cair em comparação aos salários da ativa, o que reduz a massa salarial em circulação na economia.
Os economistas ressaltam que o preconceito etário (etarismo) e a dificuldade de adaptação tecnológica são os principais obstáculos enfrentados pelos idosos que desejam permanecer ativos. Por isso, destacam que a capacitação e o treinamento contínuo são essenciais para manter essa mão de obra relevante e competitiva.