Um chamado de última hora e a história reescrita por Robert

Por Guilherme Esron em 15/12/2022 às 06:00

No dia 14 de dezembro de 1995, o Santos viveu um dos dias mais difíceis de digerir de sua história. Perdeu o título do Campeonato Brasileiro, no Pacaembu, para o Botafogo (RJ), em uma partida marcada por uma arbitragem desastrosa do mineiro Márcio Rezende de Freitas.

Titular daquela equipe, o meia Robert teve a chance de viver uma nova experiência com a camisa do Peixe sete anos e um dia depois daquele fatídico jogo. Mas o roteiro veio com surpresas. Reserva do time de Leão, ele foi surpreendido com uma convocação às pressas na grande decisão. Diego, à época com 17 anos, se lesionou com menos de dois minutos de jogo. E coube a Robert manter o Peixe forte no clássico diante do Corinthians.

“Queria ter entrado no primeiro jogo, mas não entrei. Mas quando o Alberto tomou o terceiro cartão amarelo, jurava que ia ser escalado de primeira. Fiquei muito chateado, ao mesmo tempo indignado, eu queria entrar. O Leão preferiu iniciar com o Willian na frente, recuando o Diego”, recorda Robert.

A infelicidade de Diego, no entanto, garantiu a chance para Robert na vitória por 3 a 2 do Peixe, que deu o título do Brasileirão. “O Leão me chamou e já colei nele. O Leão falou entra, entra, entra. Eu sabia que era a primeira opção para entrar em qualquer situação do meio pra frente. Entrei com muita vontade, ajudando, cadenciando, acelerando quando tinha que acelerar, segurando quando tinha que segurar. Foi ótimo porque contribui bastante ali com os meus companheiros e participei efetivamente da conquista do título, principalmente no jogo final”.

Para Robert, foi após a derrota por 3 a 2 diante do São Paulo, na 18a rodada, que a equipe sentiu que poderia crescer mais na competição e marcar o nome na história.

“Naquele jogo contra o São Paulo, a gente teve uma noção, um sentimento que a gente poderia chegar longe, mesmo a gente perdendo o jogo. Acho que durante o jogo, a gente deu mostra que o nosso time era forte e empatamos a partida, né? Perdendo por dois, com um jogador a menos. Depois o São Paulo teve um pênalti, no final do jogo, mas ali a gente saiu com o sentimento de que a gente poderia chegar longe”.

Aliás, a partida serviu para reacender a rivalidade com o São Paulo. “Se criou uma rivalidade, teve aquela briga do Diego, comemorando em cima do escudo do São Paulo. Quando a gente se enfrentou no mata-mata, fomos com tudo e conseguimos eliminar eles”.

Mas o meia ressalta que o Peixe não fez uma campanha ruim na primeira fase. Antes da partida contra o São Paulo, na fase de classificação, o Santos derrotou o Corinthians por 4 a 2, fora de casa, e bateu o Atlético-MG por 3 a 2, na Vila Belmiro, além de uma vitória marcante por 4 a 1 diante do Cruzeiro, no Mineirão.

A última rodada, porém, trouxe apreensão para os santistas. O Peixe perdeu por 3 a 2 para o São Caetano, no Anacleto Campanella, ficando na dependência de uma vitória do já rebaixado Gama sobre o Coritiba, adversário direto por uma vaga nas quartas.

“A gente perdeu para o São Caetano e o Coritiba se ganhasse do Gama, rebaixado, ele classificaria. E, na realidade, deu Gama (vitória por 4 a 0). A gente saiu do Anacleto Campanella revigorado, era uma segunda oportunidade de continuar mostrando o nosso potencial e lutar pelo sonho do título”.

Um dos sucessos daquela equipe, segundo Robert, era a relação entre os jogadores. “Era união, um dando suporte para o outro. Era um grupo que não existia vaidade, ainda que Robinho assumindo o protagonismo, assim como o Diego, mas tinha o Elano jogando muito, o Alberto fazendo gol todo jogo, tinha o Renatinho maravilhoso, jogando de smoking, os dois zagueiros, os goleiros. O Fábio Costa, depois o Júlio Sérgio quando o Fábio se machucou, aí volta o Fábio Costa e faz o que fez na final; eu sendo jogador de seleção. Mas não tinha vaidade. Um gostava muito do outro”.

Sabor especial na nova história

Ter vivido a experiência de 1995 tornou o título de 2002 ainda mais especial para Robert. “Foi muito, muito emocionante. Ao mesmo tempo, me senti como um representante da nossa geração de 1995, fui um elo de ligação entre os times de 1995 e 2002. Tanto que dediquei o título, ainda no campo, para os meus amigos de 1995. Foi uma emoção muito grande”.

Robert credita também o sucesso da geração 2002 ao presidente do clube à época, Marcelo Teixeira, responsável direto por sua contratação, após passagens por Grêmio e Atlético-MG.

“O Marcelo foi quem me repatriou. Eu estava indo assinar com o Palmeiras quando meu empresário me ligou e falou que não iria mais para lá. Disse que eu ia para o Santos, na cidade que eu amo”.

Feliz com o retorno ao Peixe, o meia afirma que Marcelo Teixeira segurou o Santos nos momentos mais delicados da história do clube.

“Foi investindo dinheiro da família, dinheiro dele, sem medir esforços para elevar o nome do Santos, estruturar o time do Santos. Ele semeou bastante e colheu frutos pós 2002 também. Então a família Teixeira, Marcelo Teixeira, o saudoso seu Milton, as irmãs, foi uma família que realmente ajudou o Santos nos momentos mais delicados da história do clube”.

loading...

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.