26/03/2020

"Poucas medidas chegaram até a micro e pequena empresa", Renato Alonso Perez, do Sinhores

Por Ted Sartori/#Santaportal em 26/03/2020 às 09:30

CORONAVÍRUS – Renato Alonso Perez, diretor consultivo do Sinhores (Sindicato de Hoteis, Restaurantes, Bares e Similares da Baixada Santista e do Vale do Ribeira), participou do Bom Dia Cidades, da Santa Cecília TV, e também conversou com o #Santaportal a respeito dos problemas enfrentados pelo ramo em razão da quarentena de olho no combate ao coronavírus.

Como o sindicato e os estabelecimentos filiados a ele estão encarando essas medidas ligadas ao coronavírus?
Estamos acompanhando de perto essas medidas para ver se serão efetivas para nossa sobrevivência. Mas ainda não vimos nada nada em termos de manutenção de empregos, que é o que mais preocupa a categoria. Nossos funcionários vão ficar à mercê de um desemprego em massa. São 300 mil funcionários na nossa região. Estamos mais preocupados com essa situação. Nós tomamos algumas iniciativas também como sindicato.

Quais foram?
Mandamos ofícios para a Sabesp, para o cancelamento e suspensão das cobranças de taxas de água e esgoto por 90 dias, e também para as prefeituras da região pedindo isenção de ISS (Imposto Sobre Serviços) e IPTU por 90 dias. Não tivemos resposta ainda. Enviamos assim que começou a crise e as restrições.

Também foi pedida isenção da conta de luz?
O sindicato, acho, ainda não conseguiu entrar em contato direto com as empresas da região. Mas acredito que o pessoal esteja se movimentando também, pois é essencial. Muitos estabelecimentos têm câmara frigorífica, com artigos perecíveis guardados. Então não podem de parar de pagar a conta de luz e seria bom vir uma ajuda dessa parte.

E entre os sindicatos de patrôes (Sinhores) e o dos trabalhadores (Sinthoress) houve algum acordo?
Conseguimos elaborar um acordo coletivo entre os dois sindicatos prevendo a concessão imediata de férias, tanto individuais quanto coletivas, sem aviso prévio e com o pagamento de 1/3 só no vencimento original das férias do funcionário. Foi uma das medidas de emergência que tomamos.

Mas a preocupação continua…
Estamos preocupados que, de fato, pouquíssimas medidas chegaram até a micro e pequena empresa. De concreto. Existe a prorrogação do Simples, do FGTS, mas é muito pouco, não se consegue. Dezesseis dias fechado para um estabelecimento como o nosso é fatal. Existe o problema da demissão em massa que vai fatalmente ocorrer. Não tem como não fazer isso. As pessoas vão ter que encerrar os contratos de trabalho e mandar todo mundo embora. Ou seja, são 300 mil funcionários sendo mandados embora em poucos dias. Isso é uma catástrofe. Já imaginou 300 mil funcionários que vão deixar de ter plano de saúde, por exemplo, que a maioria dos estabelecimentos fornece e tem acordo? São 300 mil que vão deixar de pagar a escola particular dos filhos e essas crianças vão ter que correr para a rede pública de uma hora para a outra, entupindo o sistema.

E esse raciocínio, naturalmente, vale para a saúde pública…
A saúde vai ser uma loucura. Se a gente está preocupado agora com o coronavírus e um pico de atendimento, você imagina com esse monte de desemprego e as pessoas sem acesso à rede particular, eles vão correr para onde? Para a rede pública, que também vai ser um caos. A própria rede particular como vai se sustentar, se as pessoas vão perder os planos de saúde, deixando de pagar?

É um efeito cascata…
Exatamente. É por isso que a gente vê com bons olhos, esquecendo a parte política, o combate verticalizado. Porque você mantém injeção de dinheiro para o próprio combate ao coronavírus. Então vamos ver por uma questão humanitária. E também é uma questão a se estudar. Ninguém está ditando nada. Vamos estudar soluções de maneira humanitária, o que é melhor para ter fôlego e combater o coronavírus, provovcando o menor impacto econômico possível. É isso que a gente espera.

Nem o sistema de retirada no local e entrega em casa compensa esse prejuízo então?
Na verdade, todos os que podem estão trabalhando na parte de delivery e na entrega de balcão, que é a retirada. Porém, isso é muito pouco. Isso não consegue abastecer 10% da necessidade do estabelecimento. Você não tem uma demanda de delivery extraordinária. Teria que ser um negócio fora do comum, o que não tem. As pessoas também correram para os supermercados, estocaram produtos e estão fazendo mais comida em casa por não poderem sair. E outra: muitas pessoas – e ouvi isso de clientes – não vão gastar com delivery agora porque não sabem se vão ter emprego amanhã. Estão segurando o dinheiro o máximo possível para ver o que vai acontecer. É complicada essa situação. Se o Governo não trouxer para nós uma solução que seria o ideal, o seguro-desemprego por três meses para os funcionários, aplicando um valor entre 1 e 2 salários-mínimos, com certeza depois de 7 de abril, quando acabar essa quarentena ou for prorrogada, as demissões começarão em massa. E aí nós começaremos a ter esse caos social que tanto falam.

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