Morador de São Vicente realiza pesquisa em favelas dos EUA e sonha em “levar jovens para o mundo”
Por Allanis Rebelo em 09/06/2023 às 11:00
Mudar o mundo não é uma tarefa fácil e para alguns é quase impossível, mas não para um casal de noivos, moradores da Vila Margarida em São Vicente. Dener Marcos Xavier, de 31 anos, é empreendedor social na GlobalHood, professor de Inglês e fundador do Instituto Família Chegados. Ele e a noiva, Taynara Gois Dias, de 29 anos, coordenadora e articuladora social do Instituto, estão de malas prontas para os Estados Unidos, com o objetivo de estudar as favelas da maior economia do planeta.
Segundo o ativista social, o surf foi uma forma encontrada para ficar afastado de problemas recorrentes na comunidade, como a criminalidade. O esporte foi o primeiro passo para que Dener tivesse a disciplina necessária para criar seus projetos.
Nesta época, o jovem já tinha idade suficiente para participar de projetos como menor aprendiz, chegou a participar do Camp São Vicente e iniciou o trabalho na prefeitura do município, mais especificamente na Secretaria de Transporte, onde teve seu primeiro contato com o mundo dos cruzeiros.
Segundo ele, lá conseguiu se desenvolver e criar conexões, onde teve a oportunidade de fazer faculdade na área da comunicação mas não aceitou pois queria seguir o sonho de conhecer outros países.
“Eu acredito que o primeiro passo para realizar o sonho é colocar ele no papel. Escrevi uma redação sobre futuro no trabalho e percebi que eu queria viajar o mundo em cruzeiro. Então entrei para o Tripulantes do Futuro,” explica.
Ao participar do, atualmente chamado de “Jovens Tripulantes”, projeto social idealizado pela Deck 4. Denar viajou por cerca de 20 países.
“Eu pensava que quando você não tem dinheiro, a única coisa que você tem é seu nome. Então eu fui para o mundo. Eu nunca tinha saído de São Paulo e do nada estava em Copenhaga, na Suíça. Isso me fez perceber que eu posso ser tudo,” conta o ativista.
E foi nestas viagens a trabalho que o jovem, na Europa, conheceu o hip hop, modalidade que faz parte de seu projeto atual. “O rap trouxe o ‘ser’ para mim. Encontrei meu portal,” explica.
De volta a São Vicente
Ao voltar para o Brasil, Dener sentiu que mesmo com sua trajetória, precisava fazer a diferença na sociedade. Foi quando criou o primeiro projeto na comunidade onde morava, o Sarau de Esquina, que tomou grandes proporções pelo diferencial de fazer poesia em inglês, além de outros eventos como um “Favela Fashion Dique”.
Segundo o ativista, o grande marco foi quando ele e os demais voluntários sentiram a necessidade de ir além e “misturar o que a quebrada quer com o que ela precisa”, assim iniciando um festival de pipas, onde os atendidos pelo projeto escrevem os sonhos na pipa.
Após dois anos realizando o projeto, houve dificuldades financeiras para manter a ideia funcionando. Para reerguer, Dener fundou uma escola de idiomas na Vila Margarida, a “Biblioteca Banco” e a “Universidade de Rua”.
Estados Unidos
A partir deste mês, Dener e sua noiva, Taynara, conduzirão uma pesquisa de campo com o apoio da Be Earth Foundation (Fundação Seja Terra), uma organização intergovernamental que promove globalmente programas voltados aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.
Os jovens ficaram três meses nos Estados Unidos pesquisando as cadeias produtivas, links e oportunidades existentes entre a cultura do Hip Hop, Agroecologia e Economia Criativa nos guetos americanos, em específico em Crenshaw District, em Los Angeles, e Bronx, em Nova York.
O projeto, batizado de “multiquebradal”, estudará locais como o Gangsta Gardener, um campo da Agroecologia que inspira os jovens pelo seu projeto e o The Ron Finley Project, um sistema de engajamento comunitário a partir do visual, plantando legumes e verduras na rua.
O objetivo do multiquebradal é trazer para o Brasil referências para o Centro de Pesquisa que será implementado na sede do Instituto Chegados, localizado no México 70.
