Membros do PCC e mafiosos italianos são alvos de investigação iniciada após prisões em PG
Por Francisco Lima Neto/Folhapress em 10/12/2024 às 15:00
A Polícia Federal faz operação nesta terça-feira (10) em conjunto com autoridades italianas, nos dois países, contra dois grupos criminosos interligados responsáveis pelo tráfico de grandes quantidades de cocaína da América do Sul para a Europa. O trabalho decorre de uma equipe conjunta de investigação, que foi instituída após a prisão de dois membros da máfia italiana, Nicola Assisi e Patrick Assisi, em Praia Grande, em 2019.
As investigações envolveram uma rede complexa que operava principalmente por meio do Porto de Paranaguá, no Brasil, e com o uso de aeronaves privadas. A operação Mafiusi foi deflagrada no Brasil e na Itália simultaneamente. Foram cumpridos nove mandados de prisão preventiva no Brasil, um mandado de prisão na Espanha, e 31 mandados de busca e apreensão em endereços nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Roraima.
Também foram decretadas medidas patrimoniais de sequestro de imóveis, bloqueio de bens e valores existentes nas contas bancárias e aplicações financeiras dos investigados, que totalizam um valor estimado de R$ 126 milhões.
As ações realizadas nesta terça são um desdobramento da Operação Retis, que já havia desarticulado organizações criminosas responsáveis pela logística do tráfico de drogas no Porto de Paranaguá. Essas redes criminosas eram encarregadas de todo o aparato necessário para enviar cocaína da América do Sul para a Europa, utilizando esse ponto estratégico.
“As investigações também descobriram que, além do tráfico de drogas, o grupo estava envolvido em um complexo esquema de lavagem de dinheiro, movimentando bilhões de reais entre empresas e contas bancárias de fachada, além de adquirir bens e realizar transações fraudulentas. Durante o período de investigação, entre 2018 e 2022, a movimentação financeira dos investigados alcançou aproximadamente R$ 2 bilhões”, afirmou a PF.
Durante a operação, foi identificado que membros do PCC contratavam essa logística de transporte. Os integrantes de uma organização mafiosa italiana que atuava no Brasil eram responsáveis pela intermediação da compra e envio da droga para o continente europeu.
Diligências concluíram que o núcleo investigado fazia parte de uma organização criminosa internacional, dedicada ao tráfico de grandes quantidades de cocaína da América do Sul para a Europa. O Porto de Paranaguá era o principal ponto de saída, e o Porto de Valência, na Espanha, o de chegada.
A droga era transportada principalmente ocultada em contêineres com cargas como cerâmica, louça sanitária ou madeira. Além do transporte marítimo, a organização também usava aeronaves privadas para enviar cocaína para a Bélgica, onde membros da organização retiravam a droga antes da fiscalização nos aeroportos.
O trabalho faz parte de uma investigação conjunta entre Brasil e Itália, que foi instituída após a prisão de dois membros da máfia italiana em Praia Grande, em 2019. Desde então iniciou-se a cooperação jurídica e policial internacional entre os dois países, especificamente entre o Ministério Público de Turim- Diretoria Antimáfia, os Carabinieri Italianos do Raggruppamento Operativo Speciale, e do Comandante Provincial de Turim, a Polícia Federal, por meio do Grupo Especial de Investigações Sensíveis do Paraná, o Ministério Público Federal, a Receita Federal, a Procuradoria-Geral da República e a Guarda Civil Espanhola que culminou nas operações conjuntas nesta terça-feira em ambos os países.
Relembre o caso
Segundo a Polícia Federal, Nicola Assisi e Patrick Assisi foram presos na cobertura do prédio onde moravam, em 8 de julho de 2019. O edifício de luxo está localizado no bairro Aviação, em Praia Grande.
A cobertura onde os italianos foram presos possuía sofisticado sistema de vigilância, com câmera dome 360 na área externa, o que possibilitava identificar todas as pessoas que acessavam o prédio. Esse tipo de equipamento de uso exclusivo da cobertura pode custar até R$ 100 mil. O imóvel contava, inclusive, com uma passagem secreta para uma possível fuga em caso de cerco policial.
Os mandados foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da representação da Polícia Federal junto à Interpol, em cooperação à Polícia Italiana. Ambos estavam foragidos desde 2014, com passagens por Portugal e Argentina, utilizando-se de nomes falsos.
O grupo mafioso, baseado na região da Calábria, no sul da Itália, controlaria 40% dos envios globais de cocaína, sendo o principal esquema criminoso importador para a Europa.