16/02/2022

IPVA à vista ou parcelado?

Por Gabriel Sarmento Eid em 16/02/2022 às 06:25

Em 2022, o governo de SP resolveu triplicar o desconto no IPVA para pagamentos da cota única em janeiro (pagamento à vista). Além disso, também permitiu o inédito parcelamento em 5 vezes. Com isso, um a cada três moradores do estado de São Paulo aderiu ao pagamento da cota única para aproveitar o desconto. Mas sempre fica a dúvida: será que vale a pena?

Pagar qualquer conta adiantada ou à vista com desconto pode ser uma boa decisão. Mas, quando falamos sobre finanças pessoais, é sempre necessário analisar com cuidado.

Etapa 1 – Qual é o desconto?
O primeiro ponto a ser avaliado é se o desconto é “generoso”. No caso do IPVA, esse desconto de 9% é realmente bom. Caso fosse menos de 5%, aí já não valeria a pena… O desconto na medida ideal seria algo entre 10% e 15%. Ainda assim, 9% já é o suficiente para ser considerado.

Etapa 2 – Existe uma reserva de emergência?
Não adianta nada economizar pagando à vista com desconto se, no fim do mês, faltar dinheiro para as outras despesas. Quando isso acontece, quase que automaticamente entramos no cheque especial. E com a taxa de juros do cheque especial em 8% ao mês, o prejuízo é tão maior que acaba se sobrepondo ao desconto de 9% ao ano no pagamento à vista da primeira conta.

No ramo de planejamento financeiro pessoal, chamamos isso de Descapitalização. Ocorre quando a pessoa – ao pagar alguma conta à vista – acaba gastando uma grande parte do orçamento nisso, esquecendo que outras contas ainda virão. O resultado é a falta de dinheiro no fim do mês, podendo gerar dívida para manter em dia outras despesas imprescindíveis (luz, água, aluguel, etc.).

Por isso, é importante saber se há alguma reserva de dinheiro (um “pé-de-meia”, como chamamos na Economia). Pode ser uma poupança ou CDB de liquidez diária. Esse valor – somado ao orçamento do mês – será o máximo que podemos extrapolar em janeiro.

(Lembrando que esse raciocínio só é válido em Janeiro, pois é o mês das contas mais pesadas. Já no resto do ano, o ideal é trabalhar apenas com o orçamento base, economizar o possível mensalmente e alimentar novamente esse pé-de-meia… para que no ano seguinte, não se passe sufoco logo no primeiro mês).

Agora, se o consumidor não tiver nada guardado, o que infelizmente vale para a maioria dos brasileiros, essa possibilidade de pagar à vista nem existe. E a pessoa precisa bancar o mês de janeiro – e todos os outros – apenas com o que recebe mesmo.

Etapa 3 – Qual é o orçamento para o mês?
Por fim, a terceira etapa é estimar o quanto vamos gastar em janeiro. Assim, temos de tentar calcular o quanto gastaríamos com casa, comida, carro e saúde (as contas mais básicas e mensais). Na maioria dos casos, dá pra ter uma ideia aproximada. Mas, se a pessoa não tem a menor noção de quanto gasta com o básico, é bem provável que ela esteja dentro da média nacional: pouco mais de 2/3 (dois terços) da renda é consumida com habitação, transporte, alimentação e saúde.

Cálculo do orçamento
A conta é feita em dois passos:
Passo 1 – pegue a sua renda mensal e divida por 4.
Passo 2 – O resultado dessa divisão você multiplica por 3.
Resultado – Pronto! Já é uma boa aproximação de quanto de gastos básicos você terá em Janeiro.

O ideal aqui é a pessoa ter seu planejamento financeiro mensal, fazer uma planilha para controlar o quanto gasta por mês. Tipo um “Fluxo da Grana”, em que ela registra tudo que entra e, principalmente, tudo que sai. Quanto dinheiro sai, quando saiu e qual o motivo da saída. Exemplo: R$250 de conta de água em janeiro é uma saída para custos com habitação. Já R$450 de gasolina é uma saída de custos de transporte… E assim por diante.

Exemplo do cálculo
Imagine uma pessoa que ganha R$4.000 por mês.
Passo 1 – R$4.000 dividido por 4 dá R$1.000.
Passo 2 – Três vezes 1000 vai nos dar 3000.
Resultado – Nesse exemplo, os gastos básicos da pessoa giram em torno de R$3.000.

Se ela se fizer parte da maioria dos brasileiros, que fecha o mês no limite, ela provavelmente gasta com outras coisas algo em torno de R$800,00. Ou seja: com sorte e economia, de vez em quando sobram R$200,00.

Conclusão: no meu caso, IPVA à vista ou parcelado?
Não tem fórmula mágica: é necessário lembrar sempre as três etapas:
Etapa 1 – Qual é o desconto?
Etapa 2 – Existe uma reserva de emergência?
Etapa 3 – Qual o orçamento mensal?

*Gabriel Sarmento Eid é economista, mestre em Educação e sócio da F Fatorial.

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