22/03/2022

Inflação pode sofrer pressão prolongada, escreve BC em ata do Copom

Por Folha Press em 22/03/2022 às 10:46

Antonio Molina/Folhapress
Antonio Molina/Folhapress

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central avaliou que o choque de oferta decorrente da guerra na Ucrânia pode se traduzir em pressão prolongada sobre a inflação, conforme ata da última reunião divulgada nesta terça-feira (22).

O conflito entre Rússia e Ucrânia e seus desdobramentos nortearam a discussão do colegiado sobre a política monetária brasileira. Na última semana, o Copom elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, passando de 10,75% para 11,75% ao ano, maior patamar em cinco anos.

No encontro, o Copom considerou que o conflito no Leste Europeu adiciona ainda mais incerteza e volatilidade ao cenário atual, e impõe um choque de oferta importante em diversas commodities, em particular as energéticas.

“A reorganização das cadeias de produção globais, com a criação de redundâncias na produção e no suprimento de insumos e mudança no tratamento dos estoques de bens (no sentido de se deter maiores estoques), ganhou novo impulso com o conflito na Europa e as sanções aplicadas à Rússia”, detalhou a autoridade monetária.

“Na visão do Comitê, esses desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas na produção global de bens.”

Diante da deterioração do ambiente externo, o Copom incluiu em sua análise um cenário alternativo, avaliando o impacto da trajetória de preços do petróleo sobre suas projeções. “O Comitê considera que a divulgação de cenário alternativo é particularmente útil e informativa em ambiente altamente incerto”, disse.

Em sua avaliação, observou os preços dos contratos futuros de petróleo, negociados em bolsas internacionais, e as projeções de agências do setor, ambos convergindo para um preço do barril abaixo de US$ 100 ao fim deste ano.

“O Copom concluiu que seria adequado manter a hipótese usual no cenário de referência, mas adotar como mais provável um cenário com hipótese alternativa para a trajetória de preços do petróleo até o fim de 2022”, indicou.

Em sua estratégia de desacelerar o ritmo do aperto monetário, o colegiado indicou que o incremento de pelo menos 0,75% no ciclo de juros projetado em todo o horizonte relevante pesou em sua avaliação e explicou a decisão de elevar a Selic em 1 ponto percentual.

“Diante da volatilidade e incerteza da conjuntura atual, particularmente no cenário internacional, o Comitê optou por uma trajetória de juros mais tempestiva do que a embutida em seus cenários”, pontuou.

Na ata, o Copom reafirmou a previsão de um ajuste adicional da mesma magnitude na próxima reunião, ou seja, de 1 ponto percentual, o que levaria a taxa básica de juros a 12,75% ao ano em maio. Mas o comitê pondera que seus próximos movimentos podem ser ajustados, se necessário.

“O Comitê reconhece o cenário desafiador para a convergência da inflação para suas metas e reforça que estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário, caso o cenário evolua desfavoravelmente”, disse.

O Copom volta a se reunir nos dias 3 e 4 de maio, quando o colegiado do BC passa a olhar integralmente para a meta de 2023 em suas decisões sobre os juros, dada a defasagem nos efeitos da política monetária na economia.

Em relação à atividade econômica brasileira, o Copom destacou que a inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, e mais persistente que o antecipado.

“A alta nos preços dos bens industriais não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou ainda mais. As leituras recentes vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos mais associados à inflação subjacente”, sinalizou.

Na semana do encontro, a mediana da inflação projetada na pesquisa Focus pelos economistas para 2022 tinha subido de 5,65% para 6,45%, distanciando-se mais ainda do teto da meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). O objetivo a ser perseguido pela autoridade monetária neste ano é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Esse foi o cenário utilizado na simulação do BC.

O choque de juros é uma resposta do BC às sucessivas revisões para cima das expectativas de inflação para o próximo ano.

Com um ano de altas consecutivas, somando 9,75 pontos percentuais, o ciclo do aperto monetário encontra-se em estágio avançado no Brasil. O aumento dos juros no país é o maior entre as principais economias ao redor do mundo.

Em março de 2021, a Selic estava em 2% ao ano, menor patamar histórico.

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