Ibama vai rastrear cargas perigosas armazenadas no Porto de Santos
Por Carolina Iglesias em 06/08/2020 às 10:39
APÓS EXPLOSÃO EM BEIRUTE – O Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (Ibama) dará início a um monitoramento de produtos químicos perigosos armazenados no Porto de Santos. A medida ocorre após uma explosão no Porto de Beirute , na última terça-feira (4).
O grave acidente deixou 135 mortos e 5 mil feridos na capital do Líbano. As explosões foram causadas pela detonação de 2.750 toneladas de nitrato de amônio. A substância é um sal branco e inodoro, usado na composição de determinados fertilizantes na forma de grãos, altamente solúveis em água.
De acordo com a agente ambiental federal Ana Angélica Alabarce, responsável pelo Ibama na região, um comitê envolvendo autoridades portuárias, municipais, estaduais e federais deverá ser criado, em breve, para discutir como será realizado o rastreamento no cais. O objetivo é identificar como essas cargas são armazenadas e transportadas em nossa região.
O Ibama, anualmente, já realiza operações para vistoriar cargas perigosas abandonadas. Estamos sempre atentos a esse tema. Mas, depois do que ocorreu em Beirute, precisamos nos antecipar ainda mais. Nosso objetivo é o de prevenção, comenta a agente ambiental.
Saiba Mais
>> Vídeo mostra crianças e mulher sendo atingidas em casa por grande explosão em Beirute
>> Explosão em Beirute ocorre no pior momento da história recente do país
Margem Esquerda
De acordo com informações da Santos Port Authority (SPA), autoridade portuária de Santos, a movimentação de nitrato de amônio ocorre no Terminal Marítimo do Guarujá (Termag), localizado na Margem Esquerda do porto (Guarujá).
O produto armazenado neste terminal, o nitrato de amônio classe 5 (oxidante), é destinado ao uso agrícola. Ele não é estocado por longos períodos, com o monitoramento rigoroso da temperatura e umidade, rotatividade dos volumes armazenados e misturados a calcário, para dar maior estabilidade ao produto.
O Termag é licenciado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e possui autorização do Exército brasileiro para armazenagem. Já na Margem Direita (Santos), não há armazenamento e, quando há operação deste produto, ela é feita com descarga direta, acompanhada por equipes de fiscalização. No ano passado, mais de 2,2 milhões de toneladas de fertilizantes foram desembarcadas no cais santista.
Em nota enviada à Reportagem, a autoridade portuária informa que o Termag possui Plano de Gerenciamento de Risco (PGR) e Plano de Ação de Emergência (PAE) aprovados no âmbito de sua licença de operação. Os operadores que atuam na Margem Direita realizam suas operações de descarga utilizando, obrigatoriamente, funil ecológico e kit de atendimento a emergências, sempre acompanhados por equipes de fiscalização de Operações e de Segurança do Trabalho/Meio Ambiente da SPA.
A autoridade portuária também fiscaliza os terminais no que se refere à Segurança e Meio Ambiente no âmbito do seu Plano Anual de Fiscalização (PAF) e, pontualmente, quando se faz necessário. No Porto de Santos, a autoridade portuária ressalta que a segurança é prioridade, assim, todos os procedimentos operacionais são seguidos criteriosamente pelos responsáveis pelas operações e acompanhados por intensiva fiscalização, propiciando total segurança à população.
Conforme especialistas, o nitrato de amônio é um produto seguro, desde que não aquecido. Isso porque a partir de 210ºC o produto decompõe-se e, se a temperatura aumentar para além de 290ºC, a reação pode tornar-se explosiva.
O que se sabe até o momento sobre o acidente no Porto de Beirute é que as cargas estariam armazenadas sem o atendimento de normas de segurança, não havendo qualquer informação sobre o que de fato ocasionou o acidente em questão.
Mapeamento de cargas abandonadas
A agente ambiental do Ibama destaca que já são desenvolvidos mapeamentos do órgão federal na região, para identificar em quais terminais há cargas perigosas abandonadas. O trabalho é desenvolvido com o apoio da Receita Federal. A ideia agora é ampliar essa varredura, a fim de entender o que realmente ocorre no cais santista.
Nosso objetivo é iniciar um trabalho de prevenção e também conscientização, a partir da localização dessas armazenagens. É um trabalho em conjunto e que já tivemos o aval da autoridade portuária para dar início. Não queremos que uma desgraça como essa ocorra em nosso Porto.
Ana Angélica relembra a operação minuciosa realizada em 2017, durante o transporte de 115 cilindros com seis tipos de gases tóxicos e inflamáveis, que foram queimados em alto-mar. A existência dos cilindros de 20 anos, naquela ocasião, foi revelada depois que a Codesp solicitou autorização ao Conselho Municipal de Meio Ambiente de Guarujá para queimar os gases no Município.
O Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) do Ministério Público abriu um inquérito para investigar o caso, e pediu um plano de destinação à estatal. A solução apresentada pela Codesp, em acordo com órgãos ambientais, foi a de destruí-los em alto-mar.
Ontem já conversei com o superintendente da autoridade portuária e vamos acionar agora a Capitania dos Portos, para dar prosseguimento a este rastreio no Porto de Santos. Quero unir forças para traçar um trabalho preventivo em nossa região. Se tivermos esse mapeamento, estaremos preparados em casos de acidente , finaliza.
Ainda serão convidados a Receita Federal, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A SPA reforça que todos os terminais que operam com produtos perigosos, sejam a granel ou conteinerizados possuem, no âmbito de suas licenças de operação, Estudos de Análise de Risco (EAR), Plano de Gerenciamento de Risco (PGR) e Plano de Ação de Emergências (PAE). A SPA fiscaliza e determina por meio de resoluções medidas de controle ambiental e de segurança.
Em Santos, a Companhia do Estado de São Paulo (Cetesb) tem o registro de duas empresas, no ramo de armazenamento e transporte, que operam com o nitrato de amônio. As duas empresas estão com suas licenças de operação regulares e cumprem uma série de exigências técnicas, para segurança e controle no manuseio do produto.