Há 18 anos, Santos encerrava fila com título brasileiro em final histórica

Por Rodrigo Martins em 15/12/2020 às 16:51

SANTOS FC – No dia 15 de dezembro de 2002, o Santos dava fim a um jejum de 18 anos sem títulos. Há exatos 18 anos, a equipe praiana, liderada pela dupla Diego e Robinho, tirava o grito de “É Campeão” que estava entalado na garganta do torcedor santista. Em uma trajetória histórica, o título veio diante do maior rival do Peixe, o Corinthians, em um jogo decidido apenas nos minutos finais e vencido pelo Santos, por 3 a 2, no Morumbi.

Esse título é lembrado com carinho pelos torcedores santistas e já virou até livro. A obra “Das Arquibancadas à Presidência – 2002”, de Marcelo Teixeira, presidente do clube nessa histórica conquista, foi lançada em 2018, relembrando detalhes do campeonato  que resgatou a autoestima do torcedor alvinegro e recolocou o Santos no topo do futebol nacional, abrindo espaço para outros grandes títulos nos anos seguintes.

Palavra do presidente: Marcelo Teixeira
Atualmente presidente do Conselho Deliberativo do Peixe, Marcelo Teixeira era o mandatário no clube na época dessa conquista histórica. Em depoimento ao #Santaportal , Teixeira falou sobre esse título que marcou a retomada do Santos, após um longo período sem erguer troféus.

“Nossa, temos muitos detalhes que lembramos. É uma grande conquista pela identidade dos atletas com a torcida, pela média de idade da equipe, muito jovem, pelo longo jejum de títulos, por enfrentar um rival que tirou o título paulista de 2001 nos segundos finais do jogo, aos 50 minutos do segundo tempo, por ser o mesmo que tínhamos conquistado o último título de 1984 com a coincidência da família Teixeira, por dar o direito de retornar à Libertadores da América após tantos anos e valorizar o prestígio do clube, resgatar a autoestima do torcedor, dentre outros feitos. Tivemos que percorrer muitos obstáculos até alcançarmos essa histórica conquista”, disse.

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Foto: Arquivo/Assecom Unisanta

Como tudo começou
Para chegar até a taça, o caminho do Alvinegro Praiano foi repleto de dificuldades. Para chegar até o ápice da decisão contra os corintianos, precisamos voltar no tempo. Após uma campanha irregular no Torneio Rio-São Paulo, Marcelo Teixeira, que era o presidente santista na época, demitiu Celso Roth do comando da equipe e apostou na chegada de Emerson Leão, que na época era um dos melhores treinadores do país. Ele havia sido demitido da seleção brasileira no ano anterior e estava livre no mercado.

Apesar da escolha por Leão, que já havia passado pelo clube (1998-1999), o Santos não tinha dinheiro para grandes investimentos. A solução encontrada pela diretoria foi apostar em jovens promessas da base e reforçar o elenco com apostas, como o goleiro Júlio Sérgio, que veio do Comercial-SP, e o lateral-direito Maurinho, que veio do Etti Jundiaí (atual Paulista de Jundiaí). Mais rodado, o centroavante Alberto também chegou ao clube para ser um dos “homens de confiança” de Leão dentro do elenco.

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Foto: Arquivo/Divulgação Santos FC

No entanto, grande parte de imprensa duvidava da capacidade da equipe santista. Ignorando os comentários mais pessimistas, e alinhado com o pensamento da direção do clube, Emerson Leão trabalhou intensamente durante os quase quatro meses que o Peixe ficou sem disputar partidas oficiais. Aos poucos, o comandante foi encaixando as peças e dando conjunto ao time.

Porém, para dar a certeza de que os Meninos da Vila poderiam dar muito trabalho no Campeonato Brasileiro, faltava uma atuação de gala. Após bater o Glasgow Rangers (Escócia), por 1 a 0, em amistoso disputado em Nova York (Estados Unidos), o Santos enfrentaria o Corinthians, repleto de jogadores consagrados, e que já havia conquistado o Rio-São Paulo e a Copa do Brasil naquele ano.

Em uma jornada inspirada, o Peixe não deu chances ao Timão e, com gols de André Luis, Willian e Renato, bateu o rival por 3 a 1, em plena Vila Belmiro, e passou ao torcedor a confiança de que essa equipe poderia chegar muito longe no Brasileirão.

Primeira fase
Em sua estreia, o Santos derrotou o Botafogo, por 2 a 1, na Vila. Na segunda rodada, o Peixe foi derrotado pelo Juventude, em Caxias do Sul. Na sequência, nova vitória em casa, desta vez 3 a 0 sobre o Figueirense. A toada do começo da campanha foi essa: triunfos em casa, mas o time sofria fora de casa, e não conseguia ganhar. A primeira grande atuação fora de casa aconteceu no empate com o Fluminense, por 1 a 1 no Maracanã.

A primeira vitória santista fora de casa no Campeonato Brasileiro de 2002 aconteceu diante do Vasco, por 2 a 1, em São Januário. O resultado encheu o grupo de confiança.

Após o empate por 1 a 1 com o Palmeiras, em clássico na Vila Belmiro, o Alvinegro Praiano voltaria a encontrar o Corinthians. Com uma atuação brilhante no Pacaembu, o Santos não deu chances para o adversário e atropelou, ganhando por 4 a 2, em partida marcada pelo golaço de bicicleta de Alberto.

Depois de perder um polêmico clássico para o São Paulo, por 3 a 2, o Santos sofreu o seu primeiro revés em casa, sendo derrotado pela Portuguesa de Desportos, por 2 a 1. Na sequência, o Peixe sofreu mais alguns tropeços que colocaram em risco a sua classificação para o mata-mata. Na última rodada da primeira fase, os santistas perderam por 3 a 2 para o São Caetano, mas uma vitória do rebaixado Gama sobre o Coritiba, por 4 a 0, levou o Alvinegro Praiano para as quartas de final.

São Paulo pela frente
Classificado na oitava posição, com 39 pontos, o Santos teve o São Paulo pela frente nas quartas de final. O adversário havia terminado a fase de classificação no primeiro lugar. O Tricolor era favorito, mas as provocações aos jogadores santistas encheram os Meninos da Vila de ânimo.

Logo no jogo de ida, disputado na Vila Belmiro, o Peixe não deu chances ao rival e fez uma de suas melhores exibições em todo o campeonato. Voltando ao jogar o seu melhor futebol, o time praiano venceu o São Paulo por 3 a 1, com gols de Alberto, Robinho e Diego. Kaká descontou para os tricolores. A partida marcou também o retorno do goleiro Fábio Costa aos gramados, após meses se recuperando de uma cirurgia no joelho. Ele entrou no lugar de Júlio Sérgio, que contundido, não pôde mais atuar no Brasileirão.

No jogo de volta, um susto logo nos primeiros minutos: Luis Fabiano abriu o placar no Morumbi. A pressão são-paulina era grande e o Santos foi bastante sufocado durante todo o primeiro tempo. Mas, aos poucos, a equipe foi se acalmando em campo, colocando a bola no chão e oferecendo perigo ao adversário também.

No segundo tempo, os santistas dominaram o duelo. Em tabelinha com Robinho, Léo deixou tudo igual no placar. O gol do camisa 3 deixou o São Paulo desesperado e os espaços para os contra-ataques começaram a aparecer. Diego, já nos minutos finais, resolveu a parada com um belo gol, recebendo passe de Robinho, antes de deixar Fábio Simplício no chão e tocar com o bico da chuteira no canto de Rogério Ceni: 2 a 1.

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Foto: Arquivo/Divulgação Santos FC

Grêmio nas semifinais
Classificado após eliminar o poderoso São Paulo, o Peixe chegou forte para as semifinais contra o Grêmio. Logo no confronto de ida, uma vitória por 3 a 0 sobre os gaúchos, na Vila Belmiro, aproximou o time de Leão da final. Alberto, com dois gols, e Robinho marcaram os gols do triunfo em tarde inspirada dos santistas. O final do jogo foi marcado pelo nervosismo dos gremistas, especialmente do goleiro Danrlei, que havia ameaçado o atacante Robinho.

Na partida de volta, Rodrigo Fabri fez o gol da vitória do Grêmio, mas a derrota por 1 a 0 no Estádio Olímpico não foi o suficiente para impedir que o Santos fosse para a grande decisão.

Último obstáculo: Corinthians
Daquele amistoso em julho até a final do Brasileirão. O Corinthians seria o adversário da final. Apesar da grande fase dos santistas, a mídia esportiva dava certo favoritismo aos corintianos, pelo fato de contar com jogadores como Fabio Luciano, Kleber, Vampeta, Gil e Deivid em seu elenco.

Mas, logo no primeiro duelo, o Peixe mostrou que debaixo d’água é com ele mesmo! Em uma tarde chuvosa de domingo no Morumbi, o Alvinegro Praiano venceu por 2 a 0, com gols de Alberto e Renato no fim, deixando os comandados de Leão muito próximos da taça.

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Foto: Arquivo/Divulgação Santos FC

Enfim, o dia 15 de dezembro de 2002 chegou. Para os torcedores santistas, tanto os mais velhos quanto os mais novos, era o dia da redenção. Afinal, o clube estava em uma longa fila de 18 anos sem títulos de expressão.

No entanto, não seria fácil. A apreensão tomou conta dos torcedores logo no primeiro minuto, quando Diego sentiu lesão muscular na coxa e deixou o gramado. Robert entrou em seu lugar.

Mesmo assim, o time da Vila se superou e Robinho, em tarde inspirada, chamou para si a responsabilidade de conduzir a equipe dentro das quatro linhas, fazendo aquela que é considerada até hoje a sua melhor atuação com a camisa santista – e, provavelmente, de toda a sua carreira.

Ousado, Robinho deu oito pedaladas para cima de Rogério e sofreu pênalti do lateral corintiano. O próprio camisa 7 pegou a bola e, mesmo com 18 anos na época, mostrou a frieza de um veterano para deslocar Doni e converter a penalidade: 1 a 0.

A vitória parcial dava uma maior tranquilidade ao Peixe, mas o Corinthians não desistia. Fábio Costa, outro personagem de destaque naquela tarde, começou a aparecer decisivamente. O goleiro fez uma série de grandes defesas, fechando o gol de sua equipe.

No final do segundo tempo, entretanto, os corintianos conseguiram dois gols: Deivid empatou aos 30 e Anderson virou para o Timão, aos 39 minutos. Com o 2 a 1, o Corinthians estava a apenas um gol do título. Para o torcedor do Alvinegro Praiano, a tensão aumentava, porque na memória vinha a lembrança da traumática eliminação para o rival no Campeonato Paulista do ano anterior, com um gol de Ricardinho na última jogada.

Só que dessa vez, o desfecho seria diferente e transformou o drama em uma das vitórias mais épicas da história santista. Robinho escapou da marcação e tocou para Elano. Como um raio, o meia empatou a partida novamente, aos 43, e praticamente selou o título.

No entanto, ainda haveria tempo para o gol da consagração. Aos 47, Robinho recebeu pela esquerda e, endiabrado, tirou Kleber e Vampeta para a dança, enganando os marcadores corintianos e rolando para Léo, que com um chute de direita – ele é canhoto – jogou a pá de cal nas pretensões do Corinthians e tirou de vez o grito de “campeão” das gargantas santistas, em uma partida que entrou para a história do futebol brasileiro.

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Foto: Arquivo/Divulgação Santos FC

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Foto: Antônio Gaudério/Folhapress noticia20201215505918.jpg
Foto: Arquivo/Divulgação Santos FC

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