Estado de SP deve anunciar detalhes da redução da tarifa e fatia do governo na privatização da Sabesp

Por Thiago Amâncio e Thiago Bethônico/Folha Press em 08/04/2024 às 06:00

Divulgação/PMB
Divulgação/PMB

O Governo de São Paulo deve definir nos próximos dias como será a oferta de privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Pessoas familiarizadas com o processo ouvidas pela reportagem afirmam que a modelagem da venda de ações já chegou à mesa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e que o anúncio dos detalhes da privatização pode ser feito entre os próximos dias 10 e 17 de abril.

Isso inclui informações como a quantidade de ações que o estado colocará à venda, o valuation (avaliação de valor da empresa) e o porcentual da redução da tarifa prometida pelo governo.

A modelagem da privatização, como é chamada esta etapa, precisa antes ser aprovada pelo CDPED (Conselho Diretor do Programa de Desestatização). Com o martelo batido, Tarcísio deve convocar uma entrevista coletiva para anunciar os detalhes.

De acordo com pessoas ouvidas pela reportagem, após a divulgação, o governo já pode fazer a oferta de ações em Bolsa em 30 dias. A expectativa, contudo, é que o leilão de privatização ocorra até julho.

A ideia é que o Governo de São Paulo venda 30% da Sabesp, o máximo previsto em lei aprovada pela Assembleia Legislativa no ano passado. Atualmente, o estado possui 50,3% da companhia.

No entanto, segundo pessoas que acompanham as negociações, essa parcela de venda pode diminuir. Isso porque os papéis da Sabesp têm se valorizado muito nos últimos tempos, o que faz a compra ficar mais cara. A ação da companhia fechou na semana passada negociada a R$ 84. Há duas semanas, estava cotada a R$ 76.

Entre os detalhes que também podem ser definidos na modelagem está o novo estatuto da Sabesp, que estabelecerá, por exemplo, como será a composição do conselho e limite de votos.

O documento também deve manter o Governo de São Paulo como maior acionista, colocando uma trava – chamada no mercado de “poison pill” – que estabelece um valor impraticável para as ações de algum comprador que tente ter fatia majoritária na Sabesp.

Além disso, o novo estatuto estabelecerá o encarregado de escolher o CEO da companhia. Uma possibilidade é que essa prerrogativa fique com o acionista de referência, enquanto o estado será responsável por nomear o diretor financeiro (CFO).

Esse novo estatuto precisa ser aprovado em assembleia na Sabesp, mas não deve haver entraves já que o governo tem hoje a maior parte das ações da companhia.

Embora a decisão possa sair das mãos do governo, membros da gestão Tarcísio avaliam como positivo manter na companhia o atual presidente, André Salcedo, para dar uma noção de continuidade na empresa.

A figura do acionista de referência é um desejo do Governo de São Paulo para que haja um grupo estratégico comprometido com a empresa no médio prazo. O modelo é diferente de uma venda plena, quando as ações de uma companhia são pulverizadas na Bolsa.

No caso da Sabesp, o acionista de referência teria pelo menos 15% dos papéis, idealmente com experiência no setor de saneamento.

Na passada semana, a Aegea, maior empresa privada de saneamento básico no Brasil, disse estar montando um consórcio em parceria com fundos de investimentos para se tornar acionista de referência.

Segundo o CEO Radamés Casseb, entre os parceiros estão as gestoras de investimento Perfin e Kinea, assim como os principais acionistas da Aegea, Itaúsa e o GIC (fundo soberano de Cingapura). Haveria ainda outros interessados em negociação para compor o bloco.

A Aegea já era apontada como uma das interessadas em se tornar acionista de referência. Além do grupo, empresas como Votorantim, Veolia, Equatorial, Cosan e J&F também estariam sondando a oferta.

Uma pessoa a par das negociações disse que a francesa Veolia, umas das maiores empresas de saneamento do mundo, teria sinalizado uma reserva de 2 bilhões de euros (R$ 10,9 bilhões) para ofertar no leilão da Sabesp. Procurada, a Veolia disse que a afirmação não procede.

Pessoas familiarizadas com a privatização da Sabesp dizem que a previsão de ter um acionista de referência foi uma forma encontrada pelo Governo de São Paulo para evitar um “risco Eletrobras”.

Assim, o estado conseguiria pulverizar o controle, mas mantendo um grupo com maior influência na administração da empresa.

Também querem evitar mudanças constantes no conselho de administração, vistas como ruins para a imagem da empresa, a exemplo do que acontece com a Vibra, nome da antiga BR Distribuidora, privatizada em 2019.

A Sabesp registrou lucro de R$ 3,5 bilhões em 2023, 12,9% maior do que no ano anterior, segundo balanço divulgado em março. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) foi de R$ 9,6 bi, 35,9% maior do que em 2022.

Raio-X da Sabesp

Fundação: 1973

Lucro líquido 2023: R$ 3,5 bilhões

Valor de mercado: R$ 57 bilhões

Funcionários: 11.170

Municípios atendidos: 375

População atendida: 28,4 milhões

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