Conheça Fernando Russell, criador do melhor hambúrguer do Brasil

Por Noelle Neves/Colaboradora em 23/06/2018 às 19:53

PERSONALIDADE SANTISTA – Qual é a receita para o sucesso gastronômico? Com boné na cabeça, camisa larga, barba espessa e cara de mau, Fernando Russell vai direto ao ponto: pão de brioche, maionese verde, bacon caramelizado, 200 gramas de queijo camembert empanado e 180 gramas de blend de carnes. Esses ingredientes montam o Camemburguer, eleito pelo programa “Mais Você”, apresentado por Ana Maria Braga na TV Globo, como o Melhor Hambúrguer do Brasil.

Fernando não esperava que sua “chatice para comer” na infância traria frutos. E, muito menos, que o talento apurado nos macarrões e estrogonofes, que ele teimou em aprender, o levariam tão longe. Afinal, vencer duas mil pessoas em um concurso e levar para casa o prêmio de melhor hambúrguer do país, é tarefa para bem poucos.

Que fique bem claro: a chapa quente não é sua única e talvez nem a mais importante ferramenta de trabalho. Além de excelente cozinheiro, Russell pode ser descrito de diversas formas: professor universitário, youtuber, colaborador de um podcast e dono de uma hamburgueria que já ganhou fama em todo o Brasil.

Nascido em Santos, em 1976, Russell sempre foi um cara de temperamento agitado. Seus hobbys eram surfar, desenhar e andar de skate. Mas a maior cidade da região não foi seu lar por muito tempo e, aos 11 anos, em 1987, mudou-se para o Rio de Janeiro.

Filho de Maria Judith e Ricardo, Fernando teve o primeiro contato com o ramo alimentício assim que sua morada se tornou a cidade maravilhosa. Copacabana era o lar dos conjuntos comerciais e com isso veio o seu primeiro trabalho não-remunerado. Entregava, de skate, as marmitas de comida preparadas pela mãe.

Após a separação dos pais, voltou para Santos em 1997 e ingressou no curso de Publicidade e Propaganda. No meio do curso descobriu que também gostava de Jornalismo. Na época, ele e o atual sócio, Rodrigo Novaes, criaram um fanzine chamado Underground falando de música, surfe e cultura pop.

No segundo ano da faculdade, estagiou na Agência Experimental de Publicidade e Propaganda da universidade e, posteriormente, na Clã Publicidade, o que lhe trouxe bons frutos.

“Quando me formei, em 2005, comecei a dar aulas e fiz alguns ‘freelas’. Também fiz alguns jogos de videogame para Warner, Fox e Intel. No ano seguinte, meu antigo chefe na agência, que era diretor de marketing da faculdade que estudei, me chamou para trabalhar lá como técnico de laboratório, o que me garantiu 100% de bolsa para cursar Jornalismo”, disse.

O Tucano
Pronto, a carreira no Marketing estava decolando e a de “nerdcaster” acabava de começar. O NerdCast é um podcast de primeiro lugar em audiência no Brasil e trata de assuntos como história, cinema, literatura, games e RPG.

O primeiro episódio gravado foi em 2006 e falava sobre X-Men nos Quadrinhos. Como era amigo dos criadores do NerdCast, Alexandre Ottoni e Deive Pazos, e dominava como poucos a cultura Nerd, Russell passou a colaborar sob o codinome ‘Tucano’, devido ao nariz que – antes da rinoplastia – era grande. Segundo Russell, durante um período, ele gravava dois ou três NerdCasts por mês. Mas não tem participado tanto atualmente, porque o elenco cresceu e o tempo diminuiu.

O amor está no ar
Ano agitado! Também em 2006, descobriu o tempero especial de sua vida: a engenheira civil Bárbara Pola, conhecida como ‘Basinha’, chegou. Os dois se conheceram em uma festinha de 2 anos do filho de um casal de amigos deles. A mãe da criança colocou Russel sentado ao lado da moça e os apresentou. Brincaram na piscina de bolinhas e trem fantasma, cantaram parabéns juntos e então foram para um ‘after’, onde deram o primeiro beijo.

No terceiro dia, já tinha amigo gritando: “tá namorando”! Com um ano de relacionamento, ficaram noivos, mas segundo Bárbara, já viviam grudados. “Quando rolou um dinheiro, fizemos uma festa de casamento, que este ano vai completar 10 anos”, relembrou.

Ficou sério
Em 2007, começou o MBA em Marketing. E, três anos depois, surgiu a oportunidade dele assumir o cargo como gerente de marketing. Entretanto, o coração estava em outro lugar: na cozinha.

A diversão de Fernando era ir ao mercado, escolher um ingrediente novo e cozinhar. Além de aliviar o estresse, era uma forma de estar próximo da esposa, já que a rotina era corrida. O casal entrou em um combinado de que Bárbara escolheria um país e o marido cozinharia uma comida com os ingredientes e escolheria um vinho para harmonizar.

No dia em que a França foi escolhida, ‘Basinha’ gravou de um celular Fernando cozinhando. Foi em 2011 e ele classificou como “horroroso”, mas surgiu a ideia de levar adiante. O que o brecou foi a falta de equipamento necessário para garantir produções com algum nível de qualidade.

No ano seguinte, ele lançou a ‘A Maravilhosa Cozinha de Jack’, com ajuda de dois ex-alunos, Fábio e Juliana, e está no YouTube até hoje.

De acordo com ele, o nome veio porque queria fazer uma citação ao programa de culinária ‘A Cozinha Maravilhosa de Ofélia’ e o Jack veio por causa de um filme.

A primeira receita gravada foi a de carne de javali, que ele nunca tinha sido testado. Russell conta que raramente faz as receitas antes de gravar e revelou que a maior preocupação é cozinhar coisas que ele gosta.

O maior desafio até o momento foi fazer o Bife Wellington. “Esse deu certo, mas muitas receitas deram errado e, ou consertei na hora ou falei que estava ótimo, quando não estava. Tem muita coisa engraçada nos bastidores. A gente lavando a louça não é nada glamouroso”, destacou, em tom bem humorado.

Uma das coisas curiosas é o local de gravação. No início, o cenário era a cozinha do amigo Rodrigo. Tucano e os sócios levavam todos os ingredientes, eletrodomésticos e equipamentos.

“Sempre esquecia alguma coisa. Uma vez, fui fazer uma receita com peperoni e não achei em supermercado algum. Então, comprei um salame pequeno e polvilhei na páprica picante. Ninguém percebeu. A gente precisa ensinar certo, a pessoa não vai provar”, contou.

Em média, a gravação demora 1h30 e leva três dias para a edição estar completa. Em um dia, costuma gravar três ou quatro vídeos. O canal é atualizado semanalmente.

Oportunidade na Globo e Ana Maria Braga
“Irmão, participa do concurso da Ana Maria Braga. É para ver quem faz o melhor hambúrguer. Desbanca quem acha que sabe. Elabora uma receita e envia um vídeo para eles fazerem uma triagem”. Essa foi a mensagem que chegou ao grupo da Família Russell, em 23 de fevereiro do ano passado. A irmã por parte de pai de Fernando, Bruna, sabia que o irmão seria capaz de ganhar.

Bruna e Bárbara se juntaram e o convenceram a se inscrever. De começo, não levou a sério. Pensava em abrir um empreendimento gastronômico e achava que se fosse, pelo menos, para a etapa presencial, já seria legal. Ele enviou o vídeo em abril, mas só o chamaram em agosto, quando já tinha desistido.

Ele e mais 11 pessoas foram para o Rio de Janeiro gravar o programa. Eram quatro pessoas por programa e quem ganhasse cada etapa, ia para a final. Quando ele ganhou, ficou surpreso, porque segundo ele “parecia final da Copa do Mundo”.

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Divulgação

Seven Kings
Ao contrário do que muitos pensam, o título não foi o grande responsável pela mudança de vida do professor e youtuber.

Em 2015, Rodrigo, o amigo que emprestava a cozinha, foi conversar para abrir um restaurante. “Eu virei para ele e falei: ou vamos ser sócios ou concorrentes”, lembrou Novaes. Eles queriam fazer uma hamburgueria que gostassem de frequentar, com bons hambúrgueres e boas cervejas. Queriam ir além e fugir dos hambúrgueres congelados ou lanches de praia. Por isso, a carne é selecionada, comprada diariamente. Nada é industrializado. O bacon é do tipo “premium” e o pão é um brioche especial.

Escolheram sete tipos de hambúgueres para serem “reis” do lugar, e as rainhas são as cervejas artesanais, com mais de 30 opções. O “Rei do cardápio” é o Carlos Magno, mais conhecido como Camemburguer. “Ele é simples, basicamente um x-bacon. Mas foi inovador, porque foi o primeiro a ter um camembert inteiro empanado. O bacon candy, muito mais ‘carnudo’ e caramelizado dá o toque final”.

Ao contrário de muitos cozinheiros, que não revelam seus segredos e receitas, com o Tucano é tudo às claras. Ele acredita tanto nisso que, metade dos hambúrgueres vendidos em seu restaurante já foram ensinados na ‘Maravilhosa Cozinha de Jack’. Para o canal, ganhar o título de Melhor Hambúrguer do Brasil não fez muita diferença. “Se eu ganhei 5 mil seguidores foi muito. São públicos diferentes. Mas para a lanchonete, sim. Recebemos pessoas de outros estados para tirar foto e comer”, comentou.

E a vida social? Cadê?
Dar aulas, estar à frente de um restaurante, gravar para o Youtube e para podcasts é desgastante. Por isso, Russell considera a rotina estressante, porque não tem dias de folga.

Quanto a proximidade com a esposa, apesar da correias, eles afirmam que estão mais unidos do que nunca. Fernando e Bárbara ficaram mais caseiros. Então, quando eles não estão trabalhando, estão juntos. O tempo livre é recheado de leituras e vários episódios de seriados.

Casa de ferreiro, espeto de pau
“Durante muito tempo, cozinhar era meu lazer, aliviava estresse e eu podia ser criativo. Adorava ir ao supermercado e procurar coisas que nunca tinha usado. Ingredientes e sabores novos. Mas hoje, trabalho com isso e virou minha obrigação. Ainda gosto de criar, mas em casa, por exemplo, não cozinho mais”, desabafou.

A paixão dele não diminuiu, só as condições que não são mais as mesmas. O ambiente da cozinha não é o preferido do empreendedor a não ser quando é para preparar uma receita muito especial, com calma.

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