Carro alegórico que prensou menina infringiu norma de trânsito e do Carnaval, indica laudo
Por MATHEUS ROCHA/FOLHAPRESS em 03/06/2022 às 21:33
O carro alegórico da escola de samba Em Cima da Hora que prensou a menina Raquel Antunes, 11, durante o Carnaval do Rio, em abril deste ano, infringiu normas do código de trânsito e do regulamento dos desfiles da série ouro.
Segundo laudo de reprodução da morte da menina, feito pela Polícia Civil, o veículo foi acoplado ao reboque por meio de correntes e parafusos, o que está em desacordo com as normas de trânsito. De acordo com o artigo 236 do código, rebocar outro veículo com cabo flexível ou corda, com exceção de casos de emergência, constitui infração média.
Além disso, o carro alegórico da Em Cima da Hora desrespeitou o regulamento dos desfiles, documento que exige que as alegorias tenham, na parte dianteira, uma lança para engate ou guincho. A alegoria da agremiação não tinha essa peça, razão pela qual os funcionários precisaram usar correntes e parafusos para acoplar o veículo ao reboque.
A escola de samba Em Cima da Hora diz que teve acesso ao laudo e que tudo está sendo “devidamente esclarecido com as autoridades.”
A falta de um guia no lado direito do carro é outro elemento que ajuda a explicar a tragédia. De acordo com o laudo, havia um guia na frente do reboque e outro à esquerda. Ambos tinham a função de orientar a saída do carro depois do desfile.
No entanto, no lado direito, não havia nenhum profissional. Foi justamente o lado direito do carro que prensou Raquel contra o poste, que estava sem iluminação no dia do acidente.
A baixa luminosidade do lado direito, segundo o laudo, também contribuiu para o acidente. Isso porque o condutor do reboque não era capaz de perceber a presença de pessoas sobre o carro alegórico.
Os peritos também identificaram que o poste contra o qual Raquel foi prensada estava instalado sobre a guia da calçada, o que está em desacordo com as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Sobre o acidente Raquel Antunes da Silva, 11, foi prensada entre um carro alegórico da escola de samba Em Cima da Hora e um poste na rua Frei Caneca no dia 20 de abril. O acidente aconteceu durante a dispersão da escola.
Marcela Portelinha, mãe da menina, disse que no dia do acidente levou a filha a uma praça perto do Sambódromo, onde elas fizeram um lanche.
Pouco depois, Raquel acabou se distanciando e subindo em cima do carro alegórico. Segundo Marcela, um dos irmãos da menina chegou a pedir que ela descesse da alegoria. “Mas ela falou que queria tirar foto para poder postar nas redes sociais.”
Sem perceber que a criança estava lá, o condutor deu partida no veículo, o que acabou causando o acidente. Segundo a pastora Aline da Mota, que é amiga da família, tudo aconteceu muito rápido.
“Em 20 minutos, no máximo, uma coleguinha dela veio dizer que a Raquel tinha sofrido um acidente”, afirmou à Folha a pastora da igreja Assembleia de Deus no Morro de São Carlos, frequentada pela família da menina.
“Não havia segurança alguma, ela subiu no carro alegórico para tirar foto e sentar. E daí aconteceu essa tragédia.” A polícia trata o caso como homicídio culposo, ou seja, quando não há intenção de matar.
Imagens de câmeras de segurança mostram o acidente que matou a menina. No registro, é possível ver que apenas o guia da frente orientando o reboque que transportava o carro alegórico.
Após a menina ser prensada, é possível observar no vídeo uma intensa movimentação de pessoas na lateral da alegoria; alguns pedestres são vistos correndo em direção ao local do acidente.