08/01/2020

Carlos Ghosn disse que se sentia refém do Japão e esperava mais ajuda do governo brasileiro

Por ANSA em 08/01/2020 às 13:25

MUNDO – O ex-presidente da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi Carlos Ghosn disse nesta quarta-feira (8) que “não teve escolha” a não ser fugir do Japão para o Líbano.

A declaração foi dada em uma coletiva de imprensa em Beirute, cidade para onde o executivo franco-brasileiro escapou no fim do ano passado. “Foi uma decisão difícil, tomada na impossibilidade de ter um julgamento justo”, afirmou.

Essa é a primeira entrevista de Ghosn desde novembro de 2018, quando ele foi preso no Japão sob a acusação de fraude fiscal. Desde então, o executivo passou 130 dias na cadeia, foi demitido da presidência da Nissan e da Mitsubishi e renunciou ao mesmo cargo na Renault.

Ghosn ficou preso em isolamento e foi libertado pela última vez em 25 abril de 2019, mediante pagamento de fiança. Sua casa em Tóquio era vigiada por câmeras de segurança, mas ainda assim ele conseguiu fugir para o Líbano, onde também tem cidadania.

“Não escapei da Justiça, eu fugi da injustiça e de perseguições políticas”, declarou Ghosn, dizendo ser vítima de uma “campanha sistemática de atores malévolos” para “destruir” sua reputação.

O brasileiro é acusado no Japão de ter subnotificado rendimentos e de ter desviado recursos da Nissan para fins pessoais. Ele alega, no entanto, que as denúncias são uma trama de executivos da montadora e de procuradores japoneses para frear seus planos de aumentar a integração com a Renault. “Eu era refém de um país ao qual servi por 17 anos”, salientou.

De acordo com o executivo, ele era “interrogado durante oito horas por dia, sem advogados e sem entender exatamente do que era acusado”. No período de liberdade condicional, Ghosn também tinha seus deslocamentos e encontros limitados. “Fiquei nove meses separado de minha esposa [Carole Ghosn]”, disse.

O brasileiro ainda acusou as autoridades japonesas de violarem seus “direitos humanos” e sua “dignidade”. De acordo com o executivo, os procuradores queriam obrigá-lo a confessar os supostos crimes e ameaçaram “ir atrás” de sua família. “[Fugir] Foi a escolha mais difícil da minha vida, mas era algo necessário para proteger minha família”, declarou.

Ghosn também disse que “esperava um pouco mais de ajuda do governo brasileiro”. “O presidente Bolsonaro foi perguntado se estava pronto para lidar com as autoridades japonesas e, se me lembro, disse que não pretendia atrapalhar as autoridades japonesas. Claro que não gosto desse tipo de declaração, mas respeito. Só que eu esperava um pouco mais de ajuda do governo brasileiro, o que, infelizmente, não aconteceu”.

Segundo Ghosn, seu objetivo é conseguir “justiça”. “É a única coisa que vai restabelecer minha reputação. Se eu não conseguir no Japão, conseguirei em outro lugar”, ressaltou. Ele não explicou como escapou para o Líbano. “Não estou aqui para falar como fugi, mas sim para explicar por que fugi”, disse.

O que se sabe até agora é que Ghosn chegou em Beirute em um avião privado, após uma conexão na Turquia

loading...

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.