Cantora Deborah Tarquínio faz show hoje em homenagem ao pai, o ex-prefeito Esmeraldo Tarquínio
Por #Santaportal em 10/11/2020 às 17:23
CONSCIÊNCIA NEGRA – Dona de uma bela voz, a cantora Deborah Tarquínio sempre galgou o caminho musical do seu pai, o ex-prefeito de Santos Esmeraldo Tarquínio. Tendo influências como Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Sarah Vaughan, construiu seu estilo próprio. Hoje, data que marca os 38 anos da morte de seu pai, o Santos Jazz Festival vai homenagear a sua memória, em evento que marca também o início da Semana da Consciência Negra. O show será transmitido a partir do Studio Balacobaco, que fica na Rua do Comércio, 76, no Centro de Santos, e exibido em live pela página do Santos Jazz Festival no Facebook.
A apresentação vai tentar resgatar a história de Esmeraldo na área da cultura, seu ativismo contra o racismo e a sua relação com o Jazz, tanto como cantor quanto baixista. Deborah Tarquínio, acompanhada dos músicos Edson Vieira na guitarra e Fábio Ferreira no contrabaixo, vem nos presentear com as canções que seu pai interpretava e apreciava.
História
Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Filho nasceu em São Vicente, no dia 12 de abril de 1927. Foi vereador, deputado estadual e prefeito eleito. Além de advogado, despachante aduaneiro, jornalista, cantor e músico. A sua experiência como cantor e músico começou em 1939, quando Esmeraldo estreou na orquestra de ?Nardi e os seus rapazes? no baile do Jabaquara.
Tinha uma voz grave que enchia os salões e bailes da cidade, como o da Sociedade Humanitária na Praça José Bonifácio. Era assim todas as noites, de quinta a domingo, no efervescente Centro de Santos nas décadas de 40 e 50. Entre boleros, sambas-canção, blues e jazz, o jovem Esmeraldo, despachante aduaneiro na época, defendia o seu amor pela música e alguns trocados, que o ajudariam a pagar o curso de Direito. Era outra época e Santos significava quase sinônimo de Café ? apesar de ser um tempo após a crise mundial de 1929.
Não havia nenhum curso superior na Cidade. Assim, para formar-se advogado, ele precisou estudar no Rio de Janeiro, à época capital do Brasil. Os bailes da vida não foram apenas uma forma prática de viabilizar o estudo: neles o amor também lhe mostrou o seu mais belo sorriso. Foi em cima do palco que conheceu Alda Terezinha Camargo, companheira de vida, que o acompanhou até o fim.
O carismático crooner sequer tinha ambições de seguir passos na vida pública, fato decisivo para ele ser protagonista, décadas depois, da história santista. Mas com o microfone nas mãos, o vicentino Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Filho transmitia uma de suas mais significativas qualidades: o carisma.
Como político Esmeraldo deixou registrado na história sua defesa pelos direitos da comunidade negra de Santos-SP. Eleito prefeito de Santos em 1968, com cerca de 45 mil votos, chegou a ser diplomado, mas em 14 de março de 1969, antes de sua posse, o Governo Militar cassou seu mandato e os seus direitos políticos, através do Ato Institucional nº 5, o AI-5.
Merecidamente considerado um dos símbolos santistas de resistência ao golpe militar, Esmeraldo não testemunharia o retorno da autonomia política da Cidade. Após 20 dias internado em decorrência de um aneurisma cerebral, faleceu em 10 de novembro de 1982. Esmeraldo tinha uma visão diferenciada da questão social, pois lutava pelo reconhecimento de que Santos era também uma cidade formada por pessoas pobres e que deveriam ser criados novos setores de mercado de trabalho.
Propôs diversas vezes, que além do emprego à população, que as empresas pagassem um melhor salário, para que todos tivessem condições de construir uma moradia digna; realizou vários projetos para o esgotamento da periferia da cidade. Como um dos poucos homens negros atuante no meio político da cidade, acreditava que a alta classe social santista, minoritária, mas economicamente muito poderosa, deveria comprovar a dita democracia racial e a ausência de racismo no Brasil.
Somente depois de quase 50 anos de ter sido eleito e 35 anos após sua morte, Esmeraldo Tarquínio Soares de Campos Filho foi, oficialmente, declarado Prefeito Municipal de Santos no dia 17 de Julho de 2017, curiosamente através da lei sancionada pelo prefeito Paulo Alexandre Barbosa (filho de Paulo Gomes Barbosa, último prefeito de Santos indicado pelo autoritário regime militar, entre 1980 e 1984). Ato de grandeza política, reparação histórica e justiça ao primeiro e único negro eleito prefeito de Santos.