24/03/2022

Moradores da Baixada ficam decepcionados ao encontrar centavos em contas 'esquecidas'

Por Gyovanna Soares em 24/03/2022 às 11:41

Pixabay
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Moradores da Baixada Santista ficaram decepcionados ao consultar o Sistema Valores a Receber e encontrarem apenas alguns centavos. Esse programa, promovido pelo Banco Central, promete devolver o “dinheiro esquecido” em bancos.

O administrador e morador de Santos, de 37 anos, que preferiu não se identificar, conta que ficou na expectativa de que houvesse algum valor que não lembrava ou que os bancos tivessem para devolver. Entretanto, encontrou “a grande quantia de R$ 0,32”.

Apesar da expectativa, de acordo com ele, não ficou tão frustrado. “A frustração foi baixa devido a relatos de amigos, e sites informando que a grande maioria da população tem um valor a receber abaixo de 1 real. Mas a esperança é a última que morre”. 

Já a Maria Aparecida Real, secretária e moradora de Santos, de 56 anos, pretendia ajudar na compra de um imóvel mas se deparou com apenas seis centavos, se tornando motivo de piada na sua família. “Eu tinha a expectativa de realmente encontrar um valor considerável. Porém, com tantos relatos na internet de pessoas que haviam achado centavos, comecei a perder a esperança”.

“Foi mais engraçado do que frustrante. Porque imaginava juntar o dinheiro para ajudar na compra de um imóvel, e descobrir que não compraria nem uma bala, se tornou motivo de piada pra mim e minha família”, completou.

Demora para mostrar o saldo disponível

Diego Puime, autônomo e morador de Santos, de 40 anos, que encontrou apenas R$ 0,46, conta que criou uma grande expectativa, mas acredita que a dificuldade para consultar o sistema ajuda a deixar as pessoas mais ansiosas.

“Então, na verdade o que mais deixam as pessoas ansiosas, é essa dificuldade de você não ter logo essa informação. Você começa a pesquisar, e eles falam para você voltar ao site daqui 20, 30 dias, em vez de falarem logo qual é o saldo. Porque a pessoa já desiste se quiser e também não fica criando expectativa”, explicou.

“Quando chega o dia, você tem que passar por um processo de verificação facial, que comigo deu erro diversas vezes. Tive que insistir bastante para conseguir fazer, ou você faz através desse processo para você saber o valor que você tem, ou você utiliza o aplicativo do banco. Só que não fica claro o modo correto de você usar o aplicativo. Tenho facilidade para usar a internet, os aplicativos, então, acabei conseguindo, só que para pessoas que não tem essa facilidade, não vão conseguir”, completou.

Sendo assim, é o que tem acontecido com a Kelly Costa, autônoma e moradora de Praia Grande, de 48 anos, que pesquisou por curiosidade de toda a sua família no último dia 22. No entanto, só consta algo na dela, mas não é possível ver o valor. Só vai estar disponível na segunda-feira (28). Enquanto isso, a expectativa é grande.

“Eu nem imaginava que eu teria alguma conta em aberto, em algum banco. Para mim, quando fecho a conta, essas coisas, encerro. Não lembro de nenhuma conta que eu tenha deixado um mínimo valor. A minha expectativa é grande, espero que tenha um valor legal lá, porque já tem tanto tempo, no caso, deve ser uma conta bem antiga”.

Economistas da região comentam sobre o Sistema Valores a Receber

Gabriel Sarmento Eid, Economista da F Fatorial, conta que achou o programa muito interessante e válido de início, já que é um “direito receber o seu dinheiro de volta”. Entretanto, ao ver na prática, sentiu falta de profissionalismo e transparência do governo e do Banco Central do Brasil.

“Não levaram em conta que os brasileiros passam por um momento financeiro difícil e que qualquer dinheiro iria ajudá-los, motivo pelo qual os servidores sobrecarregaram com os milhões de acesso ao site logo no primeiro dia. Não foram transparentes ao dizer que a maioria dos valores a receber eram menores do que R$ 50 e que nem valiam o esforço”.

Além disso, o economista acredita que o objetivo principal era induzir as pessoas a se cadastrarem no conta.gov.br.

“Sinceramente fiquei decepcionado. Sempre admirei nosso Banco Central, mas nos últimos tempos a qualidade de seus serviços vem caindo. Creio ainda que foi proposital a falta de transparência, pois o ‘Valores a Receber’ exigia que o cidadão se cadastrasse no conta.gov.br para saber e receber. E no fim, creio que esse era o objetivo principal. Fazer com que as pessoas se cadastrassem, que por sinal é uma interface muito interessante e válida. Já deveria estar sendo noticiada e promovida abertamente, não havia necessidade de induzir as pessoas dessa maneira”.

Por fim, o economista Luciano Simões pontuou alguns quesitos da economia para explicar o motivo dos brasileiros terem ficado tão frustrados.

“Os valores são referentes a contas esquecidas, ou seja, não é um Programa de Renda extra do governo. Além disso, as contas são do tipo corrente ou poupança. Ou seja, no primeiro caso, não há remuneração sobre os valores e no segundo, há um juro pequeno. Por exemplo, se lembrarmos que o plano Real foi criado em 1994 e que se deixássemos R$ 100 em 1994 numa conta poupança, hoje poderíamos encontrar o valor de R$ 1.518,00. Mas conforme o próprio Banco Central avisou, 1.358 brasileiros, tem mais de R$ 100 mil pra receber, então não perca a esperança”, concluiu.

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