Autoridades apontam 'clima de terror' em comunidade e defendem suspender operação na Baixada

Por Santa Portal em 02/08/2023 às 15:30

Yasmin Braga/Santa Cecília TV
Yasmin Braga/Santa Cecília TV

O ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Cláudio Silva, esteve em Guarujá na manhã desta quarta-feira (2) para falar com a população que mora nas comunidades que estão enfrentando o confronto entre a Polícia Militar e o crime organizado, desde a morte do soldado da Rota, Patrick Bastos Reis, que desencadeou a Operação Escudo. Ao todo, 16 pessoas foram mortas durante a ação.

No Sítio Conceiçãozinha, em Guarujá, os moradores relatam o medo diário. O ouvidor da Polícia e representantes políticos conversaram com a população que relatou a sensação de insegurança desde o início da Operação Escudo, na última sexta-feira (28).

Apesar das denúncias, o ouvidor Cláudio Silva alegou que não recebeu nenhum contato do secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite, para discutir a ação das forças policiais na região.

“Não tive nenhum retorno do secretário, desde que as matérias começaram a surgir na mídia e a operação foi deflagrada. Não tive nenhum contato com o secretário de Segurança Pública. Ele nunca me procurou para contatar e nem me procurou para discutir ou avaliar os resultados da operação”, disse Silva, que destacou a importância da visita ao local para ouvir a população.

“A visita foi fundamental para a gente sair do que acha, em relação a declarações, mas sentir na presença das pessoas do bairro que a gente consegue dialogar para ver efetivamente o que está acontecendo. Eu extraio dessa visita que estamos no caminho certo. Precisamos atuar para a suspensão imediata da Operação Escudo”, defendeu o ouvidor da Polícia.

Clima tenso na comunidade

Na comunidade foram duas mortes. Uma delas, de um ajudante de pedreiro que estava em casa com dois filhos. O homem teria passagem pela polícia.

Porém, de acordo com a população., os policiais ainda teriam entrado sem permissão na casa deles.

“É uma matança, estão matando gente inocente, entrando na casa de morador, de trabalhador. Meu irmão está com transtorno de ansiedade, ele sai para trabalhar de bicicleta e é parado porque é preto. Eles mataram uma pessoa que estava se recuperando, não era do crime, que era ajudante de pedreiro. Tiraram a criança do colo dele, deram dois tapas na cabeça do menino e deram o menor para esse menino segurar”, afirmou uma moradora, que não quis se identificar.

Pelo bairro circula o boato de que todos com passagem pela polícia seriam alvo da operação. “Os policiais falam que tem o direito de entrar e matar, que se eles quiserem forjam um flagrante, colocam droga dentro da casa da pessoa. Eles falaram que querem matar 30 porque era a idade do policial. Depois 60. Quem serve é a população, quem não mora em comunidade não sabe como é”, declarou.

Autoridades defendem suspender operação

A vereadora de Santos, Telma de Souza, também acompanhou a visita das autoridades à essa comunidade em Guarujá.

“Sou presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Santos. Nós estamos aqui, junto com deputados estaduais, a ouvidoria da Polícia e movimentos sociais em defesa dos Direitos Humanos para garantir que essas atrocidades não ocorram mais. Um colega vereador, que foi da Polícia Militar, me disse que tudo isso foi falta de prevenção para que as questões chegassem a esse tamanho e a essas consequências. Estamos aqui para prevenir que não haja o pior, para defender as pessoas e, principalmente, para garantir a solidariedade humana”, comentou Telma.

As autoridades – dentre elas o deputado estadual Eduardo Suplicy – que estiveram em Guarujá nesta quarta pedem a suspensão imediata da Operação Escudo.

“A ideia é levar para o Ministério Público essa situação, intervir junto ao governador para barrar essa operação. Possivelmente barrar politicamente, se não de maneira judicial”, explicou Cláudio Cardoso, coordenador da Comissão Estadual de Direitos Humanos da OAB-Santos.

O ouvidor da Polícia também defendeu a suspensão da Operação Escudo, em caráter imediato.

“Temos um clima muito tenso nessa região, as pessoas se sentem muito inseguras. As pessoas clamam por paz, por tranquilidade, elas querem voltar a ter uma vida normal. A nossa luta nesse momento é para garantir que essas pessoas voltem a ter vida, temos relatos de pessoas que estão a base de remédios, tiveram suas casas invadidas. A situação é muito grave. É uma ilegalidade constante, são ilegalidades em cima de ilegalidades. Não quero abrir a nossa estratégia, mas estamos dialogando coletivamente e a gente vai tomar todas as medidas cabíveis para suspender a Operação Escudo, para devolver a paz e a tranquilidade para esse lugar”, finalizou Silva.


Foto: Yasmin Braga/Santa Cecília TV

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