Ataques recentes causam apreensão em agentes de segurança na Baixada Santista

Por Noelle Neves em 29/12/2021 às 11:29

Após os últimos atentados ocorridos na Baixada Santista, agentes de segurança estão tomando precauções extras no dia a dia, visando manter o próprio bem-estar, além do de amigos e familiares. De acordo com o jornalista especializado e advogado, Eduardo Velozo Fuccia, os crimes podem se tratar de cumprimento de ordens dadas por uma facção criminosa.

Um policial penal de 59 anos, que atua na Penitenciária 1 de São Vicente há 32 anos, ressaltou que conhecer ou não as vítimas dos ataques não é o mais importante. Para ele, é a vida de um companheiro que se perde.

“Tivemos situações no interior e isso nos afeta como um todo. Uma família ficou órfã. E isso evidencia a falta de respeito e apoio para com os agentes. Nenhuma entidade é solidária a nós”, disse em entrevista ao Santa Portal.

Agora, segundo o profissional, a alternativa é manter a reclusão para preservar a própria vida. “A cautela é de praxe. Tenho apenas dois olhos para ver tudo, mas em um mesmo lugar, muitos podem me ver. Embora o crime esteja disseminado em todos os lugares, na periferia é onde consegue se mascarar. Pela condição que temos, onde consigo morar. Convivo com as lideranças nos bairros, não apenas no sistema carcerário. Vemos nos mercados, bancos… Pelo olhar, já entendemos”, relatou.

Para o morador de São Vicente, os ataques não se tratam de acerto de contas. “Se fosse, quantas contas precisariam ser acertadas, não? Ouvimos rumores de que algo parecido com o que aconteceu em 2006 está perto de estourar. O crime está se sentindo sufocado e com lideranças isoladas. Infelizmente, tomamos conhecimento apenas quando perdemos companheiros. Somos os últimos a saber desses boatos e, quando sabemos, é porque os próprios presos nos contam. A vida é como uma pescaria. Você joga a isca e monta o quebra-cabeça com o que vem”.

Outro funcionário da Penitenciária 1, de 52 anos, conhecia três dos agentes que foram vítimas de atentado, devido aos 24 anos prestando serviços para o sistema. “Muito difícil entender se foi aleatório ou mandado. Alguns tinham a postura mais rígida, outros eram mais pacatos. Ao meu ver, é algo contra o sistema em si, não contra o indivíduo”, opinou.

O homem diz sentir mais segurança no trabalho do que na rua, pois na penitenciária, há protocolos a serem seguidos, portões e conhecimento da personalidade de cada interno. Em outros locais, está sozinho. “Hoje, os presos têm mais direitos do que os cidadãos de bem. Direitos estão invertidos”, pontuou.

Em vídeo enviado ao Santa Portal, diretor jurídico do Sindasp, Márcio Santos Assunção, informou que há uma preocupação para saber o que está acontecendo.

“Infelizmente, o crime organizado está nos apontados sem que saibamos os motivos. Porque também não existiria algum para isso. Sabemos que houve uma blitz com a ligação de algumas lideranças, mas não sabemos se têm relação com o que está acontecendo nas ruas. Buscamos respostas”.

Polícia Militar também está em alerta

Um homem de 43 anos, dos quais serve há 23 na Polícia Militar do Estado de São Paulo, também precisou adaptar a rotina após os atentados. “Sempre houve violência contra policiais. Perdi colegas e irmãos de todas as imagináveis maneiras, em ações covardes de criminosos, pura e simplesmente pela escolha de uma profissão”, disse.

De acordo com o PM, se engana quem acredita que agentes de segurança são mortos em emboscadas ou por erros cometidos.

“O Estado quer que acreditem nisso, porque se vazasse algo contrário, precisariam assumir que algo grave está acontecendo. Então é mais fácil dizer que morreu em um problema passional, por erro… Nunca a culpa é do Estado. Admitir não é sinal de fraqueza”, expôs.

O policial citou que, antigamente, o crime organizado atuava contra durante as folgas, mas ao longo dos anos, perceberam que se tornou corriqueiro e não chamava mais tanta atenção. Assim passou a atacar a segurança pública, atentando contra policiais penais, civis e militares em serviço, para demonstrar força e a deficiência do Estado.

“O Estado não admite, diz serem casos isolados, mas estamos em guerra. O sistema está em colapso e desacreditado. Estão trabalhando para arriscar a vida e a liberdade por baixíssimos salários, sem reconhecimento algum. Muitos colegas estão tirando suas vidas por conta das dificuldades financeiras. Grande parte mora em comunidade e, ao escolher servir, cavam suas covas, sem poder permanecer onde nasceram e cresceram”, falou.

Familiares de PMs também estão em alerta, não só pelas próprias vidas, como também pela vida dos entes queridos. A esposa de um policial militar, que trabalha há 28 anos na corporação, diz que todos os dias, quando o marido sai para sair, ora para que volte bem.

“Ele conhecia alguns dos agentes que morreram. Todo o cuidado é pouco. O que estamos vivendo nos últimos dias não se compara a uma vida normal. Por mais que a gente queira queira fazer tudo tranquilamente, não dá. Da saída dele ao retorno, fico apreensiva. Oro muito para Deus guardar toda a equipe. A toda a notícia que sai nos meios de comunicação, meu coração dispara”, contou.

A equipe de reportagem entrou em contato com a Polícia Militar pedindo um pronunciamento a respeito dos atentados contra os agentes de segurança, mas até a publicação, não houve resposta. Uma vez recebida, será publicada na íntegra neste espaço.

Relembre os crimes contra agentes de segurança

Policiais penais do CDP

Dois policiais penais que trabalhavam no Centro de Detenção Provisória de São Vicente (CDP-SV), foram vítimas de atentados. Um deles morreu.

O policial penal Rogério Pinheiro, de 44 anos, conhecido como Ninja, foi baleado na manhã deste sábado (25), na porta de casa, no bairro Jardim Rio Branco, em São Vicente. Ele foi atingido por cinco tiros no tórax, abdômen, membro superior esquerdo e região patelar esquerda.

A vítima estava chegando em casa de carro, por volta de 7h30, quando recebeu os disparos de um indivíduo na em uma motocicleta. Testemunhas relatam que o criminoso mirou na direção do condutor no veículo, o que fez com que o policial penal perdesse o controle e seguisse com o carro na direção de um matagal.

Pinheiro passou por uma cirurgia e está fora de perigo.

Na tarde do mesmo dia, quatro homens encapuzados mataram Ronaldo Soares dos Santos, de 49 anos no bairro Nova Mirim, em Praia Grande. Ele estava em casa, quando ouviu barulho de bombinhas no portão. Quando saiu para checar, foi baleado.

A família o socorreu e o levou ao Pronto Socorro Quietude, mas não resistiu.

Ex-PM morto a tiros de fuzil

Na madrugada deste domingo (26), um ex-policial militar, de 33 anos, foi executado com tiros de fuzil por quatro homens, na Vila Áurea, em Guarujá. Um outro homem, de 37 anos, que o acompanhava, ficou ferido.

Conforme a Secretaria de Segurança Pública (SSP), uma viatura da Polícia Militar estava em patrulhamento pelo bairro, quando ouviu o barulho dos disparos e seguiu até o local. Lá, encontraram o veículo com a placa adulterada e iniciaram a perseguição.

Os quatro ocupantes do carro atiraram contra a equipe, que revidou. Três dos criminosos fugiram para uma região de mata. O quarto homem foi atingido fatalmente no confronto. Com ele, foi encontrado um fuzil.

Tentativa de homicídio a PM

Um policial militar de 40 anos estava andando de moto na Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (SP-55), na Estância São José, em Peruíbe, no último sábado (25), quando foi vítima de uma tentativa de homicídio. Ele estava indo para casa após o trabalho, quando dois indivíduos em uma moto efetuaram disparos contra ele.

Eduardo Kunding

Vale lembrar que no início do mês o também policial penal, Eduardo Kundig, de 47 anos, foi morto a tiros na Avenida Ulysses Guimarães, no Jardim Rio Branco, em São Vicente, na noite desta quarta-feira (1º). Ele chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos.

Investigação

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que a Polícia Civil de Cubatão investiga a tentativa de homicídio contra dois agentes, por volta das 3h, desta terça-feira (28), em Cubatão. Na ação, dois suspeitos atiraram contra os policiais, que estavam com a viatura estacionada na Av. 25 de dezembro. Ambos foram socorridos ao PS Central do município e não correm risco de morte.

A perícia foi acionada e o caso registrado na Delegacia de Cubatão, sendo área do 2º DP.

Logo após o fato a PM iniciou uma operação na Vila Natal, em Cubatão, com o emprego de policiais militares pertencentes ao radiopatrulhamento e Força Tática do batalhão local, com apoio do 2º BAEP e do policiamento de choque, por meio da ROTA e do COE, além do Comando de Aviação, por meio de um helicóptero Águia. A operação não tem previsão de término.

Os demais casos, ocorridos em São Vicente, Guarujá, Praia Grande e Peruíbe são investigados pela 3ª Delegacia de Homicídios, da Deic de Santos, 3º DP de São Vicente, 1º DP de Praia Grande e Delegacia de Peruíbe.

As equipes policiais realizam diligências em busca de imagens e testemunhas e outros elementos que auxiliem na identificação dos autores e esclarecimentos dos fatos. Até o momento, não há indícios que apontem relação entre os casos.

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