Temporal que matou 45 pessoas na região completa 3 anos: "População vive com medo"

Por Yasmin Braga e Rodrigo Martins em 03/03/2023 às 06:00

Carlos Lopez/Arquivo Santa Cecília TV
Carlos Lopez/Arquivo Santa Cecília TV

Nesta sexta-feira (3) faz três anos que um temporal sem precedentes atingiu Santos, São Vicente e Guarujá. Na ocasião, 45 pessoas morreram em decorrência das fortes chuvas. O Santa Portal conversou com moradores de regiões afetadas por aquela tempestade que falaram sobre a tragédia e o medo de que algo parecido aconteça novamente.

“A gente fica traumatizado, as imagens daquele dia sempre vêm na nossa mente. Lembramos daquele mundo de terra, da imagem das pessoas perdendo suas vidas. É chocante, a mente vai se recuperando aos poucos, entendendo tudo o que aconteceu”, disse Laércio Fiel, líder comunitário dos morros.

O ajudante de pedreiro Reginaldo Rodrigues da Silva, morador do Morro do Macaco Molhado, em Guarujá, também lembra com tristeza do temporal da madrugada do dia 3 de março.

“Lembro de muita correria aqui, das pessoas apavoradas. Tentei ajudar de qualquer forma. Infelizmente, nove pessoas morreram aqui. Foi uma calamidade, uma tristeza, perdemos amigas que moravam aqui em cima. Quando lembro daquele dia, o sentimento é de tristeza. Me lembro de um colega que ajudou pessoas a se salvarem, mas infelizmente uma pedra rolou e ele foi atingido, acabou falecendo. É triste demais, muitas vidas foram perdidas aqui e em outros morros”, comentou Reginaldo.


Foto: Yasmin Braga/Santa Cecília TV

Na Vila Bahiana, também em Guarujá, não foram registradas mortes. Porém, muitas pessoas perderam suas casas e ficaram sem ter onde morar na ocasião.

“Foi uma devastação completa, um terror. O pessoal perdeu tudo. A sorte é que aqui não morreu ninguém, mas foi algo que prejudicou muito as pessoas. Até hoje, quando chove fica todo mundo desesperado”, contou o vice-presidente da Associação da Vila Bahiana, Antônio Pedro Calixto.

Para Calixto, o medo é algo permanente entre as pessoas que moram nos morros. Segundo ele, o poder público não dá a devida atenção ao problema da população que vive nas comunidades.

“É até difícil falar (o que precisa melhorar). Os políticos tinham de desapropriar, porque tem muita gente morando em área de risco. Muitas pessoas fazem casa (nos morros), com barracos de madeira e concreto para fazer piso. O chão encharca e fica desse jeito, as pessoas perdem casa, eletrodomésticos. Se os políticos não olharem e derem uma força como eles prometem sempre, essa situação não vai mudar nunca”, afirmou.

Laércio também acredita que o poder público deveria ajudar a população que mora nas comunidades. “O que ficou para a população é que não tem o que fazer: é morar no morro ou na rua. Em todos os outros morros de Guarujá, a população fica submissa a morar no morro. Aqui é morar no risco, principalmente quando chove, porque as pessoas entram em pânico. É traumatizante para todo mundo. Os morros da cidade precisam ser revistos, olhados com mais carinho, para que novas tragédias não venham a acontecer. A população vive com medo todos os dias”, concluiu.


Foto: Yasmin Braga/Santa Cecília TV

Relembre a tragédia

O temporal começou na noite do dia 2, mas se estendeu entre a madrugada e a manhã do dia 3. Por causa do grande volume d’água, quedas de barreira foram registradas e a situação ficou ainda mais grave nos morros de Santos, São Vicente e Guarujá.

Guarujá foi o município que registrou o maior número de mortes: 34. Em Santos, oito pessoas morreram. Já São Vicente teve três óbitos.

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