Após dois abortos espontâneos, mãe encoraja mulheres a não desistirem do sonho
Por Alanis Ribeiro em 14/05/2023 às 14:00
Declarada infértil aos 30 anos, após sofrer dois abortos espontâneos, a atendente de hospital Roneide Ferreira pensou que jamais pudesse realizar o sonho de ser mãe. No entanto, dois anos depois, conseguiu concluir seu período gestacional, ao dar à luz a uma filha. O nome não poderia ser mais simbólico: Vitória.
Hoje, 17 anos depois do parto, Roneide quer encorajar as mulheres a não desistirem dos seus sonhos. Acredita que todas podem ter seus bebês arco-íris. O termo se refere aos bebês que nascem após uma ou mais gestações sem sucesso.
De acordo com informações do Ministério da Saúde, 20% das gestações são interrompidas por um aborto espontâneo até as 20 primeiras semanas. A orientação dos médicos é que as mulheres que tenham perdido um bebê esperem dois meses para tentar uma nova gestação.
Em sua transição da adolescência para a vida adulta, Roneide nunca havia cogitado a possibilidade de ter filhos. Por ser a única mulher dentre seus três irmãos, a sua prioridade sempre foi estabelecer uma rede de apoio para ajudar sua família a ter um futuro melhor, priorizando sempre o bem-estar de seus familiares.
“Quando era mais jovem, não pensava muito em ter filho, mas aos 27 anos me casei, e após alguns anos de casados decidimos que era a hora ideal para construirmos a nossa família”, declara.
Aos 30 anos, se sentiu preparada para dar esse grande passo, aumentar a família. Os detalhes foram planejados cuidadosamente como todas as mamães de primeira viagem fariam, o que contribui para a idealização de como tudo deveria ser nesse momento tão especial.
No entanto, com somente dois meses de gravidez, Roneide teve seu primeiro aborto espontâneo. Após dois anos, vivenciou seu segundo aborto, onde foi informada por sua médica de que não poderia ter filhos.
Desolada e amparada por sua mãe, Rosenilde Bispo, o desejo de também ser mãe se alimentava dentro de seu coração cada vez mais, mas por vir de uma família humilde não poderia arcar com as custas do tratamento.
Quatro meses se passaram, e ela se sentia indisposta constantemente, mas acreditava que era por conta do remédio para emagrecer que estava tomando. Pelo mal-estar não cessar, compareceu ao médico e descobriu que estava grávida de uma menina.
Por ter sido declarada infértil, precisou realizar inúmeros exames para se certificar de que o seu sangue era compatível com o da bebê. Aliás, para manter a gravidez foi necessário tomar hormônios em cápsula durante toda a gestação para conseguir segurar o período até o fim.
Sem explicações médicas, Roneide, aos 32 anos, pariu Vitoria em 2 de março de 2006.
“Eu almejava ser mãe por conta dos meus pais e principalmente pela minha mãe. Queria ser para alguém tudo que ela significou para mim e passar todo o ensinamento que me foi recebido. Sou grata por ter tido uma mãe como ela, e pela Vitoria que a vida me proporcionou”, finalizou.
Abortos espontâneos
A médica especialista em ginecologista e obstetrícia Tatiana Megale explica que a principal causa de abortos em repetição, os abortos espontâneos, é a mal formação cromossômicas ou genética.
“O corpo da mulher subtende o feto como se fosse um corpo estranho, e com isso o próprio corpo aborta, fazendo a eliminação, ocorrendo o aborto espontâneo”.
A especialista afirma ainda que existem alterações anatômicas, que variam de mulher para mulher, como o útero bicorno, má formações no útero e miomas dentro das cavidades uterinas, o que consequentemente impede o bebê de se desenvolver.
“Essas doenças estruturais anatômicas podem ser localizadas por exames ginecológicos de rotina, como o transvaginal, que podem localizar essas alterações que causam esse abortamento”.
De acordo com a médica, outro fator que também pode causar abortamento na gestação são infecções.
“Por exemplo, se a mulher tem muita infecção de urina e não faz o tratamento correto com os antibióticos. Ou se tem alguma infecção vaginal, um corrimento, mas não vai a um ginecologista para fazer o tratamento”.
Por fim, alterações hormonais como deficiência de progesterona, diabetes descompensada e alterações nos hormônios da tireoide também podem causar um abortamento.
Em casos das suspeitas anteriores serem descartadas, passam a ser verificadas doenças sanguíneas, as trombofilias.
“Existe uma doença chamada síndrome do anticorpo antifosfolipídeo que se trata de uma doença rara, mas acontece bastante nas pesquisas. Neste caso, a mulher desenvolve alguns anticorpos que causam o abortamento de repetição”.
Em resumo, quando a mulher recebe esse diagnóstico é necessário que aplique desde o início de sua gestação injeções de anticoagulante para afinar o sangue, a fim de conseguir concluir a gestação sem nenhum problema.