Após pico no semestre inicial, casos de dengue despencam na Baixada Santista

Por Rodrigo Cirilo em 02/12/2024 às 10:00

Divulgação/Governo do Estado de SP
Divulgação/Governo do Estado de SP

Após registrar 28.415 casos confirmados de dengue no primeiro semestre, a Baixada Santista entrou em dezembro com um total de 998 infectados pelo vírus do Aedes aegypti na segunda metade do ano, segundo o Núcleo de Informações Estratégicas em Saúde do Estado de São Paulo (Nies). A prévia da comparação semestral aponta uma redução de cerca de 96,49%.

A diminuição também se reflete no número de óbitos. Enquanto 47 pessoas morreram em decorrência da dengue no primeiro semestre, no segundo, duas vítimas foram registradas, ambas em Praia Grande. Os óbitos foram registrados em julho e agosto, quando as vítimas tinham 93 e 60 anos, respectivamente. Outras quatro mortes seguem em investigação, três em Santos e uma em Bertioga.

Em entrevista ao Santa Portal, a infectologista Cláudia Bitar explica que múltiplos fatores contribuíram para a explosão de casos no início do ano. As altas temperaturas e chuvas, características do período, favoreceram a proliferação do mosquito transmissor. Além disso, a médica destaca falhas no preparo do sistema de saúde para conter o avanço da doença.

“A dengue é uma doença cíclica que, a cada dois ou três anos, apresenta um comportamento recidivante. Como o último pico epidemiológico foi em 2021, já era esperado que o mesmo ocorresse em 2024. Isso ressalta a importância da vigilância epidemiológica e do preparo do sistema de saúde para responder ao aumento da demanda, o que, infelizmente, não aconteceu”, critica.

Segundo Cláudia, o segundo semestre apresentou melhora devido à intensificação das medidas de controle do vetor, como ações de agentes de endemias, organização dos serviços de saúde e capacitação dos profissionais da assistência. Fatores climáticos, como temperaturas mais baixas e menor volume de chuvas, também contribuíram com a redução da replicação viral.

Raimundo Rosa/Divulgação Prefeitura de Santos

Incidência segue acima do ideal

Apesar da queda expressiva nos casos, a incidência da dengue na região permanece acima do ideal calculado pelo Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC-BR). De acordo com a ferramenta, o número de casos prováveis da doença por 100 mil habitantes deve ser inferior a 138,43. Em 2023, apenas Cubatão (55,12), Mongaguá (62,95), Praia Grande (88,59) e São Vicente (74,57) mantiveram a incidência abaixo do recomendado.

Enquanto em 2024, seis cidades já registram taxas distantes do ideal e superiores a mil casos por 100 mil habitantes, casos de Itanhaém (5.503,3), Bertioga (3.281,1), Guarujá (2.991,5), Peruíbe (2.851,1), Mongaguá (2.448,6) e Santos (1.232,9). Praia Grande (615,6), São Vicente (377,1), Cubatão (290,5) também aparecem acima da meta.

“Um dos fatores a serem considerados é o grande número de casas de temporada nessas cidades, que possuem criadouros do mosquito e altos índices larvários. Esses locais são de difícil acesso para as medidas de controle do vetor e para o trabalho dos agentes de endemias”, destaca Cláudia.

A especialista reforça que a dengue é uma doença de difícil controle, especialmente na Baixada Santista. Os esforços precisam ser realizados em todas as esferas, desde os gestores até a população. Ela ainda alerta que o Aedes aegypti, além de transmitir a dengue, é vetor de zika e chikungunya.

“Para que a situação não se repita em 2025, é fundamental mantermos a vigilância epidemiológica ativa, com notificações oportunas dos casos, permitindo que as medidas de intervenção sejam eficazes. Também é necessário que os agentes sejam autorizados a entrar nas residências para eliminar criadouros. Cada cidadão deve fazer sua parte, verificando possíveis focos do mosquito em casa e nos arredores”, afirma.

Em 2024, o Programa Nacional de Imunizações iniciou a aplicação da vacina contra a dengue em adolescentes de 9 a 14 anos, em esquema de duas doses com intervalo de três meses. Cláudia acredita que a medida poderá trazer resultados positivos a longo prazo.

“No ano de 2025, teremos uma população vacinada nessa faixa etária, o que deve resultar em menos pessoas suscetíveis, contribuindo para a redução de casos e óbitos”, finaliza.

Tratamento

O diagnóstico precoce e o tratamento correto, especialmente com a hidratação, são fundamentais para evitar mortes. A maioria dos casos consiste na forma clássica da doença, que pode ser manejada com sucesso por meio da hidratação adequada.

“Gestantes, idosos, crianças pequenas e pacientes com doenças crônicas devem receber atenção prioritária, pois estão mais suscetíveis a complicações, como a dengue hemorrágica e o choque da dengue”, alerta.

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