Casal santista preso em Miami critica tratamento em aeroporto: "Só queríamos seguir viagem"

Por Rodrigo Martins em 05/03/2025 às 16:45

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Após serem presos sob a acusação de tentarem entrar à força em um voo no Aeroporto Internacional de Miami (Estados Unidos), com destino a Cancún (México), a biomédica Beatriz Rapoport De Campos Maia, de 29 anos, e o empresário, analista de sistemas e estudante de Direito Rafael Seirafe-Novaes, 40, falaram com exclusividade ao Santa Portal sobre o episódio. Para o casal santista, houve despreparo por parte da atendente da American Airlines. Eles também criticaram a ação da polícia americana.

Segundo Rafael, ele e Beatriz embarcaram no último sábado (1º) para uma viagem onde eles comemorariam o noivado do casal. No entanto, antes de chegarem a Cancún, os santistas passariam por uma conexão em Brasília e, depois, em Miami até chegarem no México.

“A gente comprou tudo pela American Airlines, os mesmos assentos. Fizemos uma escala em Brasília de cinco horas, escala em Miami de quatro horas. O nosso destino era Cancún. Quando você faz escala em território americano tem que passar pela imigração, fizemos tudo, procedimento normal. Mas tudo mudou quando fomos no balcão de embarque da American Airlines. A primeira coisa, quando a atendente olhou o meu passaporte, tinha uma folha em espanhol, porque eu tenho dupla cidadania. Ela já me perguntou, de maneira ríspida, onde estava a foto. Eu falei que estava na outra página. Ela nem para dar uma risadinha, pedir desculpas, nada”, disse o empresário, que junto com a noiva tinha reservado dois assentos especiais, próximos da saída de emergência do avião.

Porém, durante o atendimento, um desentendimento no questionário sobre a fluência dos dois em inglês acalorou os ânimos. “A gente pagou todos os trechos por esse assento especial, como já fizemos em outras viagens. Mas quando você vai no aplicativo, em nenhum item aparece que a gente precisa falar inglês, não tem nada escrito que você só pode ficar nos assentos especiais se for fluente. Ela falou assim para mim: você fala inglês fluente? Eu disse: ‘Olha, eu estou falando em inglês aqui com você, mas eu não consigo determinar se eu falo fluente ou não. Eu já viajei para mais de 25 países, eu já viajei por mais de sete vezes para os Estados Unidos’. Achei muito estranha aquela pergunta, mas ela insistiu e continuou perguntando se eu falava o idioma fluentemente. Disse: ‘Eu não sei determinar, mas estou falando em inglês com você’. Ela disse que eu tinha que falar inglês fluente. Aí eu disse: ‘Moça, por que no aplicativo não existe nenhuma informação? E outra: qual a lei ou a norma que diz que eu só posso sentar naquele assento se eu falar inglês fluente?’. Lá só diz que você tem que ser capaz de se comunicar em inglês. Ela falou então: ‘vocês não vão entrar nesse voo’. Eu disse: ‘vou entrar sim’. Eu sou Platinum Pro da American Airlines, então eu acumulo muitas milhas, eu tenho um status quase o maior que existe, só tem um acima. Ela falou para não falar mais com ela, que a gente não ia entrar no voo e acabou. Não dava para a gente perder o voo, a gente tinha apenas quatro dias lá em Cancun. Não poderíamos chegar atrasados, sendo que a gente já havia pago R$ 8 mil de hospedagem em Cancún”, explicou Rafael.

Tudo piorou ainda mais quando, após o bate-boca do casal com a atendente, a funcionária resolveu acionar a polícia. Rafael acreditava que a presença dos policiais poderia acalmar os ânimos e resolver o problema deles, mas não foi isso o que aconteceu.

“Aí ela falou: ‘Chega, vocês não vão mais entrar nesse voo e acabou’. No Brasil, se a atendente de uma companhia aérea trata o cliente dessa forma, ela é mandada embora. Falei: ‘Eu vou entrar sim, eu paguei por isso e vou entrar’. Foi quando os ânimos se exaltaram de vez. A gente disse que queria entrar, ela falou que ia chamar a polícia. Eu disse que podia chamar a polícia. No Brasil, quando você chama a polícia as duas partes são ouvidas. Mas quando eles chegaram, eles não me ouviram. Era como se a atendente da American Airlines tivesse uma autoridade. É como se ela dissesse: ‘Tem duas pessoas causando um tumulto, vem para cá’. Eu não resisti à prisão igual falaram. Eu pedi para dar a minha versão, mas o policial disse para eu ficar quieto, que eu estava preso. Ele tentou me derrubar, tentou me dar um rapa, por isso deu a impressão no vídeo que eu resisti. Ele me deu um rapa mas eu não caí. Falaram: ‘Você não tem direito a falar nada’. Quando olhei estavam levando ela presa também. Pedi por favor, para deixar eu falar. Me algemaram, foi uma força desnecessária. Queria dar a minha versão. Falaram do café, que ela teria jogado na atendente da companhia, só que isso é mentira. Ela estava com um café na mão, mas na hora do tromba-tromba, pegaram ela pelo braço e o café voou. A camisa dela está manchada, a bolsa também. Essa narrativa que montaram do jogar café, chegar atrasado e tentar agredir funcionária simplesmente não existiu”, afirmou o empresário.

“A gente estava perto da portinha de embarque, as nossas bagagens estavam lá dentro. Estávamos tendo problemas com a nossa bagagem, porque eles não sabem dizer onde está. Estava tudo pago, era só uma conexão. Nós só queríamos seguir a viagem. Me seguraram forte pelo braço, ficou roxo. Não joguei café em ninguém”, desabafou a biomédica.


Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Após serem detidos, Beatriz e Rafael ficaram horas esperando algemados, dentro da viatura até serem levados para uma penitenciária. “Eu fiquei numa viatura, ela ficou em outra. A parte mais chocante, traumática para a gente, ficamos algemados na parte de trás dos carros por cinco horas. Eles deixaram a gente no sol na viatura, estava muito calor. O policial na frente com ar-condicionado ligado, comendo salgadinho, e a gente no sol por horas, sem conseguirmos nos mexer. Pegaram os nossos pertences, mas estávamos com o relógio, então a gente conseguia se virar e olhar. Não deixaram a gente falar com advogado, nada. Pensamos se iriam levar a gente para a delegacia. Até uma hora que ela surtou, começou a gritar, aí eles entraram na viatura e começaram a dirigir o carro, saíram do aeroporto. Pensávamos que iríamos para uma delegacia, no Brasil é diferente. Porém, quando a gente viu entramos no presídio. As fotos que estão circulando foram tiradas no presídio, com a roupa de lá”, contou.

Ajuda da família para deixar prisão

No presídio, Beatriz e Rafael relataram que receberam todos os cuidados médicos, porém continuavam sem ter contato com alguém para saírem dessa situação. Até que a biomédica lembrou o número do telefone de sua irmã, que mora em Nova York. O cunhado da biomédica ajudou o casal a sair da prisão, com o pagamento de uma fiança de US$ 700.

“Fui para um local onde tinham vários presos sentados, comecei a conversar com eles. Tinham telefones, eles usavam a vontade. Não conseguia fazer ligações internacionais, até que ela lembrou do número da irmã, Ludmilla, para ver como a gente pagaria um advogado. Eu estava chorando horrores, tive uma recaída absurda da minha depressão. Até que chegou o guarda com um cobertor e deu na minha mão, aí eu perdi o contato com ela. Conseguia visualizá-la, ela estava em outra ala, escondido eu conseguia dar um ‘tchauzinho’ para ela. O meu irmão, após a gente entrar em contato com a irmã dela, mandou mensagem para Embaixada do Brasil, mas eles só foram responder no dia seguinte, quando a gente já havia saído. A irmã dela pagou a fiança. Não consigo explicar em detalhes, mas o noivo da irmã dela, eles moram em Nova York e entraram em contato com uma pessoa, que pagou a fiança. Eles pagaram os US$ 700, não teve advogado”, destacou.

Após saírem da penitenciária, a biomédica e o empresário foram surpreendidos pela repercussão que o caso tomou, inclusive na mídia local.

“Ela saiu antes. A gente se abraçou, começamos a chorar e apareceu um repórter da NBC, de Miami. Ele começou a chamar a gente. Perguntei quem era ele, ele perguntou se eu tinha jogado café na atendente da American Airlines. Não jogamos nada em ninguém, só queríamos os nossos pertences de volta. As nossas malas de mão ficaram no aeroporto, com a polícia. Saímos e fomos comprar carregador, quando a gente abre o celular tinha um trilhão de mensagens. Estamos com a roupa do corpo desde quando saímos do Brasil. No aeroporto a gente sentiu um clima estranho, percebi que os funcionários da companhia foram orientados a não falarem com a gente. Perguntamos da bagagem, eles falaram que estava em Cancún. Falei: ‘Como assim? A gente saiu do avião, vocês não deixaram a gente embarcar’. Eu estou sem roupa, sem nada. Aí disseram: ‘A gente nem tem certeza se está em Cancún, se você quiser pega outro voo, por outra companhia aérea, porque vocês estão banidos da American Airlines’. Se vocês quiserem, pegam voo em outra companhia… olha que absurdo, o supervisor da American Airlines falar isso. Queriam que a gente fosse até Cancún e procurássemos o balcão da American Airlines lá. A gente não vai mais para Cancún”, declarou Rafael.

O casal santista, entretanto, evitou apontar xenofobia no tratamento recebido por parte tanto da companhia aérea quanto da polícia americana.

“Seria muito leviano da minha parte afirmar isso, o que eu posso é dar a minha opinião. A gente nunca sofreu nenhum tipo de problema nos Estados Unidos. Eu não posso te afirmar isso, acho complicado falar isso. Não sei, pode ter sido. Acho que é possível, mas não consigo afirmar isso, é complicado”, comentou o empresário.

Casal sente medo

Com a viagem de volta ao Brasil marcada para a noite desta quarta, Beatriz e Rafael conseguiram comprar viagens em outras companhia, mas admitem ter medo de novos problemas no embarque.

“Vamos pela Latam, pagamos um pouco mais caro, mas vamos nos sentir mais seguros. A gente sentiu na pele essa sensação do pessoal da American Airlines saber quem a gente era. Eles ficaram numa saia justa. Eles não deram alternativa para a gente, ela só gritou e disse que a gente não ia entrar naquele avião. Obviamente quando ela começou a gritar com a gente, nós somos humanos. Era a viagem dos nossos sonhos, comemorando o nosso noivado. Falaram que brasileiros acham que podem fazer o que eles querem, podem chegar atrasados, só que nada disso é verdade. A gente está muito abalado com isso tudo, estamos gastando um dinheiro que a gente nem estava pensando em gastar. Tivemos que alugar hotel em Miami, gastamos dinheiro com comida. Enfim, a gente perdeu tudo. Espero que haja justiça”, disse Rafael, dividindo essa angústia com a sua noiva.


Foto: Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

“Começamos a discutir pelo nosso direito, a gente pagou por isso. A gente só queria entrar e sentar na cadeira que a gente pagou, era só isso. Estou com um pouco de medo, a gente está até com um pouco de receio de entrar no aeroporto. Mas não tem jeito, precisamos embarcar para voltar ao Brasil”, completou a biomédica.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a American Airlines se posicionou sobre o caso por meio de nota: “Antes de embarcar no voo 2494 da American Airlines em Miami (MIA) com destino para Cancun (CUN), as autoridades locais compareceram ao portão de embarque para verificar a presença de dois passageiros que estavam causando tumulto. Atos de violência não são tolerados pela American Airlines e estamos comprometidos em trabalhar em conjunto com as autoridades em suas investigações”.

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