Exame de Lula aponta manchas na laringe que requerem acompanhamento médico
Por Victoria Azevedo/Folha Press em 13/11/2022 às 08:00
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), realizou exames de rotina neste sábado (12), no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, antes de viajar ao Egito, onde participará da COP27, conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
Nos exames, foram apontadas inflamação das cordas vocais e leucoplasia na laringe, que é caracterizada por manchas brancas. Eles também mostraram “completa remissão do tumor diagnosticado em 2011”.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que a leucoplasia não é uma “emergência médica”, mas que requer acompanhamento médico, uma vez que pode evoluir para um câncer. As probabilidades de isso ocorrer, no entanto, são de cerca de 10%.
Segundo boletim médico divulgado pelo hospital na tarde de sábado, “foram realizados exames de imagens: ecocardiograma, angiotomografias e PET scan, que estão normais e seguem mostrando completa remissão do tumor diagnosticado em 2011”.
“O exame de nasofibroscopia mostra alterações inflamatórias decorrentes do esforço vocal e pequena área de leucoplasia na laringe”, completa o boletim.
O presidente eleito foi acompanhado pelas equipes médicas coordenadas pelo cardiologista Roberto Kalil Filho, que é seu médico, e por Artur Katz e Rubens Brito.
A assessoria de imprensa de Lula informou que ele deixou o hospital por volta das 14h30. O presidente eleito chegou ao local às 10h30.
Como a Folha mostrou em agosto, a rouquidão apresentada por Lula em atividades de campanha chegou a se tornar preocupação entre aliados. Segundo eles justificaram naquele momento, o excesso de rouquidão da voz tinha a ver com os próprios eventos e com um refluxo gástrico adquirido pelo petista. O presidente eleito faz exercícios com fonoaudiólogo.
Segundo o oncologista José Guilherme Vartanian, head de cabeça e pescoço do A.C.Camargo Cancer Center, a leucoplasia “não é uma emergência médica, mas é preciso acompanhamento de perto”, uma vez que ela é considerada uma “lesão potencialmente pré-maligna” e pode se tornar um câncer.
Ele cita três causas principais para a leucoplasia: tabagismo, etilismo e refluxo gastroesofágico.
Para ele, num primeiro momento, é preciso “tirar o fator causal”, ou seja, tratar o que pode ter causado a leucoplasia, e seguir com acompanhamento médico. Caso não haja melhora e seja avaliada a necessidade de uma cirurgia, o procedimento é de baixo risco.
“É uma cirurgia simples, de baixo risco. Geralmente, o paciente vai de alta [hospitalar] no dia seguinte. É simples e rápido”, diz Vartanian.
O pós-operatório, segundo ele, implicaria uma semana de repouso vocal e exercícios com fonoaudióloga. Ele diz que o impacto na voz do paciente depende da localização, na laringe, da leucoplasia.
O oncologista clínico do Grupo Oncoclínicas Pedro De Marchi, especialista em câncer de cabeça e pescoço e coordenador médico do Instituto Oncoclínicas, diz que o tratamento para a leucoplasia é “basicamente observação” e, caso possível, “ressecção da lesão”.
“Vai depender muito da localização, mas, em geral, essas lesões são passíveis de ressecções simples. Muitas das vezes endoscópicas.”
Ele afirma que o fato de um paciente discursar ou falar muito não interfere na chance de a lesão progredir para um câncer “de maneira alguma”.
E que, uma vez realizada a cirurgia e o paciente se recuperando dela, “não existe nenhum tipo de limitação” em relação à preservação da voz.
“A partir do momento que faz o procedimento, a voz pode ficar comprometida por alguns dias. Mas, quando cicatriza depois do procedimento cirúrgico e o paciente se recupera da cirurgia, vida normal. Nada específico em relação a discursar e falar, não existe nenhum tipo de limitação”, diz De Marchi.
Médico-chefe do serviço de cirurgia de cabeça e pescoço do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Marco Aurélio Kulcsar diz que, se a lesão for pequena, “nem alteração da voz tem”.
O profissional afirma que, com seus pacientes, uma vez diagnosticada a lesão, ele reavalia o quadro em 15 dias. Caso não haja melhora e considerando o tamanho e localização da lesão, assim como os antecedentes da pessoa, ele realiza a cirurgia.
No sábado, Lula estava acompanhado no hospital de sua esposa, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, e do deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP).
Nas redes sociais, Padilha escreveu que “os resultados foram ótimos” e que Lula está “firme e forte para mudar o Brasil”.
“O tumor que ele teve há 10 anos está em completa remissão e sua saúde está pronta para governar o país pelos próximos anos”, disse o parlamentar.
Padilha também compartilhou um vídeo no qual afirma que Lula tem as cordas vocais inflamadas de “quem falou muito, emocionou muita gente com seus discursos durante a campanha eleitoral”.
O boletim médico foi compartilhado por Lula nas redes sociais. “Hoje o presidente Lula fez exames de rotina antes da viagem ao Egito. Conforme boletim de sua equipe médica, o presidente eleito está pronto para os próximos compromissos na COP27. #EquipeLula”, dizia a publicação.
O presidente eleito deve embarcar nesta segunda-feira (14) para o país africano, palco da COP27.
Em um discurso a parlamentares de partidos aliados no auditório do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), sede do governo de transição, na quinta (10), o presidente eleito falou sobre sua participação na COP27.
“Já vou ter no Egito mais conversas com lideranças mundiais em um único dia do que o Bolsonaro teve em quatro anos. Uma das coisas que vamos fazer é recolocar o Brasil no centro da geopolítica internacional”, disse. “Vocês não têm noção da expectativa que o Brasil está gerando no mundo.”
No caminho de volta do Egito ao Brasil, o petista deverá desembarcar em Portugal para um encontro com António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, respectivamente, primeiro-ministro e presidente.
Na sexta (11), o petista passou o dia em sua casa, em São Paulo. Ele recebeu, pela manhã, o ex-chanceler Celso Amorim, seu principal conselheiro para a política externa.