Decreto da Câmara celebra caçadores na cidade mais ecológica do litoral de SP
Por Eduardo Velozo Fuccia/Vade News em 10/10/2025 às 11:00
Localizada no litoral sul de São Paulo e tendo em seu território boa parte da Reserva Ecológica Jureia-Itatins, com diversificada fauna e flora, Peruíbe é a Cidade das Aves. Apesar do título, agora ela celebrará os caçadores, por mais antagônico que possa ser. O fato gerou a insatisfação de ambientalistas e de parcela significativa da comunidade.
De autoria de dez dos 15 vereadores peruibenses, o Decreto Legislativo (DL) nº 7/2025, aprovado pela Câmara Municipal em 17 de setembro, instituiu o Dia do CAC (colecionador, atirador e caçador). A data será comemorada anualmente, no dia 10 de agosto, em sessão solene no plenário da casa legislativa.
Conforme o decreto, autoridades civis e militares serão convidadas para a comemoração. A sessão solene contará com a entrega de títulos de “CAC Destaque do Ano”, indicados pelos vereadores, “sendo contemplados aqueles que comprovadamente se destacaram no município de Peruíbe pela dedicação à atividade de colecionador, atirador ou caçador”.
Outro critério para a indicação do título, segundo o decreto, será a “contribuição à promoção do esporte, da segurança, da cultura ou de trabalhos sociais junto à comunidade”. As despesas com a execução do decreto legislativo “correrão por conta de verba orçamentária própria”, de acordo com previsão do artigo 3º do texto.

Foto: Divulgação
Contramão da vocação
“Peruíbe se destaca pelo turismo ecológico. O município é o principal destino de turistas estrangeiros que aqui vêm para realizar a observação de aves, não recebendo à toa o título de primeira Cidade das Aves do Brasil. Porém, infelizmente, a Câmara Municipal caminha na contramão dessa vocação”, declara a ativista ambiental Mari Polachini.
Engenheira agrônoma e moradora na cidade, Polachini integra o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema), o Conselho Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal (Combem), o coletivo Cidade das Aves, a Frente Ambientalista da Baixada Santista (Fabs) e o Movimento Contra as Agressões à Natureza (MoCAN).
A munícipe e ativista destaca que não fala apenas por si, mas também pelas entidades das quais faz parte. “Talvez faltem demandas importantes em nossa cidade, já que os nossos nobres representantes têm tempo de sobra para criar projetos como esse, ao avesso de tudo que buscamos para Peruíbe”.
Polachini reforça que homenagear caçadores em uma cidade “com mais de 50% do seu território ocupado por unidades de conservação” afronta o trabalho desenvolvido em prol do turismo ecológico. Segundo ela, um vereador que idealizou o decreto legislativo ainda trabalha pela volta dos rodeios em Peruíbe, banido pela Lei Municipal 4.095/2022.
Palavra da Casa
Por meio de nota enviada à Reportagem, a assessoria do vereador Adilson da Táxi Van (PSB), presidente do Legislativo peruibense, explica que a atividade de caçador se refere à caça de subsistência ou manejo de fauna, em conformidade com as autorizações e licenças ambientais emitidas por órgãos federais e estaduais.
“Não se confunde com a caça ilegal ou predatória, práticas que são repudiadas pela Câmara Municipal e por toda a sociedade”, ressalta o comunicado. O DL 07/2025 objetiva reconhecer e valorizar cidadãos que exercem atividades de colecionador, atirador e caçador de forma legal, regulamentada e responsável, acrescenta o informe.
Negando qualquer intenção de fomentar atividades prejudiciais ao meio ambiente e à fauna, a nota afirma que a Câmara Municipal “permanece atenta e atuante na proposição e aprovação de medidas que garantam a proteção de nossos ecossistemas e a manutenção do nosso patrimônio natural”.
Além do presidente Adilson da Táxi Van, são coautores do decreto que instituiu o Dia do CAC os vereadores Fabio Mariano (PL), Cristen Na Mira (MDB), Dr. Fernando Uraguti (PP), Gustavo Tamer (PSB), Pedrinho D’Lara (Avante), Julinho (União Brasil), Kaio Lima (Republicanos), Serginho Fonseca (PSDB) e Sérgio Teté (PP).
* Por Eduardo Velozo Fuccia/Vade News