Livro traz fotos inéditas da partida em que Pelé quebrou seu recorde de gols
Por Rodrigo Cirilo em 29/09/2023 às 16:00
Com imagens do repórter fotográfico Antonio Lucio (1930-2000), o livro A Goleada resgata a histórica vitória do Santos sobre o Botafogo-SP por 11 a 0, no Campeonato Paulista de 1964. No confronto, Pelé atingiu seu recorde de gols, foram oito, incluindo tentos de perna direita e esquerda, de cabeça e pênalti. Além disso, Pepe, Coutinho e Toninho Guerreiro balançaram as redes.
Em entrevista ao Santa Portal, a filha do fotógrafo e idealizadora do livro, Silvia Herrera, revela que encontrou as fotografias por acaso, em 2018, em um armário de madeira, onde seu pai guardava os equipamentos, as lentes e milhares de negativos.
“Foi surreal, havia aberto o armário dezenas de vezes e nunca tinha reparado naquele tubinho. Então, fui olhar na mesa de luz e vi que eram 11 gols e só dois jogadores branquinhos. Logo pensei, ‘será que Pelé marcou nove gols?’”, diz a pesquisadora cinematográfica, que se preparava para dar uma entrevista. “Eu perguntei para o produtor. ‘Que jogo foi 11 a 0 na Vila Belmiro?’. Nossa, ele quase caiu para trás”, completa.
Nem mesmo Pelé tinha visto as fotos de todos os gols, antes disso, os registros da partida se resumiam a imagens do placar e de um gol ou outro. Então, para relatar essa história, Silvia convidou os jornalistas esportivos Antero Greco e Roberto Salim. “Antero trabalhou comigo e com meu pai no Estadão, então a gente já tinha esse link. Já Roberto é um figuraça, um dos repórteres com a melhor agenda do planeta”.
As 88 imagens ilustram o ponto de vista de uma criança, que estava presente no estádio e detalhou o contexto e os momentos importantes da partida. “Tem todos os pormenores. Era um sábado chuvoso, o Botafogo tinha vencido o jogo anterior e o Paulista era muito importante na época”.
Personagens
O livro também conta com entrevistas, como a do Pepe, Negrelli e Lima. Além da do ex-goleiro do Botafogo-SP, Macedo, responsável por inúmeras defesas no confronto, que, antes de falecer, guardava o prêmio de melhor da partida, repassado por Pelé.
“O Pepe, que fez um gol olímpico no jogo, disse: Tá vendo? No dia que eu faço um gol olímpico, o Pelé vai lá e marca oito e bate o recorde de gols em uma partida. Ou seja, para ninguém lembrar”.
Enquanto Negrelli, conhecido como “Pelé do Vôlei”, era filho da cozinheira do clube e estava vendendo amendoim no estádio. “Tem foto dele criança. No livro, revelou que, quando não estava chovendo, subia na laje da social e jogava o refletor na cara do goleiro adversário”.
Já Lima, companheiro de quarto do Pelé, contou que, antes do jogo, eles fugiram da concentração para a Ilha Porchat, em um carro emprestado. Entretanto, na volta, o Rei quebrou o câmbio manual na praia, e eles tiveram que ir para a Vila Belmiro com a polícia.
“Segundo ele, foi um alvoroço, mas depois desse jogo, as pessoas começaram a brincar: E aí Pelé, não quer roubar o carro de mais ninguém não. Repetir a receita?”.
Relação com Pelé
Apesar de ser corintiano assíduo, Antonio Lucio amava Pelé e acompanhou diversos momentos da carreira do craque santista. Como a do livro Seleção Nunca Vista, que contém imagens da primeira concentração séria da Seleção Brasileira, de 1958, em Poços de Caldas (MG).
“Em 2013, estava andando de bicicleta e ‘ouvi’ ele falando comigo, querendo umas fotos antigas, quase caí. Eram as fotos da concentração, que geraram o primeiro livro, lançado em 2018”.
A paixão era tamanha que passou para Silvia. Aliás, ela estava com seu pai na coletiva de despedida do Pelé, em 1977, nos Estados Unidos. A jornalista relembra que, entre tantos repórteres, Antonio Lucio chamou a atenção do Rei, o chamando de Dico, seu apelido de infância.
“Ele olhou só para o papai, fiquei admirada. Pelé era maravilhoso, um homem lindo, né? Um porte incrível, presença, perfumado e super-bonito. Por causa dele eu achava que todos os reis eram negros. Além disso, em seguida, eu ganhei um gatinho, que dei o nome de Dico”.
Silvia conseguiu mostrar as fotos da goleada para Pelé em outubro de 2019, perto da comemoração do aniversário de 50 anos do milésimo gol, quando o Rei costumava abrir sua agenda para a imprensa.
“Foi incrível, consegui ver os olhos dele brilhando, ficou muito feliz. Combinei de presenteá-lo com o livro no aniversário de 2020, mas veio a pandemia. Contudo, as oito ampliações estarão em breve no Museu Pelé”.
Lançamento
Após quatro anos buscando recursos para colocar o livro à venda, Silvia, Greco e Salim realizaram o pré-lançamento do projeto na última terça-feira (26), no Museu de Futebol. O evento, que contou com a presença de Lima, seria apenas para imprensa e convidados. No entanto, os autores abriram a sessão ao público.
“Foi sucesso, uma fila interminável de gente. O evento inicio às 19h, já começou a chegar gente 16h30”.
Na pré-venda o valor era R$ 50,00, já em outubro, quando lançar oficialmente, o preço nas livrarias e Amazon será de R$ 75,00. Entretanto, Silvia revela que os autores não serão remunerados.
“O preço é baixo, porque foi feito via lei de incentivo. Não estamos recebendo nada, mas é um prazer ter um livro de qualidade”.
A jornalista disponibilizará 20% dos exemplares para bibliotecas e escolas públicas, além de divulgar a obra em palestras. “Já tenho algumas coisas marcadas. Preciso ir para Santos, um 11 a 0 é o que a torcida está precisando. Enquanto isso, vou escaneando os outros materiais que tenho aqui. É como um hobby”.
Serviço
A GOLEADA (Capella Editorial, 2023)
Patrocínio da Nachi Brasil, via Lei Rouanet
Fotografias de Antonio Lucio e textos de Antero Greco e Roberto Salim
180 páginas – Capa dura, português e inglês
R$ 75,00