Ana Marcela Cunha, da Unisanta, conquista ouro na maratona aquática em Tóquio
Por Marcela Ferreira/Santa Portal e Folha Press em 03/08/2021 às 20:31
Depois de três tentativas, enfim, a nadadora da Unisanta, Ana Marcela Cunha, conquistou sua primeira maratona aquática em Olimpíadas. Nesta terça-feira (3), a atleta concluiu os 10km em 1:59:30.8 para ficar com a medalha de ouro.
Ela completou a prova à frente da holandesa Sharon van Rouwendaal, com o tempo 1h59m31s7, e da australiana Kareena Lee, 1h59m32s5.
A prova teve início às 6h30 (18h30 em Brasília) e já com sol escaldante e temperatura de 29ºC. Ana Marcela, que optou por não se hidratar na primeira volta, começou na liderança.
Na segunda volta, a norte-americana Ashley Twichell passou à frente e apresentava uma frequência de braçadas superior: 46 ante 37 da brasileira por minuto. Após Ashley optar pela hidratação, Ana retomou a ponta, na terceira volta, e completou a primeira metade da prova na liderança.
A partir da quinta volta, a alemã Leonie Beck acelerou e ultrapassou Ana e Twichell. Logo depois, a partir do 8,8 km de prova, Ana aumentou o volume de braçadas e tomou a liderança da alemã.
É a segunda medalha do país em prova de maratona aquática nas Olímpiadas. Antes de Ana Marcela, Poliana Okimoto, também da Unisanta, conquistou o bronze nos Jogos do Rio-2106.
Desafios e apoios
“É meu quarto ciclo olímpico, vindo de uma não-classificação e uma frustração no Rio, e tive um amadurecimento muito grande para chegar até aqui. O que eu posso dizer é que acreditem nos seus sonhos e dêem tudo de si. Eu quero muito agradecer meu clube, meus pais, minha namorada, desejar um feliz aniversário para o Alan, agradecer muito ao Fernando”, disse a nadadora.
“Eu acreditei nisso, sonhava muito com uma medalha olímpica, e tem um gostinho especial e eu estou muito, muito feliz. Quero dizer que todos os brasileiros que ganharam medalha até agora foram um incentivo muito grande, principalmente o Scheffer e o Bruno. Minha família é a maior merecedora de tudo isso, são os seres humanos que fizeram eu ser quem sou hoje, e como eu, sempre acreditaram no meu sonho”, comemorou.
Ela ainda comentou sobre sua trajetória e agradeceu à Unisanta. “Saímos da Bahia em 2007 e eu fui muito acolhida pelo Marcelo Teixeira na Unisanta, e hoje eu estou de volta à casa, então é sempre muito gostoso ser a atleta que foi criada ali pela Unisanta. Todos os profissionais do COB também fizeram parte disso. Eu falei com o Fernando depois de uma série que eu fiz, e eu falei para ele que para ganhar de mim, teria que nadar muito. Sabia o quanto eu estava preparada. Fiz a minha prova, e uma coisa que eu aprendi é a ser feliz, eu estava muito feliz fazendo o que eu amo”.
Que momento! ??? pic.twitter.com/cSdcPajiFK
— Time Brasil (@timebrasil) August 4, 2021
Histórico
Em 2008, em Pequim, Ana, então com 16 anos, ficou na quarta colocação. Em 2012, na Olimpíada de Londres, acabou ficando de fora e, no Rio, um problema de saúde atrapalhou sua preparação, além de um acidente com sua garrafa de hidratação na última parte da prova. Um atleta derrubou o objeto e Ana acabou concluindo a prova na 10ª colocação e sem hidratar corretamente.
Foi aos dois anos de idade que Ana Marcela Cunha descobriu sua vocação para nadar. Na creche, por incentivo da mãe, Ana Patrícia Cunha, ela passou a praticar o esporte e aos 12 foi convocada para a Seleção Brasileira de Piscina. Posteriormente, em 2006, com 14 anos, ela já estava nas águas abertas.
Aos 17 anos, nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, na estreia da modalidade em Olimpíadas, conseguiu o quinto lugar na prova dos 10km. Em 2010, foi campeã da Copa do Mundo, eleita pela Fina, pela primeira vez, a melhor nadadora do mundo e também ganhou o Prêmio Brasil Olímpico, do COB.
No Mundial de Xangai 2011, chegou ao ouro da prova de 25km. Em 2012, sagrou-se bicampeã mundial. Já no último Mundial, em Barcelona 2013, foi prata na prova dos 10km e bronze na de 5 km.
Em 2014, decidiu correr atrás de uma nova meta — conseguir medalhas em todas as oito etapas do circuito da Copa do Mundo, e, assim, realizar um feito inédito, pois nenhum campeão havia chegado ao título tendo conquistado medalhas em todas as etapas. Objetivo alcançado e mais um título no currículo: foi escolhida pela Federação Internacional de Natação (FINA) como a melhor nadadora de maratonas aquáticas do mundo em 2014.
Ana Marcela Cunha entra para história
Aliás, no mesmo ano, também entrou para história ao bater o recorde dos 36 km da Travessia Capri-Napoli e garantiu o octacampeonato brasileiro.
O objetivo de 2015 foi mais do que alcançado. Ana Marcela Cunha carimbou seu passaporte para os Jogos Olímpicos do Rio em 2016, conquistou 11 pódios internacionais consecutivos e ainda trouxe a única medalha de ouro para o Brasil no Mundial de Kazan, na prova dos 25km.
Em dezembro, em noite de gala no Rio de Janeiro, todos os seus feitos foram reconhecidos pelo Comitê Olímpico Brasileiro – COB – que a declarou a melhor atleta do ano de 2015.
Em 2016, nos Jogos Olímpicos Rio 2016, era uma das favoritas ao pódio, mas devido a um problema com sua alimentação no meio da prova, terminou em 10o lugar.
No fim do mesmo ano, submeteu-se a uma cirurgia para retirada do baço que a deixou 2 meses parada.
Posteriormente, em 2017, a volta por cima. Recuperada, Ana Marcela conquistou três medalhas no Mundial da Hungria e entrou para a história ao se tornar a maior medalhista em mundiais da modalidade. No mesmo ano, a Fina também a elegeu como a melhor atleta do mundo pela quarta vez.
Classificada para a sua terceira olimpíada – Ana esteve em Beijing 2008 e terminou em quinto e no Rio em 2016 ficou em 10o.
Ana Marcela Cunha recordista em medalhas
Com 12 medalhas, Ana Marcela é a brasileira (entre todos os esportes) com maior número de medalhas em Mundiais. Com 23 vitórias em Copas do Mundo, é a maior atleta feminina da história e ultrapassou o alemão Thomas Lurz (já aposentado), com o ouro na etapa de Setúbal em junho de 2019.
Em 2020 – mesmo com a pandemia, Ana Marcela Cunha conquistou cinco ouros, duas pratas e um bronze em oito provas. A primeira prova do ano, antes da pandemia, foi a etapa de abertura do Circuito Mundial, que terminaria sendo a única do ano. A brasileira garantiu a medalha de prata em Doha, no Catar.
Depois disso, Ana Marcela voltou a competir apenas em setembro, quando nadou os 36 km da Travessia Capri Napoli, tendo ficado com a prata. Na semana seguinte, subiu ao lugar mais alto do pódio nos 10km da Travessia da Ilha Madeira. Ainda em setembro, a baiana foi à França conquistar mais duas medalhas no campeonato francês, uma de bronze e uma de ouro.