26/01/2025

Rússia toma cidade estratégica e ameaça mais uma região da Ucrânia

Por Igor Gielow/Folhapress em 26/01/2025 às 15:46

As forças de Vladimir Putin conquistaram neste domingo (26) Velika Novosilka, um dos principais centros da defesa de Kiev no sul e no leste do país. A tomada pode abrir o caminho para um ataque terrestre contra uma região que ainda não foi invadida na guerra iniciada em 2022.

A queda da cidadezinha, que tinha pouco mais de 5.000 moradores antes do conflito, vinha sendo cantada pelos dois lados desde o fim do ano. O avanço russo ocorreu de forma coordenada com o ataque na direção de Pokrovsk, importante entroncamento ferroviário e centro de produção de carvão para siderurgia mais a nordeste.

“Velika Novosilka é a última linha de defesa grande e centro logístico das Forças Armadas ucranianas na direção do sul de Donetsk”, resumiu na semana passada o Ministério da Defesa russo. Analistas de Kiev e de Moscou concordam.

O anúncio da queda foi feito pela pasta e não comentado pelo governo de Volodimir Zelenski. Na semana passada, o porta-voz militar na região dizia que a situação estava próxima do insustentável. O avanço ocorreu com infantaria sendo apoiada por forças mecanizadas de tanques e blindados.

Além de aumentar a possibilidade de colapso da defesa dos talvez 30% remanescentes da região de Donetsk em mãos ucranianas, há outras implicações da conquista da cidade. Ela pode possibilitar, pela natureza geográfica local, um ataque direto à área de Dnipopetrovsk, que até aqui só foi objeto de bombardeios.

Ela não está nos objetivos declarados de guerra de Putin, mas até aí Kharkiv (norte) também não e há forças russas combatendo nas bordas daquela região –noves fora haver até um livro infantil impresso com ajuda do Kremlin esperando para ser distribuído a crianças locais, como a Folha mostrou.

Dnipro, a capital regional, é uma importante cidade. Ela foi escolhida inclusive para a demonstração do novo míssil balístico russo, o Orechnik, que foi desenhado para guerra nuclear, no fim do ano. Além disso, a cidade natal de Zelenski, Kriiv Riih, fica por lá.

Além disso, a cidade conquistada serve de conexão para outra região, Zaporíjia, essa anexada ilegalmente pela Rússia ao lado de Kherson (também ao sul), Donetsk e Lugansk (leste). Uma fatia de talvez 15% de lá está sob controle de Kiev, e a chegada à fronteira facilita avanços.

O movimento de Putin no leste e no sul ucraniano ocorre enquanto ambos os lados tentam se posicionar ante a volta de Donald Trump à Casa Branca.

O presidente americano, visto como amplamente favorável aos russos numa negociação, tem elevado um pouco a retórica contra Moscou, exigindo um acordo e paz imediato. Putin não mordeu a isca e disse que segue aberto ao diálogo mediado pelos Estados Unidos, enquanto Zelenski sentiu o cheiro de queimado e passou a insistir na sua presença em qualquer mesa de conversas.

Tanto o russo quanto o ucraniano dizem que não há interesse na paz do outro lado, mas quem está com a vantagem em campo é o Kremlin, com seus avanços. Kiev tem focado em ataques mais duros contra a infraestrutura russa, como refinarias e fábricas, com seus drones e eventualmente mísseis ocidentais.

Mais um cabo é rompido no Báltico

Em outra frente de atrito entre Ocidente e a Rússia, a Letônia disse neste domingo que mais um cabo de fibra óptica submarino, desta vez ligando o país à Suécia sob o mar Báltico, foi rompido. “Determinamos que há mais provavelmente dano externo e ele foi significativo”, disse a premiê letã, Evika Silina.

A Otan, aliança militar liderada pelos EUA, montou na semana passada uma força-tarefa para lidar com os crescentes incidentes do tipo. Quase sempre a suspeita recai sobre russos ou chineses, seus aliados, em casos como o rompimento de cabos e oleodutos atingidos por âncoras de cargueiros.

Kremlin e Pequim negam, alegando paranoia politicamente motivada, mas o fato é que os episódios têm se intensificado. Há riscos adicionais, como quando na semana passada um avião de patrulha francês na região foi engajado pelo radar de disparo de mísseis de um sistema antiaéreo russo na região báltica de Kaliningrado.

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