24/02/2025

Após três anos, guerra Rússia-Ucrânia traz grandes desafios na reconstrução

Por Maria Clara Pasqualeto em 24/02/2025 às 20:00

Reprodução.
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Três anos após o início da guerra Rússia-Ucrânia, o conflito pode estar próximo do fim, mas a reconstrução do país liderado por Volodymyr Zelensky ainda deve durar décadas. Isso é o que apontam especialistas sobre o assunto.

A reconstrução da Ucrânia envolve aspectos como uma forte governança, evitar desvio de recursos e, sobretudo, ajuda estrangeira. O economista Luciano Simões deixa claro que não será uma tarefa fácil, e grandes investimentos serão necessários.

“A reconstrução da Ucrânia será um desafio complexo e exigirá investimentos bilionários. A guerra causou destruição em estradas, ferrovias, usinas de energia e habitação. O custo estimado de reconstrução já ultrapassa US$ 500 bilhões e pode aumentar conforme o conflito se prolonga. A Ucrânia dependerá fortemente de ajuda externa do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, União Europeia (UE) e EUA. O acesso a crédito será crucial, mas a dívida do país já é elevada”.

De acordo com Simões, a recuperação econômica dependerá da atração de investidores estrangeiros, algo que ele considera difícil em meio à instabilidade política e de segurança do país.

“Empresas foram destruídas ou paralisadas, reduzindo a capacidade produtiva do país. O setor agrícola, essencial para a economia ucraniana, precisará de incentivos e investimentos para reativar plantações e cadeias de suprimento. Mesmo após o fim do conflito, a presença de minas terrestres e infraestrutura danificada pode dificultar a retomada das atividades econômicas”, explica o economista.

O correspondente internacional da Globo News, Guga Chacra, mencionou, em palestra na Unisanta, o poder dos Estados Unidos na ajuda à Ucrânia.

“Sobre a Ucrânia, o (Joe) Biden era ultra apoiador do atual presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e havia dado bilhões de dólares em ajuda ao político ucraniano. O ex-presidente americano organizou essa aliança junto de países europeus a fim de apoiar a Ucrânia e isolar a Rússia, mas não conseguiram. Com o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a situação é positiva, pois disse que anunciaria o fim da Guerra. O problema é que o Trump adotou um discurso ‘pró-Putin’ e, agora, um discurso ‘anti-Zelensky’”.

Decadência econômica

O cenário da guerra não gerou impactos apenas à Eurásia, mas ao mundo inteiro. Segundo Simões, o cenário econômico global apresentou grandes prejuízos em diversos setores, incluindo os preços de alimentos.

“A Rússia é um dos maiores exportadores de gás e petróleo do mundo. As sanções impostas ao país levaram à redução da oferta de combustíveis, causando um aumento no preço do petróleo e do gás natural, impactando especialmente a Europa. Além disso, a Ucrânia e a Rússia são grandes exportadores de trigo, milho e fertilizantes. A guerra afetou a produção e a exportação desses produtos, impactando os preços globais de alimentos”.

Do mesmo modo, o economista menciona questões como a desvalorização de moedas estrangeiras, aumento de juros e desaceleração do crescimento econômico internacional.

“Bancos centrais, como o Federal Reserve e o Banco Central Europeu (BCE), aumentam os juros para conter a inflação impulsionada pelo conflito, elevando os custos de crédito e desacelerando o crescimento econômico global. O conflito também prejudicou a logística global, especialmente no Mar Negro, aumentando custos de transporte e frete. A valorização do dólar ocorreu devido à busca por ativos seguros, prejudicando economias emergentes endividadas em moeda estrangeira”.

Além disso, o economista destaca as áreas mais prejudicadas, em consequência ao conflito: energético, agropecuário e alimentos, indústria automotiva e eletrônica, transporte e logística.

“Empresas europeias altamente dependentes do gás russo enfrentaram aumento de custos operacionais. A busca por novas fontes de energia acelerou a transição para renováveis, mas gerou volatilidade nos preços”, justifica sobre o setor energético.

Na área agropecuária e de alimentos, Simões reforça que os dois países envolvidos no conflito respondem por cerca de 30% das exportações globais de trigo e 15% das de milho.

“O aumento dos preços dos fertilizantes impactou a produção agrícola mundial, gerando insegurança alimentar em países emergentes”.

Sobre a indústria automotiva e eletrônica, o economista aponta prejuízos até na produção de carros elétricos, como a Tesla, de propriedade de Elon Musk, que ocupa cargo estratégico no governo de Trump.

“A Ucrânia é um grande fornecedor de gás neon, essencial para a produção de chips semicondutores. A escassez afetou a indústria de tecnologia e automóveis. Empresas de veículos elétricos, como Tesla, sofreram atrasos na produção devido à falta de níquel e alumínio (fornecidos pela Rússia)”.

Por fim, o setor de transporte e logística também apresentou novos desafios com o bloqueio de rotas no Mar Negro.

“As sanções dificultaram o transporte marítimo e aéreo, elevando custos de frete e reduzindo a eficiência logística global. O bloqueio de rotas no Mar Negro afetou a exportação de grãos, forçando países a buscar alternativas logísticas mais caras”.

Relembre a guerra Rússia-Ucrânia

No dia 24 de fevereiro de 2022, foi declarada, oficialmente, a guerra Rússia-Ucrânia pelo presidente russo Vladimir Putin. Após três anos, a disputa continua, impactando não apenas as nações envolvidas, bem como o cenário socioeconômico mundial. As principais razões que levaram ao início da guerra são as possibilidades de inclusão da Ucrânia na Otan (Organização do Atlântico Norte) e a expansão militar do país.

Jéssica Grazi, professora de Relações Internacionais da Unisanta, explica que as nações russo-ucranianas já se apresentaram aliadas. Porém, uma série de fatores resultou na separação de ambas.

“A Rússia e a Ucrânia são países que possuem raízes históricas e culturais muito profundas. Inclusive, o próprio Putin já mencionou que ele se refere a ambos os países como ‘um só povo’. A Ucrânia fez parte da União Soviética, e, quando esta aliança se dissolveu, em 1991, a Ucrânia declarou independência. Apesar da nação ter mantido laços com a Rússia, começou a se aproximar do Ocidente”.

A docente menciona, também, a Ucrânia como um território essencialmente estratégico.

“Anos depois da eleição do presidente pró-Rússia na Ucrânia, Victor Yanukovych, houve conversas quanto à inclusão da Ucrânia na União Europeia e, também, na Otan. Com a aproximação da Ucrânia à Organização do Atlântico Norte, a Rússia temeu que sua influência sobre a Ucrânia fosse perdida. Ou seja, que perdesse seu acesso à passagem da Criméia, em Sebastopol, onde uma grande base naval russa está abrigada”.

A tentativa de realização de acordos por parte da Ucrânia, no entanto, é considerada como um dos principais motivos responsáveis por originar o confronto.

“Obviamente, a Rússia já tem receios, graças à expansão da Otan para o leste. Já em 2014, as conversações sobre os temas mencionados geraram ainda mais aflição à Rússia. Logo, o receio do cercamento da Otan à Rússia foi um dos principais motivos que levaram ao começo da guerra. Isto é, a invasão à Ucrânia”, destaca Jéssica.

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