Mesmo com falta de contêineres, Porto de Santos bate recordes, diz diretor do Centronave

Por Noelle Neves em 04/11/2021 às 11:35

A pandemia da covid-19 afetou diversos setores, inclusive o marítimo e portuário. Conforme o diretor executivo do Centronave, Cláudio Loureiro, um dos principais problemas é que o sistema não está preparado para atender uma demanda não prevista. Ele participou do III Congresso de Direito Marítimo e Portuário, que acontece entre hoje (4) e amanhã (5), no Sheraton Santos, na Aparecida.

“O Porto de Santos está batendo recordes. Temos uma demanda por exportação acima do que foi previsto, então não temos como aumentar a capacidade e faltam contêineres. A reposição, tanto dos contêineres, quanto dos navios se tornou impossível, porque a produtividade caiu. Houve aumento de demanda e necessidade de reposição, porque gerou uma sobrecarga na cadeia logística, não só na navegação. Forma fila ou atrasa porque não há escoamento ou fluidez de maneira interna”.

Loureiro destaca que o problema é originado pela pandemia, combinado pela recuperação da economia, gerado por destinos governamentais.

“Esses fatores estão fora do controle do armador. No entanto, preciso ressaltar que até setembro deste ano, batemos o recorde na encomenda de novos navios. Irão entrar em operação no ano que vem ou começo de 2023, visto que demora, em média de dois anos, na construção.

“A ociosidade hoje é de 1%. Temos grandes desafios, mas que são muito estimulantes. A navegação é uma indústria global. Se temos 40 ou 50 navios aguardando no Porto de Los Angeles, isso afeta a performance no Brasil. Além disso, é uma indústria transnacional, porque os recursos vêm de diversos países. As empresas sobreviventes da grande crise na navegação são aquelas que conseguiram reunir os recursos mais eficientes de melhor custo”, pontuou.

Situação portuária antes da pandemia

De acordo com o consultor da Solve Shipping, Robert Grantham, antes da pandemia, o quadro de armadores já estava consolidado e existiam três grandes alianças globais.

“Em torno de 60% da capacidade mundial da capacidade de contêineres está concentrado nas mãos de quatro armadores, uma verdadeira concentração de mercado. Antes, tudo estavam funcionando muito bem. Os fretes estavam normais e o assunto era o novo combustível, o combustível leve”.

Com a chegada da pandemia e o primeiro lockdown na China, o cenário começou a mudar. “Os armadores já consolidados conseguiram retirar a capacidade de mercado e sustentar os fretes em primeiro momento. A demanda foi administrada durante um tempo, mas com o aumento expressivo, os fretes começaram a subir”, explicou.

Adaptações na pandemia

A Assessora Jurídica do Sindicato dos Despachantes de Santos e da Feaduaneiros, Flávia Bentes, lembrou que o cenário de simplificação de procedimentos já estava em andamento desde antes da pandemia. No entanto, o período delicado trouxe um lado de esperança.

“No começo, tudo foi bastante difícil, principalmente pela falta de equipamentos de informática. Mas o comércio exterior não podia parar. Não houve paralisação, porque é uma categoria considerada essencial. Com o tempo, começaram as vistorias de maneira remota, muito positiva e inovadora. Além disso, temos certificados de origem digital, declaração única de importação e muito mais. Em 2022, com o fim dessa adaptação, consolidaremos ainda mais o que ficou de bom da pandemia”, concluiu.

III Congresso de Direito Marítimo e Portuário

O painel do III Congresso de Direito Marítimo e Portuário, que irá avaliar o passado, discutir o presente e, por ele, traçar estratégias para o Porto de Santos, debateu os Entraves Logísticos Decorrentes da Pandemia.

O presidente da mesa foi o advogado João Paulo Braun e a assessora do Senado Feral, Jacqueline Wendpap, mediou a discussão.

“O painel não interessa apenas advogados e pessoas do setor, é de interesse de toda a sociedade. Os contêineres revelam tudo que precisamos saber de uma sociedade. Se 90% das tropas comerciais do mundo acontecem via marítima, é justo dizer que o que tem dentro envolvem os hábitos de uma sociedade. Na pandemia, os contêineres mostraram isso”, definiu Braun.  

O evento, iniciativa da Associação Brasileira do Direito Marítimo (ABDM), está sendo realizado pela Universidade Santa Cecília (Unisanta) e Sistema Santa Cecília de Comunicação.

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