Professores destacam poder das HQs no processo de alfabetização

Por Laeticia Bourgeois em 11/10/2025 às 07:00

Foto: Freepik
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Muito além do entretenimento, as histórias em quadrinhos são uma ferramenta eficaz na alfabetização de crianças. Ao unir texto e imagem de forma lúdica, elas ajudam a despertar o interesse pela leitura, ampliam o vocabulário e facilitam a compreensão de narrativas, especialmente entre leitores iniciantes. 

Em uma geração marcada pela predominância do uso de telas, a leitura muitas vezes é deixada de lado, o que pode trazer dificuldades ao aprendizado, à interpretação de texto e à produção de atividades escritas. Neste cenário, as HQs surgem como uma alternativa para a estimulação da leitura e da criatividade.

As histórias em quadrinhos infantis são altamente lúdicas e possuem linguagem e recursos que captam a atenção da criança, de forma que o exercício da leitura se torna uma brincadeira, uma atividade prazerosa. “O principal benefício é a aproximação da criança da leitura por prazer, o que fortalece seu desenvolvimento cognitivo e sua criatividade”, explica a professora Daniela Marino.

A junção dos desenhos com os textos dos balões possibilita maior imersão e identificação das crianças com os personagens. “Isso favorece sua conexão com a história, mantendo a criança interessada no que vai acontecer, possibilitando que ela faça deduções, crie hipóteses e interaja com as obras”, enfatiza a professora.

Quadrinhos são eficazes em todas as etapas da alfabetização, pois auxiliam no desenvolvimento dos alunos. “Muitas vezes as palavras que são ouvidas ou lidas em contextos que são muito distantes da realidade dos alunos, acabam não fazendo muito sentido. Ao observar como essas palavras são significadas por meio das imagens, o aluno compreende seus sentidos e os internaliza de maneira mais duradoura, pois ao se conectar com a história, ele também mobiliza afetos que serão associados à experiência positiva de leitura”, explica Daniela. “Para cada fase, é possível trabalhar de várias formas o uso dos quadrinhos.”

As HQs podem ter funções bastante diversas de acordo com as intenções e a criatividade do professor, bem como os objetivos da aula. A produção das histórias pode partir diretamente dos alunos, e geralmente os resultados são bastante positivos. “Já trabalhei em oficinas e acompanho o trabalho de muitos colegas que transformam sua experiência em artigos de relatos. Os resultados são sempre muito positivos porque os quadrinhos possibilitam que os alunos contem suas vivências a partir de perspectivas que nem sempre são valorizadas. Isso promove melhora da autoestima, sensação de autonomia, reflexão crítica sobre seu processo criativo”, relata a profissional. 

Algumas das habilidades que podem ser devolvidas por meio da leitura ou mesmo da criação de HQs incluem: articulação de repertórios distintos dentro de uma mesma narrativa, possibilidade do desenvolvimento de um pensamento crítico e estimulação da criatividade, que promove maior autoconsciência e empatia. A organização da história possibilitaria uma escrita mais coesa e coerente, o que contribui também para a estruturação do pensamento.

Na maioria das vezes, a reação dos alunos à introdução desse tipo de leitura é de entusiasmo, justamente por ser um meio relacionado ao lazer e não à obrigação. “Os estudos sobre as aplicações pedagógicas das histórias em quadrinhos evidenciam que as reações dos alunos, em sua grande maioria, são de entusiasmo e alegria, porque os quadrinhos são associados ao lazer, enquanto a leitura de textos literários ainda é muito vinculada à obrigação”, conta Daniela. 

Em contrapartida, a reação do corpo docente e órgãos normativos de educação representam desafios na implementação do uso de HQs no processo de alfabetização. Persistem o preconceito e a ignorância sobre o potencial dos quadrinhos,além da falta de incentivo de coordenadores e diretores. Há ainda a falta de interesse dos professores em se aprofundar no tema, muitas vezes devido à sobrecarga de trabalho que enfrentam, além da ausência de políticas públicas de democratização do acesso aos quadrinhos. 

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