23/10/2025

Com reservatórios no limite, cidades do interior de SP decretam emergência e buscam fontes alternativas

Por André Fleury Moraes/Folhapress em 23/10/2025 às 11:02

Divulgação
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O prolongado período de estiagem que São Paulo enfrenta tem levado prefeituras paulistas a decretar emergência hídrica e buscar fontes alternativas de captação ante os baixos níveis dos reservatórios.

O problema atinge também represas de hidrelétricas da bacia do Rio Grande, responsável por 25% da energia produzida no subsistema Sudeste-Centro-Oeste do país. O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) diz que monitora a situação.

Na região de Sorocaba, Mairinque obteve na terça-feira (21) outorga emergencial do governo paulista para captar água em um ribeirão ligado à represa de Itupararanga. A medida tem validade de 90 dias e busca minimizar a seca que atingiu o reservatório nos últimos meses.

A cidade de Várzea Paulista (na região de Jundiaí) também buscou fontes alternativas no mês passado após problemas no abastecimento.

A solução encontrada pela Sabesp, concessionária do município, envolveu a abertura de novos pontos de captação para reduzir oscilações na distribuição de água -em um comunicado, a companhia se desculpou com moradores por intermitências na rede. Em nota, disse que a situação já se normalizou.

Em Americana, o decreto de emergência hídrica publicado em 30 de setembro para combater problemas no abastecimento permanece vigente. O município é abastecido pelo rio Piracicaba e também enfrentou problemas na distribuição de água às residências, o que levou a cidade a lançar um projeto de combate a perdas.

Também editou decreto semelhante a cidade de Amparo. A gestão municipal afirma que a medida decorre “da redução de captação de água bruta e consequentemente da diminuição do volume de água potável à disposição da população”. Na época, o rio Camanducaia estava com níveis críticos de vazão.

O município afirma promover investimentos recordes no sistema de saneamento e que aguarda liberação de R$ 40 milhões para construir uma Estação de Tratamento de Água.

Há locais antes críticos onde o abastecimento de água ganhou fôlego após chuvas registradas na metade de outubro.

É o caso de Bauru (SP), que enfrentava desde agosto um duro racionamento de água e viu a situação se normalizar somente após fortes chuvas na metade de outubro. O monitoramento do reservatório continua, diz a autarquia responsável pelo setor.

O período de estiagem impacta também reservatórios de hidrelétricas da bacia do Rio Grande, na divisa de São Paulo com Minas Gerais, que responde a 25% da produção hidráulica do Sudeste e Centro-Oeste. Quatro represas compõem o sistema, três das quais funcionam com volume inferior a 40%; dessas, duas estão abaixo de 30%.

O reservatório mais crítico é o de Água Vermelha, na divisa dos estados, que opera com 24,5% da capacidade. Na sequência vêm os de Marimbondo (29,11%) e Furnas (36,65%), ambos administrados pela Axia Energia (ex-Eletrobras). A companhia afirma que o volume está dentro do esperado para o final da estiagem e que iniciou projetos para recuperar áreas degradadas na região.

O Operador Nacional, por sua vez, diz que faz monitoramento contínuo do cenário e indica, quando necessário, “ações adicionais ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico”.

Afirma ainda que o principal desafio para a transição do período seco ao chuvoso “é o atendimento à ponta de carga, horário em que a demanda atinge valores elevados”.

O problema, afirma, é que isso pode implicar também no aumento de gastos. “Nesse cenário de seca prolongada, pode ser necessário o acionamento de maior quantidade de usinas termelétricas, o que tende a aumentar o custo da operação.”

O ONS disse ainda que a diversificação da matriz energética “permite a utilização dos recursos das outras fontes disponíveis aproveitando ao máximo cada fonte” e que o Sistema Nacional Interligado tem “diversos reservatórios de regularização que permitem o armazenamento das afluências do período chuvoso para uso no período seco”.

Na capital paulista e região metropolitana a situação é também delicada.

A SP Águas, agência reguladora do estado, editou no final de setembro decreto de escassez hídrica que suspendeu novas outorgas nas bacias do Alto Tietê e do Rio Piracicaba. A medida veio na esteira de um anúncio feito pela Sabesp de redução na vazão de água durante o período noturno.

Em nota, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que menor pressão à noite evitou o consumo de 25 bilhões de litros d’água, “volume equivalente ao consumo somado de Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá durante dois meses”.

O Sistema Integrado Metropolitano, gerenciado pela Sabesp e que reúne os sete mananciais que abastecem a capital paulista e arredores, operava nesta quarta-feira (22) com 29,1% da capacidade.

O baixo volume é puxado pelos baixos níveis em que se encontram os sistemas Alto Tietê e Cantareira, maiores reservatórios do complexo. O primeiro registrava nesta quarta 23,1% de reservação, o menor volume desde dezembro de 2015. O segundo, cuja vazão está reduzida desde o decreto de escassez hídrica, com 24,6%.

O estado afirmou que atua para viabilizar investimentos estruturantes para reforçar a segurança hídrica na Grande São Paulo, incluindo novas interligações e a ampliação do Sistema Integrado Metropolitano.

Gerente nacional de águas da ONG (Organização Não Governamental) The Nature Conservancy Brasil, o biólogo Samuel Barreto diz que municípios, com apoio de demais entes federativos, devem buscar projetos de captação alternativa de forma preventiva, e não emergencial. “Não dá para ficar rezando para São Pedro quando vem a crise”, afirma.

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